Dez coisas que hoje me irritaram...
arautos amigos
the way I see it the way I feel it
outros estendais
leite condensado às colheradas
lângerri
Programa para um final de tarde de Julho: ir de carro até casa do Nestor (nome de código), descarregar a bicicleta, ir de bicicleta com o Nestor até casa do Pascoal (nome de código), beber umas minis que o Pascoal tinha prometido meter ao fresco, dar uma voltinha de bicicleta pelas matas ao redor da terrinha do Pascoal, regressar a casa do Pascoal, beber mais umas minis que entretanto já estariam mais geladas do que as anteriores, regressar a casa do Nestor, carregar a bicicleta no carro, e regressar de carro a minha casa. Adoro programas saudáveis para um dia de Verão!
Onde é que entrou a gazela? Entrou na parte do programa em que estávamos a regressar a casa do Pascoal para a segunda (e última) rodada de minis e não havia mais minis. Ao invés, havia vinho verde Gazela geladinho, camarão salpicado de sal grosso, queijinho, omelete, manteiga, pãozinho, batatinhas fritas exóticas, e tostas. O Nestor ria-se e abanava-se no banco e fazia de conta que não queria mais vinho verde de cada vez que o Pascoal esticava o gargalo da garrafa para a beira do copo dele. A mulher do Pascoal parecia satisfeita por haver gente de bom garfo a fazer uma visitinha. O Pascoal estava divertidíssimo e parecia que não comia tostas com manteiga desde 1984. Eu ia descobrindo, a pouco e pouco, que os planos para um jantar saudável de água com duas barrinhas de cereais tinham ido pelo ralo do esgoto abaixo.
O regresso a casa do Nestor, já com o pôr-do-sol à vista, foi feito no verdadeiro espírito da gazela. Mas só no espírito. Porque, com aquelas subidas íngremes sem escadas rolantes, a serem trepadas por corpos encharcados em vinho verde e atulhados de petiscos, não havia gazela alguma! Quando muito, uns esbeltos exemplares de Syncerus caffer! pickwick
Eu a bem que só me vem uma coisa à cabeça quando finalmente tiro os olhos de cima dela: aqueles documentários extraordinários sobre a vida animal no meio do continente africano, onde o leão, numa fracção de segundo, dá mesmo de caras com a presa do mês, uma bela gazela de pelugem aloirada e ar de quem vai à horta regar a salsa. Não vá o par de orelhas traí-lo, agacha a carola abaixo do nível do lombo (como se o lombo tivesse ido dar uma voltinha ao jardim), o seu fabuloso corpo repleto de músculos transforma-se subitamente num sucesso de breakdance, movimentos pausados, mecânicos, pêlo eriçado (no dançarino de breakdance seria a carapinha eriçada, mas não faz mal, que vai dar ao mesmo), enfim, arte. Findos alguns passos, não se aguenta mais com tanta impaciência e, em meia dúzia de saltinhos pouco elegantes para uma passerelle, está abocanhando o pescoço da gazela, babando-se sozinho com tamanha alegria e prazer que tal gesto lhe proporciona. E depois come a gazela. Bom, é assim que eu me sinto. Quer-se dizer, mais ou menos assim. A bela gazela não é assim tão bela. De facto, até é mais cheia que a gazela, embora não demasiado. Não estou a dizer que seja gorda, que não é, mas também não é levada pelo vento quando sobra a brisa. Não é que seja perfeita... quer-se dizer... eu até a acho perfeita... e até tem pelugem aloirada, ou pelo menos aparenta. A menos que se pinte, o que é muito feio. Sei lá. As mulheres têm destas coisas. Mas é assim mesmo, eu paro no meio da sala, e sinto-me um leão. Os leões - dizem - nem costumam caçar, que para isso estão lá as leoas, para irem às compras e trazerem gazelas p'ro almoço. Mas não faz mal, faça-se de conta que os leões caçam e fazem essas figuras tolas de pararem no meio da savana a olhar para a uma gazela. Faça-se de conta que as leoas, assim sendo, não são ciumentas, para não haver problemas. E pronto, parece que agacho a cabeça, para passar mais despercebido, dou um passo em frente e estaco, imóvel, pronto para o salto. E bem que saltava. Mas, ó pá!, na sala há sofás e mesas... As mesas ainda vá que não vá, mas agora o sofá??? Aí é que se me estraga o filme todo... saltar por cima do sofá e voar até cair mesmo em cima dela, as garras já de fora para lhe agarrar sedutoramente, e abocanhar-lhe aquele pescoço lindo, lindo, lindo... Era bonito, confesso. Se ela cortasse o cabelo ainda era melhor, para não ficar com uma mão cheia de cabelos cheios de tinta entalados entre a fiada de dentes que emergem da minha mandíbula superior. Mas pronto, faz de conta que usa cabelo curto. Não há crise. O Sofá é que estraga mesmo tudo. O sofá é para outras coisas. Para além de não haver sofás no meio da savana, os sofás têm utilidades mais... como direi... proveitosas... do que servirem meramente de trampolim para o salto da glória. Isto é que me lixa os sonhos, bolas! Raio dos sofás! Para mais, ainda nem sequer comprei um sofá para a sala da minha casa. Que atrofio. pickwick