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Arautos do Estendal

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Arautos do Estendal

18
Ago12

A banhos – parte 2

pickwick

Depois da tenda montada, a Liliana foi mudar-se para a toilette nº4: calças de ganga e uma camisola de malha polar. Sacaram-se informações estratégicas à recepcionista e fomos à procura de poiso para jantarmos. Há coisas que sabem mesmo bem, sendo que terminar o dia em boa companhia e a caminho de um sereno jantar, é uma delas. Após muita luta, conseguimos chegar ao “Vallécula”, uma miniatura de restaurante encaixado em paredes de granito. Entra-se e fica-se logo impressionado com a quantidade de copos nas mesas. Depois veio o senhor, impingiu-nos uma alheira de caça acompanhada com migas, uma mousse de grão de bico, patê de abóbora, um tinto que quase se mastigava de tão bom que era, vitela com azeitonas, costeleta, puré de maçã, e sei lá mais o quê… Não havia maneira de um gajo se queixar, tal era a bitola do repasto!

 

Seguiu-se uma breve paragem na esplanada do bar do parque de campismo, e fomos dormir, que o dia seguinte haveria de ser em cheio! Emprestei à Liliana o meu saco-cama de inverno, dentro do qual já dormi confortavelmente na neve com dez graus negativos. Não queria que lhe faltasse nadinha, mas, ainda assim, calçou um par de meias, vestiu um pijama de inverno, e embrulhou-se toda dentro do saco-cama, não fosse acordar a meio da noite dentro de uma arca frigorífica. Não deve ser tarefa fácil aquecer uma mulher assim só com um singelo abraço… Eu estiquei-me em cima do meu velhinho saco-cama para climas tropicais, comprado em 1985, furado por fagulhas que saltaram de fogueiras à beira das quais passei várias noites sob maravilhosos mantos de estrelas. E tal.

 

Bom, nunca tinha pensado neste assunto, mas surgiu a oportunidade de meditar sobre a pose mais sensual de uma mulher. Não me recordo a que hora me deu para isto, mas sei que já era de dia. Fiz uma passagem pela minha memória visual, recuando até umas duas décadas, e olhei para a Liliana, dormindo serenamente ali ao lado. Definitivamente, estava eleita a pose mais sensual: pijama, barriga para baixo e uma perna alçada como que para dar um saltinho. Finda a eleição, um gajo suspira, suspira mais uma vez, e arranja maneira de parar de olhar. Não é fácil. Nada fácil. A consciência é que fala mais alto: não tens vergonha de estares para aí a olhar descaradamente, aproveitando-te do sono alheio? Sim, muita vergonha, pronto…

Depois de desmontarmos a tenda, fomos experimentar a praia fluvial de Valhelhas. Um luxo, não fosse a quantidade de gente que invadiu aquilo. Finalmente, aproveitei para tirar convenientemente as medidas à Liliana. A estratégia é simples: um gajo mete-se dentro de água e deixa só os olhitos de fora, qual periscópio de submarino a analisar o inimigo. Eu sei, é tão discreto como tentar entrar no WC de um avião comercial montado num búfalo africano.

 

No decurso da apreciação, surgiu-me uma dúvida técnica que agora trago à luz do dia. A Liliana usou um biquíni muito curioso, sendo que, visto pela frente, parece completamente pacífico e irrepreensível. Mas, a cuequinha, vendo pela retaguarda, tem um formato terrível que passo a tentar explicar. Começando dos lados, o tecido avança para o centro, como em qualquer cuequinha sóbria, descrevendo um arco suave com concavidade virada para baixo. Mas, quando ainda vai a meio, o tecido desaparece entre as nádegas, deixando uma parte substancial destas aos cuidados do simpático sol. A minha dúvida é: que nome tem este tipo de cuequinha?

