Domingo, 23 de Julho de 2006
Mariolas
Monte de três pedras sobrepostas que, em certas serras ínvias, indica a direcção a seguir. É assim que diz o dicionário de Língua Portuguesa da Porto Editora, edição de 2003. Para quem não sabe, ínvia quer dizer em que não há caminho, ou intransitável. Resumidamente, as mariolas são uma espécie de marcos deixados pelos pastores nas serras, feitos com amontoados de pedras, para melhor seguirem com os seus rebanhos, especialmente quando a neve cai e não se vêem os trilhos. Essa teoria das três pedras é uma grande tanga, porque há mariolas do meu tamanho! Normalmente, levam a qualquer lado. Bom, mas eu estou aqui para revelar a verdade sobre as mariolas. Isto de serem marcos para indicar caminhos a seguir é uma cena muito abichanada, tipo escuteirinhos em calções e a cantarem e ah e tal e mais não sei o quê. Eu quero contar a verdade sobre as mariolas! Toda a verdade! Sem medo, nem receio de represálias! Vamos lá, então. As mariolas são símbolos fálicos. Fálico é relativo ao falo, que, por sua vez, em vez de ser a conjugação na primeira pessoa do singular do verbo falar, é uma representação do pénis em erecção como símbolo de fecundidade. As coisas bonitas que encontramos nos dicionários
Bom, continuando, as mariolas são deixadas pelos pastores, espalhadas pelas serras, precisamente para afirmarem a sua indubitável masculinidade, virilidade e fecundidade. Para quem não sabe, os pastores portugueses são o símbolo máximo do macho humano. Vou prová-lo com duas estórias. Estória um. Certa noite de Dezembro, apareceu no nosso abrigo grosseiro, em plena Serra da Estrela, o pastor João, ali da aldeia da Lapa dos Dinheiros, de cajado na mão e em mangas de camisa. Bebeu um copo de tinto e fartou-se de contar estórias bonitas sobre garrafões de tinto e ovelhas e cabras (humanas ou não). Insistiu para que a Fafá (nome de código da única mulher entre nós) lhe tocasse no braço despido, para confirmar que pastor é brasa e consegue aquecer qualquer frieza feminina. Ela tocou. Aproveitou, também, para explicar a sua teoria de que toda a mulher tem dois ou três dias por mês em que está disposta a fazer sexo desabrido com qualquer homem, por mais selvagem e grosseiro que se apresente, incluindo um pastor a cheirar às suas ovelhas. Segundo ele, é teoria comprovadíssima por anos de experiência. Na altura, lembro-me de olhar de lado para a Fafá e de ficar com a sensação que aquele era, precisamente, um dos seus dois ou três dias do mês, mas acho que a vergonha venceu-lhe o apetite. Estória dois. O Primeiro-Sargento Rebelo era, e ainda deve ser, uma das mais eficazes máquinas de guerra preparadas pelo exército português: comandos, pára-quedistas, rangers, mergulho de combate, patrulhas de longo raio de acção, 1,90 m de altura, etc., o homem tinha tudo no currículo. Numa célebre palestra às suas tropas, sobre higiene pessoal e saúde, contou como tinha tido uma namorada, sobre a qual não dissertou, cujo irmão era pastor. Este, tinha o hábito de, deambulando pelos montes com as suas ovelhas, aproveitar-se da inocência destas para satisfazer as suas necessidades primárias, apanhando-as por detrás. Dizia o Primeiro-Sargento Rebelo, que este era um caso típico de falta de higiene. Muito bem. Portanto, como se pode constatar, faz todo o sentido que a virilidade e outras coisas acabadas em idade dos pastores portugueses, sejam perpetuadas no tempo através de simbologia fálica, enchendo as serras de pequenos e grandes pénis de pedras amontoadas, erectos, que os ingénuos turistas teimam em seguir. pickwick
Terça-feira, 18 de Julho de 2006
A cabra merendeira
