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Arautos do Estendal

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Arautos do Estendal

10
Jul08

Perspectivas para um fim-de-semana de Julho

pickwick

Mensagem recebida por e-mail, da autoria de um leitor deste blogue, traçando perspectivas aliciantes para o fim-de-semana que se avizinha.

 
Os calções, a toalhinha, a chouricinha... e o abre latas :-)
 
Pois é, que no sábado, após a devida verificação em casa do P para necessária certificação da qualidade do conteúdo das mochilas, é ir em direcção a cotovelo do
Paivó (ai que até já tou com dor de cotovelo) a ver se lá chegamos sem ajuda de GPS (quem é que não leva a bússola desta vez).
 
Aí, meus amigos, é ver a dor de cotovelo descer pelos pés abaixo enquanto não se chega a Drave para os pôr a refrescar na ribeira de Drave (naquela lagoazeca logo a seguir a ponto... vocês poluem o ambiente que eu fico a fazer poluição sonora na relvinha que lá cresce!).
 
Bom, ok, para os mais destreinados, e se rezarem muito ao santo adequado, talvez a tasquinha de Regoufe - que só uma vez vi aberta - nos faça o milagre de estar aberta pela segunda vez da minha vida!
 
Ah... mas pensavam que a coisa por aqui acabava! nã nã, agora é que a aventura começa... de ir pela ribeira de Drave abaixo (para quem não conhece é um dos ribeiros mais mortíferos de Portugal continental, que muita formiga já por lá se perdeu (sim, sim, leram bem, não se afogou, mas se perdeu) ao tentar atravessá-la por entre aqueles calhaus todos. A ver se encontramos um sitio acolhedor (com alguns mosquitos e outros ursos das cavernas) nas suas bermas para dar vazão a tenta energia desperdiçada.
 
Para quem conseguir acordar no dia seguinte, a paisagem não terá muito mudado, será sempre calhau abaixo... único cuidado, é virar na primeira a esquerda para ir ter até ao caudaloso rio Paivó, e não na primeira a direita para ir ver se a tasquinha de Regoufe também está fechada aos Domingos.
 
Consoante a hora de chegada... e o número de sobreviventes... talvez se arranjem umas maminhas de vaca para fazer passar as mazelas! (seus depravados! no que é que já estavam a pensar... É MESMO MAMINHAS DE VACA!!!)
 
Acho curiosa a referência às partes íntimas do bovídeo do sexo feminino, em especial quando o contexto desta referência se subordina a circunstâncias de extremo cansaço, sede, fome e desorientação psicológica. Na humildade da minha capacidade de entendimento, fico sem perceber a diferença entre “maminhas de vaca” e “mesmo maminhas de vaca”. Com “mesmo” ficam maiores e mais rechonchudas? Ou são daquelas descaídas até ao umbigo? Domingo veremos. pickwick
21
Out07