 

Esquecendo a dúvida técnica acima referida, os longos momentos de apreciação foram um deleite para a vista. Era gajo para ficar ali o dia inteiro a apreciar, pois as coisas bonitas não cansam. Ora de um ângulo, ora de outro, ora de meio ângulo, ora de ângulo do avesso, eu sei lá. Uma fartura! Entretanto, faz-se uma pausa enquanto ela mergulha e passa-se o radar pelas redondezas, chegando-se à conclusão que é muito gratificante estar na companhia da mulher mais jeitosa da praia! Até faz bem ao ego, direi mesmo! Por falar em mergulhar, acabo de perceber que o biquíni da Liliana foi concebido especificamente para as mulheres que gostam de mergulhar à golfinho, em especial para aquele momento preciso em que a única coisa que fica fora de água é o par de nádegas a espelhar os raios de sol. O maxilar inferior descai um bocadinho e um gajo tem mesmo que suspirar…

 

Uma visitinha ao Poço do Inferno e umas braçadas no Mondego à sua passagem pelo Covão da Ponte. Almoço no Vale do Rossim, mergulhos na Praia Fluvial de Loriga e na Praia Fluvial da Lapa dos Dinheiros. Curioso, que em Loriga havia tanta gente que quase não havia espaço para arrumar os chinelos, e na Lapa dos Dinheiros era quase tudo por nossa conta. Fartei-me de tirar fotos à Liliana. Quanto toca a fotografia, é sempre muito agradável conjugar paisagens espectaculares com uma miúda idem. E fartei-me de levar nas orelhas por causa das minhas sucessivas falhas disléxicas, do género “havia um parque de campismo muito porreiro naquele restaurante” ou “tiraste-me as bocas da palavra”… É no que dá ir-se tão bem acompanhado, que metade dos miolos ocupa-se da tarefa de bom cicerone, e a outra metade ocupa-se da árdua tarefa de evitar suspiros, globos oculares a caírem das concavidades, maxilares descaídos, etc.

 

Depois de tudo isto, ainda fizemos pouco mais de 100 km para irmos jantar a casa do Miguel, no litoral, com toilette nº5 e passeio à beira-mar para acabar bem o dia. No dia seguinte, toilette nº6, um estonteante vestidinho de verão cor-de-rosa, curtinho como dá gosto, novo passeio à beira-mar para cheirar a areia molhada, e o comboio em Coimbra, para a Liliana regressar a casa. No final do dia, para meu grande desgosto, vim a saber que houve uma toilette nº7: uma camisinha de noite muito sexy, na noite anterior, que já ninguém pôde apreciar porque estava já tudo ferrado a dormir…

Mas como é que uma gaja consegue meter sete toilettes e não sei quantos pares de sapatos e uma mochilinha e sei lá mais o quê, dentro de uma sacola de viagem onde eu não conseguiria meter mais que um par de sapatilhas, uma toalha e umas meias?! pickwick

22
Mai08

Reclamação amarela

pickwick

 

É isso mesmo! Uma reclamação amarela! Porque daqui a sensivelmente um mês vai começar o verão! Mas não se nota nada! Está frio, está chuva, está o tempo encoberto, e, como consequência gravosa de tal contexto climatérico, o mulherio traja de forma pouco apetecível. Isto é, com roupagem em excesso. Que mal! Todos sabemos que o mundo funciona por ciclos de compensação, o frio compensa com o quente, a chuva com o sol, a mulher atascada de roupa com a mulher arejada. Este ciclo de compensação proporciona um equilíbrio psicológico temporal que é essencial ao bem-estar da sociedade. Pelo menos, a mim. Quando chega a Outubro, um gajo já está tão farto de ver biquinis, que até enjoa, pelo que o fim dos biquinis, naquela altura precisa do ano, é bem-vindo. Quem diz bikinis, diz calções minúsculos com as nádegas a saltar fora dos contornos do tecido, diz decotes até ao umbigo, diz… enfim!, não me quero martirizar mais a identificar as belezas da vida. Isto quer dizer que, com base no mesmo ciclo de compensação, quando chega a Março, um gajo já está tão farto de ver camisolas de gola alta, que até enjoa, pelo que o fim das camisolas, naquela altura precisa do ano, é sempre bem-vinda. Ora, acontece que, Março já lá vai, assim como Abril e, pelos vistos, assim como Maio. E elas continuam a usar camisolas de lã, camisolas de gola alta, casacos, calças, calças, eventualmente saias abaixo do joelho, mais camisolas, etc. Desequilíbrio psicológico, é no que dá. Se isto não mudar rapidamente, sinto que isto terá consequências pouco simpáticas. Já me sinto, de vez em quando, a rosnar baixinho pelos cantos, a olhar de lado para as minhas colegas e demais mulheres, com os olhos em sangue e um pouco de espuma no canto das beiças, reclamando por ainda andarem todas ensopadas em tantas roupas. Um dia destes, desequilibro-me de vez e estico as mãos a todas as roupas femininas e rasgo-as, arranco-as às donas e desato a uivar e a bater com o pé no chão! Isto começa a desesperar! Não tarda, é Agosto e ainda andam com camisolas de gola alta e embrulhadas em casacos. E depois? Depois, o povo português arrisca-se, seriamente, a ver aparecer um novo fenómeno de criminalidade, ímpar e imparável: o “clothesjacking”. Mulheres que circulam na via pública, atacadas por homens com ar desesperado e armados até aos dentes com tesouras de podar, que lhes subtraem violentamente todas as peças de roupa que pertencem a camadas superiores à das roupas interiores. Medo! Muito medo!... pickwick
27
Dez07