Depois de uma voltinha pelo Piódão, fustigada há menos de vinte e quatro horas pela fúria da natureza, acabámos no belo museu local, muito bem conseguido, muito bem conservado e muito interessante. Fiquei espantado com a história daquelas paragens, com os artefactos expostos e com a boa apresentação de tudo. De entre as muitas histórias e descrições da vida local, houve uma que me fascinou particularmente. Faço aqui uma descrição, com adaptação e comentários da minha autoria. Ora, naqueles tempos, os pastores levavam os numerosos rebanhos de cabras pelos montes, passando os dias com elas. De entre as cabras, havia uma eleita que respondia pelo nome de cabra merendeira. Bonito nome! O pastor, que não podia andar ali pelos montes com tachos e panelas e demais elementos do trem de cozinha, queria fazer umas sopinhas de leite à maneira. Assim, chamava a cabra merendeira, a qual poderia ter uma alcunha mais íntima, tipo Alice ou Zélia, e molestava-a sexualmente durante algum tempo. Merendeira vem de merenda, termo usado em vez do moderno lanche ou do muito popular snack, pelo que, se os tempos fossem agora, seria a cabra lancheira ou a cabra do snack. Os historiadores do museu tentaram encobrir a verdade com palavras vagas como ordenhar e tal, mas eu bem sei como são os pastores, ainda para mais um pastor com uma cabra especial, no meio dos montes, afastado de olhares censuradores. Ao fim de algum tempo de abuso sexual, teria uma tigela cheia de leite. A pobre da cabra, sem acesso a qualquer cuidado de saúde um apoio psicológico, voltava ao resto do rebanho, com as sensíveis tetas muito molestadas. O pastor, então, tirava das brasas da fogueira uma pedra ao rubro e colocava-a na tigela, fazendo o leite da cabra abusada sexualmente ferver em apenas alguns segundos. De seguida, o pastor desfazia uma broa em pedaços e misturava-os com o leite quente, proporcionando uma deliciosa sopinha de leite. Esta técnica requintada, que tanto me fascinou, foi habilmente descrita pelos historiadores como tendo o objectivo de amolecer a broa ressequida com o leite quente. Ora, os historiadores podem ter alguma habilidade em intrujar os visitantes ingénuos, mas eu, com a minha abrangente experiência de vida, topei logo a tramóia dos pastores e a vontade dos historiadores de esconder a dramática verdade das gentes daquela região, talvez para não prejudicar o turismo. Não era muito bonito o Piódão ser conhecido pelos hábitos pouco católicos dos seus pastores. Imagine-se a placa à entrada da aldeia: Bem-vindo ao Piódão, aldeia dos pastores que andam pelos montes a apalpar as tetas às suas cabras. Não era nada bonito, pois não? Bem, a tramóia dos pastores deduz-se com alguma facilidade. Depois de consumado o abuso sexual nas pobres e transtornadas cabras, era necessário encobrir todas as provas do crime. O leite era a prova mais cabal desse abuso. Qualquer teste ao DNA provaria qual a cabra envolvida, ligando-a ao leite, às tetas com nódoas negras e ao pastor responsável pelo rebanho à qual pertencia o pobre e indefeso animal. Havia, pois, necessidade de esconder ou destruir a prova do crime. O leite, como todos sabem, é um líquido amarelo esbranquiçado, que não se evapora com facilidade e que, directamente da origem e longe das adulterações dos produtores, tem uma forma espessa que não desaparece facilmente nem se infiltra na terra. Assim, o método mais eficaz de resolver o problema de um teste ao DNA da cabra seria ferver o leite. A fervura, como é sabido, destrói os micróbios do DNA. Alguns dos mais famosos serial-killers da história do crime ficaram famosos por introduzir esferas em brasa nas vaginas das vítimas, para, precisamente, fazer ferver o sémen denunciador, matando os micróbios do DNA nele presentes e impedir que fossem indiciados. É triste que façamos parte de um país cujos pastores faziam destas coisas hediondas, eu sei. Hoje, já não há pastores e as cabras são ordenhadas in vitro, mas a perversidade anda aí, passada de geração em geração, de pais para filhos, de pastores para apresentadores de TV
enfim! pickwick