Fábula erótica – volume três

pickwick
Magufas, a esbelta lontra que despertou na vaca Rebomilda todo o erotismo da sexualidade lésbica, havia desaparecido sorrateiramente ribeiro acima. Subiu-o todo, até à nascente, e, depois, cortou a atalhar por montes e vales e ribeiros e rios e rias, em direcção ao pôr-do-sol, até chegar ao mar, ali para os lados da praia da Vagueira. A viagem durou vários dias, claro está, mas valeu a pena. Tanta areia, tantas dunas, tanta água salgada. Que luxo! Magufas chegou e descansou durante cinco dias, alimentando-se de caroços de azeitona e pastilhas elásticas deixados pelos porcos dos banhistas humanos. Quando se preparava para abalar, em busca de novo destino, já recuperada das forças, apareceu um caranguejo.
- Olá, meu nome é Adalberto, mas os meus amigos me chamam de Safado, e sou um caranguejo do Brasil.
- Oh, filho, safado? Ho, ho, ho…
- Oh, gata, ‘tão? ‘Tá duvidando?
- Nãoooooooo…. Claro que não!
- Você ‘tá a fim de checar?
- Checar o quê, pá?
- Se sou mesmo safado, podemos ir ali às dunas transar um pouco e eu mostro para você porque meus amigos me chamam de Safado.
(A lontra, que não tinha tido relações com nenhum animal desde a vaca Rebomilda, pensou na sua vida. Ali estava um animal asqueroso, de carapaça dura, a pavonear-se de não sabia bem o quê. Valeria a pena? Seria ele capaz de saciar a sua fome sexual depois de tantos dias de jejum? Aquelas pinças não pareciam muito simpáticas.)
- Não ‘teja olhando minhas pinças. Não vou tocar em você com elas.
- Ai não?
- Não preciso. Venha daí. Vou mostrar para você.
(Lontra e caranguejo subiram a duna mais próxima e mergulharam numa pequena depressão de areia, longe dos olhares alheios. No centro, uma toalha axadrezada acomodava três bananas e um frasco de protector solar.)
- Deita aí na toalhinha, deita!
- Então? Assim sem mais nem menos?
- Ué! ‘Tá bancando de envergonhada agora? Deixa isso p’ra lá, gata.
- Olha, não sei se já reparaste, mas não sou uma gata. Sou uma lontra de pêlo lustroso e chamo-me Magufas, está bem?
- Como você quiser, Margarida.
- Magufas!
- Isso, vá, vai deitando.
(A lontra olhou com ar reprovador para o caranguejo que lhe sorria com ar matreiro)
- Vá, se deite, gata.
(Magufas ajeitou-se na toalha, olhou em redor para ver se estava a ser observada e abriu os quartos traseiros, expondo-se completamente ao caranguejo. Este, com o sorriso aberto, pegou no frasco de protector solar e inundou as partes íntimas da lontra, provocando-lhe um inesperado arrepio de prazer.)
- Hum… - gemeu a lontra, ainda ligeiramente envergonhada.
(Com mestria, o caranguejo puxou de uma banana com as suas pinças e penetrou a lontra, com suavidade, mas firmemente. Esta, gemia, obviamente deliciada. Às tantas, as pinças do caranguejo já haviam esmagado a banana em vários sítios e o Safado viu-se obrigado a puxar de outra banana, tendo o cuidado de quase não interromper o delírio da lontra. O mesmo aconteceu com a segunda banana, findos quase seis minutos. E veio a terceira e última banana. O prazer era imenso e o caranguejo parecia divertidíssimo com aquele momento. Os gemidos, os olhos revirados, as mandíbulas a tremerem, a cauda agitada, enfim. A dado momento, já a terceira banana estava a uso há cerca de dois minutos e meio, surgiu nos céus uma sombra. Antes que se desse conta, uma gaivota mergulhou, fez um voo rasante à toalha e abocanhou o caranguejo, levando consigo restos de banana pelos ares, que acabaram por cair um pouco mais à frente, sujando a areia. A lontra ficou que nem podia. Ainda tentou mexer com as patas nos restos de banana que lhe ficaram dentro do corpo, mas já não serviu de muito, pois faltava o mestre, o encantador de bananas, o Safado. A lontra rebolou na toalha, até à areia, e por ali ficou, a olhar o céu, azul, por onde tinha desaparecido o caranguejo, agora repasto de uma estúpida gaivota. Que sensação! Que prazer! Cerca de três horas depois, Magufas meteu-se ao caminho, pelas dunas, em direcção ao Norte. Haveria mais caranguejos como aquele? Só o destino saberia dizer. pickwick
09
Out07

