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Arautos do Estendal

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Arautos do Estendal

26
Mar12

A malta sem dois dedos de testa

pickwick

Nunca se sabe quando é feita uma nova descoberta. Aliás, a imprevisibilidade é como que um apêndice de qualquer descoberta. É isso que adoça o desafio de descobrir novos mundos, novos conceitos, nova gente.

 

Outro dia, conheci uma moça da minha idade. Elegante, simpática, a transbordar fofura. Que interessante, pensei eu. Conversa puxa conversa, e a seguir à leitura dos livros veio a escrita dos mesmos. Neste alinhamento de conversa, achei por bem partilhar a existência deste blogue, cuja leitura agrada a um núcleo muito restrito de portugueses. Partilha arriscada, eu sei, eu sei…
 
A reacção da moça foi muito franca, por isso louvável:
“Sem comentários… É com estes textos que pretendes editar um livro? Este tipo de literatura não interessa a ninguém com dois dedos de testa, mas como a maioria não os tem, vais vender milhares… tens imensos exemplos em Portugal…”

 

E nunca mais falou comigo.

 

Portanto, existe, nestes comentários, um insulto discreto aos leitores deste blogue, e outro, mais generalizado, ao povo lusitano, que já conquistou meio mundo mas que, nos tempos que correm, prefere ser conquistado e levar uns apalpões no rabo enquanto lhe metem a mão no bolso. Por outro lado, há um claro incentivo pessoal, muito esperançado, à publicação dos textos deste blogue como literatura para gente menos prendada pela Natureza.

 

Se eu escrevesse alguma coisa de jeito, estava condenado ao fracasso editorial. Escrevendo disparates, para gente sem dois dedos de testa – a maioria do povo, o sucesso é quase garantido. Gosto desta abordagem, de facto.

 

Tenho pena que a moça tenha deixado de falar comigo. O verão aproxima-se e eu estava cheio de curiosidade anatómica. Havia, ali, muita qualidade estética. Cabelos longos e escuros. Uma projecção de elegância a curto prazo, assim que ela perdesse os 10 quilinhos que tinha adquirido inadvertidamente. Até estávamos a combinar eu levar-lhe daqui um queijinho da serra, para a ajudar a perder os quilinhos a mais. Depois, só o céu seria o limite.

 

Mas, convenhamos, mesmo sem o blogue, em pouco tempo deixaríamos de ter assunto de conversa, mal ela descobrisse o meu défice intelectual a partir de uma qualquer piadinha sem jeito ou uma abordagem menos convencional ao dia-a-dia. A vida tem destas coisas, destas dificuldades, destes obstáculos.

 

O meu futuro, contudo, é que começa a desenhar-se com alguma nitidez. Será, eventualmente, num relacionamento sério (tipo Facebook) com uma moça sem dois dedos de testa, que faça parte daquela maioria dos portugueses que não têm dois dedos de testa. Ou seja, tendo por base um determinado mito urbano e a teoria das probabilidades, corro sérios riscos de ver subitamente concretizado o meu sonho de namoriscar uma loira! Nada mau! pickwick