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Arautos do Estendal

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Arautos do Estendal

09
Jul04

As miúdas pipis

riverfl0w
Entenda-se por “miúdas” o vasto leque dos espécimes humanos do género feminino, possuidores ainda – em parte ou na totalidade – daquela gracinha que nos faz cair o beiço em desfavor do bom senso que em nós deveria reinar ininterruptamente. A contagem das primaveras assume um papel insignificante, pois outros atributos assumem o papel principal nesta peça de teatro que é a vida entre vidas. Entenda-se por “pipis” uma coisa que não existe, mas que se manifesta, e para a qual não encontrei, assim de pronto, vocábulo melhor. Como quem vai à pesca ao rio Paiva e come o pneu que pescou porque nada melhor trincou o anzol. Uma miúda pipi, é uma miúda que sofre. Coitada. Sofre, porque o mundo é feito de crueldades e fugas aos incómodos. Não vai passear na natureza porque a natureza tem bichos. Ou até passeia, mas dormir é que não, porque à noite os bichos são mais e mais badalhocos. Dormir no chão? “Aiiii… no chão?...”. Campismo? “Aiiii… e os bichos?...” Refeição fora de horas? “Aiiii… e comer?...” Ai ai ai, digo eu! Ora bolas! Mas que coisa! Um filme de porrada? “Aiiii… que violência, que brutos!...” Um filme romântico? “Aiiii… que lindo!...” Ó minhas amigas… Francamente… Olhai: o mundo é tão lindo, tem tanta coisa bonita, os bichos tornam-no ainda mais bonito, não gritem por causa do bicho verde do tamanho de um sapo mas que tem asas mas não voa, não resmunguem por a tenda não ter colchão de molas e espelho no tecto e por terem meia dúzia de calhaus espetados nas costas, não façam esse arzinho de enjoadas por a comida ter arrefecido e ficado com sabor a pano do pó usado e molhado em água oxigenada, não digam “aiiii” que só dá vontade de vos pregar umas tachas de uma beiça à outra e enfiar-vos duas rolhas de vinho ribatejano pelas narinas a dentro para que não mais encharquem a atmosfera com esse guincho de carga negativa. Não sejam assim, por favor. Acham que são mais felizes assim, renunciando com tal entusiasmo às vicissitudes da vida? Amem a natureza, não só a areia suja de restos de comida na praia algarvia. Amem os bichos, eles comem cocó e dão febras. Amem o desconforto temporário como valorização do conforto do dia-a-dia. Amem o frio como o quente ama o calor e vice-versa, ou versa-vice ou gelado frito. Amem, simplesmente! Façam perpetuar o sorriso pelo qual a gracinha faz saber que existe. E não, as salamandras não mordiscam os olhos das pessoas enquanto estas dormem. Mas que mania… onde é que foram buscar esta história? pickwick

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