Dez coisas que hoje me irritaram...
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the way I see it the way I feel it
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leite condensado às colheradas
lângerri
Breve manual de instruções para conseguir desenhar uma linha torta numa manhã de domingo:
1. Senta-te numa mesa ampla e prepara-te para trancar a tinta vermelha as quase quarenta provas do exame nacional de matemática que te calharam na rifa, a onze páginas cada uma.
2. Decide intercalar cada prova com uma série de levantamento de pesos, por causa das cócegas.
3. Lá para a oitava prova e outras tantas séries, és apanhado de surpresa pelo agradável ti-ti do telemóvel, sinalizando a recepção de uma SMS.
4. Afinfa o telemóvel com três dedos e sorri, pois é uma SMS da miúda por quem estás completamente pelo beicinho, provavelmente desejando um bom dia a trancar provas.
5. Abre a SMS e descobre que, afinal, não é um desejo de bom dia, mas, antes, um singelo depoimento expressando uma grande vontade que ela sente de te beijar.
6. Toma consciência de que o sorriso parvo com que ficaste não irá desaparecer nos próximos sessenta minutos.
7. Sem pingo de consciência, regressa à oitava prova, convencido de que continuas concentrado.
8. Uma força misteriosa desvia-te a caneta do caminho dos justos e atropela meia equação.
9. Descobre que: a) a força misteriosa, afinal, não foi mais do que uma quase imperceptível pocinha de baba viscosa que te caiu da beiça quando leste a SMS; e que, b) matematicamente, a intersecção de uma linha vermelha com uma poça transparente resulta numa mancha de “nhanha” alaranjada.
10. Qual bombeiro de secretaria, socorre a situação lançando papel higiénico sobre o acidente, para absorver o líquido.
11. Complementa a acção com um golpe genial de tinta correctora branca, como se fosse um spray, e repara como, em alguns microlocais, a brancura apenas diluiu a “nhanha” alaranjada que não tinha secado ainda, transformando-a em “nhanha” salmão-desmaiado.
12. Um rasgo de lucidez atinge-te o cérebro e ocorre-te que não se usam porcarias destas em provas nacionais.
13. Soluciona a questão de forma exemplar, puxando do canivete suíço e raspando o agora naco seco de tinta correctora com algumas tonalidades salmão-desmaiado.
14. Assim que o naco se soltar, levando consigo pouco mais de dois centímetros quadrados de papel de prova e deixando um medonho buraco, expande as tuas mandíbulas num esgar de pânico, enquanto o cérebro se desmultiplica em estratégias de remediação e soluções milagreiras.
15. Ao fim de alguns minutos de intensa actividade cerebral, conclui que no dia seguinte terás que ir desencantar uma prova virgem e nela reproduzir integralmente todo o conteúdo da prova danificada, incluindo os gatafunhos do/a aluno/a, as assinaturas dos professores vigilantes e a parte da equação que ficou colada no naco de tinta correctora.
Nota do editor: a partir do oitavo passo, inclusive, as instruções correspondem a pura ficção e resultam somente da fértil imaginação do autor. pickwick