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Arautos do Estendal

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Arautos do Estendal

05
Ago06

pickwick: Toda a verdade

riverfl0w
Ele também é jornalista. Mas é segredo. Isto porque descontar como professor e jornalista faria uma grande mossa no Imposto sobre Rendimentos Singulares, o que poria em risco o seu fétiche por varas de bambu macaenses e selos de correio do séc. XIX onde aparecem estampados reis com peruca. riverfl0w
07
Set04

Mr. Pickwick

riverfl0w
Charles Dickens dispensa apresentações. É um famosíssimo escritor do século XIX. A sua primeira obra, publicada por partes, entre 1836 e 1837, chamava-se “The Posthumous Papers of the Pickwick Club”, ou, mais simplificadamente, “The Pickwick Papers”. Tinha o homem vinte e cinco anos. A obra versava sobre as aventuras e actividades do ingénuo Samuel Pickwick e dos seus amigos no “Pickwick Club”. Mr Pickwick era o fundador e presidente do clube, um antigo comerciante e cientista amador convicto. Os inseparáveis amigos incluíam Sam Weller, seu companheiro de maior confiança, o desportista Winkle, o poeta Snodgrass e o mulherengo Tracy Tupman. Foi a rampa de lançamento do sucesso de Dickens. Mais de século e meio depois, existem bares e pubs espalhados pelo mundo que recorreram a esta obra e a este personagem para darem o nome a si próprios. “Pickwick Pub”, “Pickwick Bar”, “Pickwick Cafe”, “Pickwick Restaurant”, “Pickwick Saloon”, “Pickwick Bowling” e até um verdadeiro “Pickwick Club”. No Estoril, em tempos, ali numa rua a modos que nas traseiras dos bombeiros, havia um “Pickwick Pub”. Lembro-me de passar por lá e ver a placa, muito “british”, muito século XIX. Andava eu no 8º ano. E enfim, agora que se esgotou o passeio pela cultura e pela rede de restauração e consumo de bebidas alcoólicas, acho que está na hora de revelar a verdadeira e humilhante origem deste pseudónimo com que assino as barbaridades que por aqui se escrevem. A culpa é de uma miúda. Só podia ser. Chamava-se Rita e fiquei perdido de amores por ela mal entrou para a minha escola e a topei. Estava numa turma um ano atrás de mim, mas era da minha altura. Reconheço que não era assim muito bem feita, mas o amor tem destas coisas misteriosas. Foi paixão para durar um ano inteiro. Mais precisamente até às férias do verão. Corria o boato na escola que namorávamos, mas não passava mesmo de um boato. Faltava só mesmo eu declarar-me e espetar-lhe um beijo naqueles lábios muito carnudos. Ora, como eu não era capaz de me decidir qual das duas tarefas era a mais difícil, andei a engonhar o tempo todo, até ao verão. Até ela achar que eu não gostava de gajas, talvez, ou dela, e se fartar de esperar. Ou seja, grande tanso! Enfim, seja como for que foi, esta miúda marcou de alguma forma a minha adolescência inicial. Era uma miúda porreira, muito simpática, muito querida, muito atenciosa. Não é que falássemos muito, que vivêssemos juntos aventuras, mas quem sabe o que é o amor platónico correspondido, sabe do que falo. Aqui há cerca de uns 4 anos cruzei-me com ela num centro comercial em Oeiras. Era ela de certeza. Reconheceu-me ao longe. Já tinham passado quase duas décadas, mas o olhar foi exactamente o mesmo que nos corredores da escola, as sobrancelhas carregadas, olhar penetrante. Por momentos senti-me tentado a ir ter com ela, mas o namorado ou marido estava junto e podia não achar muita piada. Além do mais, eu estava trajado com o mais reles fato de treino que se possa imaginar, ténis rotos, sujo de andar a mexer em teias de aranha, folhas de bananeira e caixotes cheios de pó. Foi bom vê-la. Não matou a saudade, porque não havia, mas satisfez alguma curiosidade adormecida. Chamava-se Rita e era uma miúda porreira. Se calhar já disse isto. Bom, a Rita, que era uma miúda fixe de quem eu gostava muito, desde o início do ano que me chamava Pickwick. A moda pegou e muita malta não sabia o meu nome. Apenas me tratavam por Pickwick. Até era giro. As amigas dela, então, achavam uma graça imensa. Ficava bem, achava eu. A alcunha ainda a usei durante muitos anos, até mesmo depois de já poder votar. A primeira vez que passei pelo tal bar, fiquei a saber de onde vinha o nome Pickwick. Não percebi muito bem porquê, o que é que eu tinha a ver, mas o amor tem destas coisas. Pensava eu. Ingénuo!!!... Bom, não sei se já disse, mas a miúda chamava-se Rita e eu gostava muito dela. Era muito simpática. Eu engraçava com ela. Certo dia, lá mais para o final do ano, trouxe para a escola uma fotografia do cão dela, para me mostrar. Era um “salsicha”, daqueles “rodinhas-baixas” mal jeitosos com pernas de rã e focinho de canudo com orelhas abelhudas ao pendurão. Fiz um sorriso condescendente, para ela ficar feliz, mas a verdade é que aquele tipo de cão não devia existir. Claro que não lhe disse isso, ou lá se ia o amor platónico pelos ares. Ela ficou satisfeita com o meu sorriso e virou a fotografia para que eu soubesse o nome daquele animal feioso que lhe nutria tanta ternura. Foi o choque do ano! Sim! Era este mesmo: pickwick.
10
Jul04

10 de Julho

riverfl0w

Hoje é um dia deveras importante para a Pátria lusitana. À primeira leitura, assim de relance, poderá parecer que a minha professora da Primária era disléxica e me ensinou que o Dia de Portugal se comemora a 10 de Julho e não a 10 de Junho. Mas não. O problema dela era com os ‘érres’ e não com palavras nasaladas. (À professora Dina, que entretanto emigrou para Inglaterra, uma grande beijoca na eventualidade de passar por aqui por engano).

Enfim, 10 de Julho é também um marco na História de Portugal porque foi nesse dia, nesse mesmo dia, que veio ao mundo aquele que mais tarde se tornou uma figura proeminente da sociedade portuguesa.

Este Homem nasceu no século XX, filho precisamente dos seus pais, sendo esta a primeira de muitas coincidências assombrosas que só podiam prenunciar um futuro grandioso. Aprendeu sozinho a andar, a falar e a fazer bolhas de saliva com a boca, revelando o espírito autodidacta que tão útil lhe seria mais tarde. Teve uma infância assaz feliz, rodeado de jovens flausinas que adoravam cofiar os seus pêlos do peito, razão pela qual grande parte da sua obra literária diz respeito ao sexo oposto.

Aluno aplicado e exemplar, concluiu o 9º ano de Escolaridade aos 19 anos com um “Excelente” a Língua Portuguesa, acompanhado de uma nota de recomendação para a Licenciatura de Técnicas Modernas de Pesca (especialização em Peixes Ósseos) da Universidade de Cambridge.

Os seus conhecimentos nesta área permitiram-lhe, entre outras façanhas, pescar o carapau que tinha engolido o anel de Rose, passageira do Titanic.

É por estas e outras razões, sobre as quais não me vou alongar, que hoje me apraz prestar homenagem a esse grande Homem de nome pickwick. Oxalá esse distinto cidadão continue a passear a sua inteligência, boa disposição, paciência, humildade e criatividade por muitos e longos anos.
PARABÉNS PICKWICK!

riverfl0w