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Arautos do Estendal

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Arautos do Estendal

07
Set11

Questões de peso…

pickwick

Hoje, houve ajuntamento de rancho no trabalho. Tocou o clarim para reunir as tropas, grande algazarra, ah e tal, e a malta já não se via há quase um mês e meio. Beijinho para aqui, beijinho para ali. Detesto trocar beijos com colegas de trabalho, mas elas penduram-se-me nas beiças e não tenho como enxotá-las sem que pareça um homem das cavernas. Bom, em abono da verdade, com algumas colegas – mas só mesmo algumas, tipo elite em círculo restrito – até não me importava de trocar mais um par de beijinhos e meter a mão no fim das costas, tap-tap, ah e tal, estás boa?, estou a ver que sim, eventualmente afagar-lhes os cabelos e mais não-sei-o-quê. Mas, isso agora não interessa.

 

Neste jogo social de confraternização e actualização de dados, algumas colegas fizeram o favor de me presentear com alguns comentários de índole fisionómica: ah e tal, estás mais… coiso…; ah e tal, estás mais elegante; ah e tal, estás mais magro. Uma delas, em particular, que tem um problema gravíssimo de relacionamento com a tecnologia informática, em particular com o Excel, foi mais profunda: ah e tal, estás mais novo p’raí uns 10 anos!

 

Ora bem. Tendo em conta os comentários de há poucas semanas atrás, que ah e tal agora estás gordo e careca, como quem fala com desdém de uma travessa de peixe apodrecido, tenho a concluir, pelos factos ocorridos hoje, que:

 

1. No prazo de mês e meio, baixei a minha cotação de elefante africano para bisonte americano. Estou orgulhoso de mim mesmo, carago! Estou capacitado, portanto, para saltitar, alegre e pimpão, no interior de uma loja de cristais, sem que isso traga prejuízo a alguém.

 

2. A careca, rodeada de pequenas colónias de cabelos brancos, ao invés de ser exclusivamente um factor de envelhecimento da imagem, pode ser, também, um factor de rejuvenescimento inesperado dessa mesma imagem. Fascinante!

 

Entretanto, a minha sub-sub-sub-patroa (arre lá para as hierarquias) fez-me uma festinha muito fofinha pelo braço esquerdo abaixo (quase trinta centímetros), despedindo-se “até amanhã”. Foi um gesto muito lindo, digo eu. pickwick

07
Abr08

Sinalética infantil

pickwick
Preparativos para um renhido desafio de futebol. Sol radiante, no domingo escaldante, resmas de gajas na rua em trajes pobres de tecido, Primavera no ar, ah e tal. Relvado no quintal da casa do Zé, a poucos quilómetros do mar. Faço equipa com o terrível António. Do lado oposto, o Zé e o Rodrigo.
 
Comentário, muito baixinho, do Rodrigo para o colega de equipa: eles são gordos, assim vamos ganhar o jogo.
 
É um sinal, de facto, de que preciso tomar medidas drásticas relativamente a questões volumétricas. É um assunto recorrente, mas, a cada ano que passa, o drama aumenta de intensidade.
 
Eu até comecei bem, na semana que findou: todos os dias, as refeições foram constituídas à base de legumes e fruta. Estava a correr bem, até ir passar o fim-de-semana longe de casa… no meio de devoradores de chicha e esponjas insaciáveis, a poucos metros do Santuário de Fátima.
 
Falta acrescentar que o Rodrigo tem cinco anos e é filho do Zé. Enfim… pickwick
30
Dez07

Gordo, disse a mamã

pickwick
Enquanto os convivas para o jantar e posterior comemoração da passagem de ano não chegam, aproveito para me lamentar. Durante este Natal, e pela primeira vez em praticamente quatro décadas, a minha mãezinha chamou-me gordo! Eu, que sou filho dela, sempre me submeti àquela forma de estar na vida tão engraçada, sempre com comida a saltar pelos olhos e ouvidos, sempre a enfardar para dentro, sempre a consumir enormes quantidades de doces e chicha. Para a minha mãezinha, tal como para quase todas as mãezinhas deste mundo, não há filhos gordos – há, sim, filhos saudáveis e bem alimentados. Felizes, portanto. Sempre assim foi, mesmo quando se dava um murro na mesa por o ritmo de produção de arroz doce ser superior à capacidade de enfiar goelas abaixo. Anda lá, come, dizia ela. Os filhos, preocupados com a linha, pois daí depende a rentabilidade quando se sai à caça de fêmeas, bem que tentam inventar desculpas para escapar, mas a mãezinha e a gula são aliados poderosíssimos! Invencíveis! Recordo um belo verão, ainda na década de noventa, em que passei as férias com o meu irmão lá em casa, a enfardar e a ver TV. No final, precisei de sair à civilização e descobri que só tinha um par de calças que me serviam – e apertadinhas! Foi quando dei o pulo dos oitenta para perto dos noventa. Um marco! O que me estranha, portanto, é esta mudança de postura da minha mãe. Logo, logo, logo no Natal de 2007. O meu irmãozinho ria-se que nem um perdido. Ah e tal, estás mais gordo ainda que o teu irmão, dizia-me ela, porque ele é mais alto e disfarça. Para mim, pessoalmente, francamente, sinceramente e tristemente, foi um choque. Até quase perdi o apetite, assim como que subitamente, mas ainda consegui atacar na aletria e na torta de cenoura. Enfim. Talvez seja a minha mãezinha preocupada com a minha saúde, que poderá ser afectada por um excesso de peso. Talvez seja a minha mãezinha preocupada com o meu estado civil, atribuindo à fasquia volumétrica a razão para não ter arranjado ainda uma namorada. Não sei. É um mistério. Mas, vou debruçar-me seriamente sobre o assunto. Talvez dar umas voltas de bicicleta por aí. Apostar numas partidas de futebol com os colegas de trabalho. Tirar a ferrugem aos halteres. Beber mais água. Coisas assim. Mas isso, claro, só a partir de 1 de Janeiro! Porque, até lá, e a começar daqui a poucas horas, vou tomar parte numa orgia gastronómica contínua. Começa com um jantar em minha casa, hoje mesmo, continuará com um almoço desportivo amanhã, dia 31, e terminará a poucos metros da Torre, dentro de uma barraca à cigano, atolado em garrafas de vinho e chouriças e outras porcarias nada saudáveis. Depois, novo ano virá, a 1 de Janeiro. Ano novo, vida nova. Mais cuidados com a saúde, mais cuidados com a alimentação, menos doces, menos carnes, menos cervejas, mais exercício. Por falar em carnes, o Nando está com esperanças que o restaurante aqui da aldeia que tem “rodízio à brasileira” esteja aberto para nós no dia 1, assim que chegarmos da serra esganados de fome e capazes de enfardar uma vaca inteira. Sim, vou começar o ano lindamente… pickwick