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Arautos do Estendal

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Arautos do Estendal

05
Fev07

Cabelos e penteados

pickwick

Na semana passada, a Maria apareceu com um novo penteado. Não resisti a olhá-la várias vezes pelo canto do olho. Meu Deus, agora é que ela ficou mesmo intragável, pensei eu. Passados alguns dias, foi a vez da Paula, com um novo penteado. Hoje, foi a Carla. Mas estas gajas estão todas parvas ou quê? Será que ainda não repararam que, quando regressam do cabeleireiro, vêm mais feias do que quando entraram? Ou será que a mulher tem em si uma deformação da capacidade de apreciar a beleza, que actua no momento em que se lembra de ir ao cabeleireiro? Vamos ser honestos! Quando uma gaja sai do cabeleireiro com um novo penteado, só em raríssimas excepções vem com um ar mais bonito e apetitoso. Regra geral, tal como aconteceu com a Maria, com a Paula e com a Carla, vêm com umas porcarias e uns rebicoques, umas lacas de acender fogueiras, umas franjas à espanador-do-pó, uns ondulados piores que os das batatas fritas da Matutano, e mais um monte de pormenores que não consigo atingir. É pá, pronto, vêm foleiras! Não compreendo, a sério. Depois queixam-se que os gajos não comentam o novo penteado. Pois claro que não comentam, ora essa. O único comentário honesto seria muito mal recebido, por isso, mas vale ficarem calados. Ainda gostava de saber como é que aquilo funciona, lá no cabeleireiro. Tenho algumas lembranças nubladas de quando era puto e tinha de ir atrás da minha mãe para o cabeleireiro, em plena década de 70, com aqueles capacetes lunares, os rolinhos, os lavatórios, as conversas da treta, as revistas, a água quente, o pivete, etc. Tudo recordações desnecessárias. Hoje ainda é capaz de ser assim. A gaja chega, o(a) cabeleireiro(a) ah e tal, hoje ficava-lhe bem um penteado X13. E a gaja, ah sim?, e um P26? Esse só se for com um cheirinho de loiro a fugir atrás da nuca. Ah, então está bem. Vem uma foto de um catálogo de penteados, ah e tal, que giro!, gosto mesmo é daquele ali, então está bem. E pronto, o(a) artista, que não percebe muito do assunto mas dá ares de muito domínio, pega na tesoura e zás! Zás, zás, zás, flosh, flosh, zás, baf, baf, zás, flosh, fssst, fssst, espelho para a esquerda, espelho para a direita, fssst, flosh, e aqui vai disto. Mas as gajas não têm noção que na esmagadora maioria das vezes saem do cabeleireiro com um ar horrível, piroso e plastificado? Como se tivessem comprado uma peruca estragada no meio da Feira da Ladra. Não notam? E quando se casam? Ou vão a casamentos? C’um caraças! Aí é que a coisa atinge limites básicos de estética, saltando facilmente do feio para o grotesco. Uma noiva em dia de casamento, com jeitinho, consegue espremer o cabelo para uma frigideira e fritar meia dúzia de salsichas e estrelar quatro ovos, tudo com sabor a canela e com estrelinhas de brilhantes a boiar. E as amigas dos noivos vão pelo mesmo caminho, cada qual com o pior vestido que se possa imaginar, e com os penteados mais foleiros de que alguém se conseguiu lembrar. Mas, ninguém nota? Anda tudo cego? As minhas colegas, por exemplo, agora estão todas com um ar de mete nojo que nem a um trolha sexagenário e desdentado conseguiam arrancar um assobio. Daqui por umas duas ou três semanas, aquelas parvoeiras todas já passaram, os cabelos já assentaram, a laca nojenta já desapareceu com as lavagens, e os efeitos especiais e psicadélicos deram lugar à naturalidade e beleza dos cabelos femininos. Até lá, tenho que gramar diariamente com aquelas obras de arte contemporâneas, feitas por artistas de meia-tigela e pagas a ouro. As outras colegas reparam, olham, comentam, ah e tal, tão giro!, e em menos de nada vou ter as minhas colegas todas armadas aos efeitos capilares, madeixas às cores, cabelos às ondas e nacos de laca seca pendurados. Vai chegar um dia em que o ambiente ficará insuportável. Não haverá uma única gaja para quem se possa olhar sem ficar logo com o estômago embrulhado. Eu só não sei é como é que elas não percebem que ficam foleiras com os novos penteados. A sério! Não percebo! Não usam espelho em casa? Tudo bem que isto é como em tudo: há gostos e gostos! É como fazer um tuning na carroça lá em casa. Há quem goste, mas, aos olhos de uma pessoa normal, um tuning na carroça fica sempre com aquele ar de Quim-Barreiros-enrolado-com-a-Monserrat-Caballé. E as gajas que saem do cabeleireiro, com um tuning na gadelha, ficam com o mesmo ar: espalhafatoso, mas muito piroso! pickwick