A Festa do Mundo

pickwick
Após intenso, minucioso e longo período de meditação, eis-me nos finalmentes da minha fantástica proposta de alternativa ao Natal. Mais que uma alternativa, seria uma substituição plena dessa retrógrada comemoração de rabanadas e gorduchos. Chamar-se-ia “A Festa do Mundo” e teria, como fundamentação, o cada vez mais mundo global em que vivemos, onde impera a necessidade de sermos todos irmãozinhos e bons rapazes e boas raparigas, especialmente boas raparigas, porque as feias não são bem-vindas. Em vez de uma comemoração baseada nesse ser mítico que é a família unida e com saudades uns dos outros, ou no esbanjamento patético de dinheiro e alimento, “A Festa do Mundo” reporta-se à diversidade mundial e ao amor inter-racial e inter-cultural que se quer entre os povos. Assim sendo, aqui fica o plano:
1. Cinco dias seguidos de comemorações, sendo que, entre estes, os dias de semana devem ser promovidos a feriados mundiais.
2. Os cinco dias do ponto anterior, terão início a vinte e quatro de Dezembro e terminarão a vinte e oito do mesmo mês e do mesmo ano (não vá alguém querer emborrachar-se durante um ano seguido às custas disto).
3. A cada um dos citados cinco dias, corresponderá um continente: África, América, Antártica , Eurásia e Oceania. Ou seria, antes, África, América, Ásia, Europa e Oceania? Ou será África, América, Antártida, Ásia, Europa e Oceania e são seis em vez de cinco? Bem, que se lixe. Malditos acordos geográficos! Fazemos assim: a África é a dos gajos escuros e dos leões; a América é dos malucos a norte, dos pistoleiros ao centro e da picanha ao sul; a Ásia é do incenso e dos tigres; a Europa é dos tarados; e a Oceania é dos cangurus. O resto não interessa. E não se fala mais nisto.
4. Distribuídos os cinco continentes pelos cinco dias, cada um deles deverá ser vivido dentro do espírito do continente respectivo, numa comunhão de cultura, raças, gastronomia, amor e muito fogo.
5. Essa comunhão poder-se-á traduzir, por exemplo, em:
a) Festival de gastronomia, onde cada participante pode experimentar a feitura de variadíssimas receitas tradicionais.
b) Desfiles de vestuário tradicional (só gajas, please).
c) Desfiles de vestuário moderno (só gajas, mesmo).
d) Desfiles de biquinis tradicionais (obviamente).
e) Festival do Filme Porno (não havendo tradutor, não há crise), para divulgação de artistas e obreiros e, quem sabe, potenciar a exportação massiva de obras.
f) Feira do Livro Erótico, com as várias traduções das obras de referência, incluindo a BD, sendo que esta deverá reflectir as tradições do país de origem.
g) Festival erótico de divulgação das especialidades locais, sendo premiadas quaisquer inovações ao descrito no Kama Sutra.
h) Contratação de strippers indígenas para actuações ao vivo, sendo obrigatório iniciar cada sessão com vestuário tradicional do país de origem.
i) Festival da Cerveja (aceitam-se marcas brancas, pretas e amarelas).
j) Contratação de meretrizes indígenas para proporcionar, aos mais ousados, a experiência fantástica do sexo bi-cultural e bi-racial. 
Cinco dias por ano de folia intensa e aproximação dos povos! E promulgue-se, carago! pickwick