Fábula erótica – volume um

pickwick

Rebomilda era uma vaca leiteira, malhada, de porte majestoso, que passava os dias a pastar num lameiro na Serra da Freita, perdido num bonito vale verdejante. O facto de apenas pastar erva saudável e natural, evitando assim uma alimentação rica em porcarias sintéticas e industriais, permitia a Rebomilda ostentar um corpo fibroso e, quiçá, elegante. O sobe e desce no lameiro, a dificuldade inerente a progredir em terreno lamacento e a água natural abundante, contribuíam para essa elegância e fibra. Era, a bem dizer, aquilo a que se podia chamar uma bela vaca. Jeitosa, portanto. Certo dia de verão, em que o calor teimava em secar tudo o que não tivesse ao fresco, chegou ao vale verdejante uma esbelta lontra, de nome Magufas, com o pêlo lustroso e olhinhos bonitos. Chegou até ali subindo o ribeiro, saltitando entre penedos, calhaus e poças. Fez uma curva à esquerda, num raquítico afluente do ribeiro, subiu um pouco, e chegou ao lameiro da Rebomilda. Que verdura! Que paz! Que beleza! Uma nascente natural lançava um fio de água pelo lameiro abaixo, até ao ribeiro. Um enorme castanheiro, de braços longos e milhares de folhas, lançava uma apetitosa sombra sobre a erva húmida. Vendo Rebomilda ao fundo do lameiro, Magufas não fez cerimónias e dirigiu-se à vaca.

- Olá! Bom dia! Eu sou a Magufas e vim pelo ribeiro acima.

- Olá! Eu sou a Rebomilda. Como é que conseguiste subir o ribeiro sozinha? És tão pequenina!

- Oh, sou pequenina, mas oriento-me bem. Enquanto houver água, eu safo-me.

Rebomilda correu o corpo humedecido da lontra, de cima a baixo. Aquele palmo e meio de bicho parecia tão confiante. E tão engraçado. Que olhos tão giros.

- Então e vives aqui? – perguntou a lontra.

- Bem, passo aqui os dias, sim. De vez em quando, o meu dono vem mexer-me nas tetas e rouba-me umas dezenas de litros de leite. Eu não gosto muito.

- É melhor eu ter cuidado com o teu dono. Não me está a apetecer muito que ele me apanhe de surpresa e me mexa nas tetas para me tirar leite.

- Quais tetas?

- As minhas!

- Também tens tetas? – Rebomilda inclinou a cabeça, tentando espreitar para a barriga da lontra.

- Claro. Sou uma gaja! Uma lontra gaja! Por isso, tenho tetas!

- Oh, mas não te preocupes, o meu dono não vai perder tempo a tentar tirar-te leite. Daria muito trabalho e renderia quase nada. Ele quando vem para tirar leite é sempre para ir carregado.

- Mas podia querer meter-se comigo, se fosse tarado ou assim. Não gosto que me apertem as tetas à bruta.

- Bem, ele é assim um bocado tarado. Às vezes, quando vem com o nariz muito vermelho, põe-se a falar comigo, a fazer-me festinhas e a chamar-me Catarina. Não é que ele seja bruto, mas eu não gosto de sentir mãos calejadas em cima do meu corpo.

- Ah, pois é, mas sabes que mãos de macho são assim mesmo. Além de grotescas, não têm sensibilidade.

- Gostava que ele fosse um pouco sensível e me apertasse as tetas com mais delicadeza.

- Claro, até porque as tuas tetas são muito bonitas e é um crime maltratá-las.

- Achas?

- O quê?

- Que as minhas tetas são bonitas.

- Ora, claro que sim, notei isso logo que te vi. As tetas e não só.

- Ai… estás a deixar-me envergonhada…

- Não vale a pena ficares envergonhada. É um facto que és uma vaca muito gira, tens um corpo muito sensual, não és gorducha nem mal feita.

- Achas mesmo?

- Claro que sim.

- Bem, tu também…

- Sim…?

- Tu também.

- Eu também o quê?

- Oh, também és uma lontra muito gira, muito elegante, com uns olhos muito giros.

- Obrigada!

- Então e vais ficar por aqui?

- Estava a pensar passar aqui uns dias, aproveitar a paisagem, descansar, dormir umas sonecas e aproveitar a tua companhia. Achas bem?

- Ai, acho muitíssimo bem. Era excelente! Isto aqui é uma seca muito grande, passar os dias sozinha, de um lado para o outro. De vez em quando aparece uma raposa, para dar dois dedos de conversa.

