Quarta-feira, 20 de Setembro de 2006
Os gajos que ficam chateados
Há por aí, por esse mundo maravilhoso da Internet, os quantos vídeos mostrando uns gajos muitíssimo exaltados, perdendo as estribeiras e desatando ao soco e ao pontapé a um qualquer pedaço de tecnologia. Ele é o gajo que se chateia com o computador do trabalho, ele é o puto que se chateia com a playstation, enfim. Acabei de descobrir que também sou desses, embora me fique pela fase do esbracejar e vomitar carvalhadas e fazer cara de mauzão e espumar pelas beiças e cerrar os punhos e ameaçar uns sopapos. Ultimamente, o meu computador tem andado a testar-me. Já não basta o Internet Explorer passar-se com qualquer coisinha e ah e tal lamentamos mas ocorreu um erro e o programa vai ter que encerrar. Já não basta o Microsoft Word lembrar-se de estoirar também e ah e tal vai encerrar e recomeçar e recuperar os documentos e o raio que o parta. Não. Esta estúpida desta máquina, desde há uns largos meses que se lembra de, por obra e graça do espírito santo, reiniciar-se sozinha. Grande vaca! É que não há paciência para tanto! Um gajo está a trabalhar e esta **** do ******* apaga-se e ah e tal para proteger o computador vai reiniciar-se e mais não sei quantos. E respeito? Já não há? O monitor, coitado, não tem culpa, mas volta e meia vê-se aqui no meio de um turbilhão de impropérios e facadas, escapando por muito pouco a ser atirado pela janela fora. E a máquina, idem, a sacana! Ora, depois há a máquina fotográfica digital, cuja prestação em dias bons alivia-me o peso na consciência pela ribeira de notas que dei por ela, mas tem dias em que
bem
geralmente em momentos únicos, lembra-se de bloquear, e pronto, fica ali, feita estúpida, com o canhão da objectiva a meio caminho entre o fechada e o aberta. Era directa para o chão é que ela ia bem, a ver se também achava muita gracinha. A minha sorte, diga-se, é não ser um tarado por equipamentos de alta tecnologia, como a maioria da população é. Dispenso! Realmente, isso poupa-me muitas chatices. Não tenho máquina de lavar loiça, não tenho micro-ondas, não tenho televisão, não tenho leitor de CD portátil, não tenho leitor de MP3, não tenho uma daquelas cenas pirosas de home-vídeo, ou lá o que é, não tenho impressora multi-funções, não tenho massajador para os pés, não tenho vibrador (vantagens de se ser homem), não tenho jacuzzi na banheira, não tenho aquecimento central e só tenho um telemóvel a funcionar. O carro tem vidros eléctricos e ar condicionado, portanto, mais dia menos dia um deles vai deixar de funcionar, mais provavelmente os vidros, que é para eu ficar com o carro na rua de vidro aberto, para os ladrões poderem entrar. Este verão fiquei com uma porta na mão, mas vá, não conta para a tecnologia. Ora, a vida até não corria muito mal. Por isso, só tenho uma pergunta a fazer a mim próprio: meu estúpido, para que foste tu comprar uma porcaria de uma bicicleta? Aquilo já me parecia sofisticado a mais. Tinha que dar raia. E deu. As estúpidas das mudanças estão avariadas. Acabei de vir da garagem, depois de duas horas de chave de fenda nas mãos e a dar ao pedal com o braço. Ficou na mesma. A corrente salta de uma roda dentada para outra, como se fosse pipocas na panela. Quando me fartei, olhei para a estúpida (foi despromovida de Berga para estúpida) e pensei seriamente se a deveria levar para o meio da rua e passar-lhe com o carro por cima, para ver se achava gracinha. Mas, pronto, depois de um bocadinho de Zen (inspira, expira, relaxa, inspira, expira, relaxa
), optei por fazer uma última tentativa, levando-a um dia destes a um dos mecânicos de bicicletas cá da terra. Talvez amanhã. Ou além, quando me passarem os nervos. Ainda está ali, por instalar, o computadorzinho de bordo que comprei à parte, para instalar e medir aquelas coisas super importantes de um passeio de bicicleta, como sejam a distância percorrida e a velocidade média e o ácido úrico, por exemplo. Não sei se o instale. O mais certo é medir uma velocidade de 220 km/h quando eu for a subir uma ribanceira a passo de caracol. Certo é que, a meio de qualquer trajecto mais esburacado, aquilo comece a fazer tilt e caia a tecla de controlo e meia dúzia de letras e dois parafusos. Se o vier a instalar, eventualmente, e alguma desgraçazinha se abater sobre aquele poço de tecnologia miniaturizada, já se sabe como vai ser o tratamento: deixo cai-lo discretamente no chão, assobio com discrição e passo-lhe com as duas rodas por cima. Cinco vezes, para não acontecer como no Exterminador, em que o mauzão tecnológico é atropelado e levanta-se logo a seguir para azucrinar o juízo do bonzão. Não quero cá um computador de bordo maricas, todo feito em fanicos, aos saltinhos no asfalto e a miar numa voz feminina e em brasileiro à sua velocidadji é dji duzentuz quilómitruz por hora. pickwick