- Ui, uma raposa? Eu adoro raposas! São tão… tão…

- Tão o quê?

- Eh pá, tão sexy!

- Sexy?

- Sim. Muito! Aquele focinho, aquela cauda sensual. Há três semanas atrás passei uns dias com uma raposa chamada Mimi. Conheces?

- Não, aqui perto só vive uma chamada Ana Teresa.

- Essa não conheço. Bom, mas a Mimi é uma doida! Passámos o tempo todo ora na toca dela, ora num charco. Fazíamos amor de meia em meia hora. Que maluca!

(silêncio no lameiro)

- Fizeste amor com ela?

- Sim. Foi tão bom! Nunca tinha experimentado, nem com uma raposa, nem sequer com uma lontra fêmea. Mas, adorei!

- Então e…

- Então e o quê?

- E é assim tão bom?

- Nunca experimentaste com outra vaca?

(continua) pickwick

29
Ago07

Maria H., és uma vaca

pickwick

No “Conta Coisas” conheci a Carlinha. Bom, “conheci” não é o termo mais correcto, dada a minha pouca predisposição para a conversa com raparigas desconhecidas vestidas de preto, por mais simpáticas que sejam. Aliás, minha falta de predisposição para a conversa aplica-se a quem quer que seja, vista preto ou branco. Deve ser um qualquer trauma de infância. Seja como for, a Carlinha é autora de dois livros, o que é muito bom, já que eu sou autor de zero livros. Um dos livros chama-se “Estrela Sem Norte” e é “composto por poemas, caracterizados por uma certa soturnidade e melancolia, quase como um reflexo do lado mais negro da vida”. Eu gosto especialmente da parte do lado negro da vida. Fascina-me, pronto. O outro livro chama-se “Alma de Fogo” e é uma história de fantasia, envolvendo magia, amor e vingança, num universo completamente diferente do nosso, onde quase tudo é possível. Gosto particularmente da parte da vingança, a tal que se quer servida fria. Pessoalmente, não gosto de poesia. Faz-me bocejar, pronto. Não critico, mas não tenho paciência. Embora haja momentos, claro. Se for necessário, também escrevo poemas, e, se tiverem que ser sobre o lado negro da vida, ui!, no problem, também cá se arranja! Para o provar, e também como um tributo à Carlinha, que é uma miúda simpática, vou compor já de seguida um poema sobre o lado negro da vida. Aqui vai. 

Maria H., és uma vaca

 

És uma vaca, por certo,

Tão certo como o vermelho do sangue

Que fizeste escorrer do coração do teu maior amor.

 

Queres tanto dos homens,

Como os homens querem de um Porsche,

Mostrar, exibir, passeá-los pela rua.

 

Não olhaste a sentimentos,

Não olhaste ao coração alheio,

Não olhaste a nada, para além de ti.

 

És uma vaca, portanto.

Com um lado mais negro

Que uma vaca alguma vez poderia ter.

 

Trocaste o amor

Pelo espelho de valores vazios,

Pelo retrato que a sociedade demanda.

 

Trocaste o amor

Pela falta dele, pela sua aberração,

Pelo desprezo do teu companheiro.

 

Trocaste o amor

Por uma obrigação,

Por um estatuto.

 

Enfim, és uma vaca,

Porque preferes o material

Em detrimento do sentimental.

 

E, tal como as vacas têm sorte,

Tu também a tiveste,

Em abundância.

 

Tiveste sorte, muita sorte,

Porque, se o teu amor fosse eu,

Esperava-te aí, numa rua escura,

Enchia-te de pancada,

Partia-te os dentes,

Arrancava-te os cabelos,

Furava-te os olhos,

Quebrava-te uma rótula,

Esborrachava-te o pâncreas,

Chamava-te vaca,

E deixava-te para aí,

Caída, moribunda,

A chorar, a mugir,

E ia comer umas febras com batatas fritas.

(este poema é dedicado a um amigalhaço, que muito sofreu com o lado negro - muito negro - de uma mulher) pickwick