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Arautos do Estendal

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Arautos do Estendal

23
Dez04

A falange da Peta

riverfl0w
Estava eu aqui num marasmo intelectual, quando me chega um comentário ao último post, “Bang! Bang!”. Até pulei da cadeira! Começa o dito com “Isso da dignidade dos animais é muito engraçado (…)” e acaba com “(…) ser vegetariano nem é assim tão difícil”, depois das devidas correcções ortográficas e gramaticais, obviamente. A assinatura do comentário é brutal: www.peta.org. Não resisti e fui espreitar. Adorei! Adorei, porque esta temática dá-me a volta às tripas. O curioso, é que não é pelas cenas chocantes de animais enjaulados e torturados, mas sim pela atitude do ser humano. E não é pela atitude do ser humano que tortura, espanca, caça e esfola os pobres animais, mas sim pela atitude dos defensores dos direitos dos animais. Esses é que me chocam… O culminar de uma linha de pensamento típica desta gente é o vegetarianismo. Renunciar a comer carne. Francamente! Vá, mais bife sobra p’ra gente. Não é que tenha alguma coisa contra o vegetarianismo. Até passo semanas sem comer carne, é verdade, mas não é por defender os direitos dos animais, com certeza. Há um pequenino pormenor no meio disto tudo, que se tende a esquecer: o ser humano, por vontade própria, esfrangalhava o seu semelhante, todos os dias, se o deixassem. É algo que está em nós, esta vontade de violentar, agredir, matar, torturar, esfaquear o ser humano ao nosso lado. O que nos impede? As regras. As leis da sociedade em que vivemos. Onde as regras e as leis são levadas minimamente a sério, poucos são os que querem fazer fora do penico. Aliás, querer, até querem quase todos, mas não se vão meter nisso, vão vá depois aparecer o senhor guarda e levar-nos a contas com um tribunal qualquer. Mas, onde estas leis não existem, ou onde é como se não existissem, é aquilo que vemos nos telejornais, banhos de sangue, carnificinas, genocídios, torturas, bla bla bla… E só não esfaqueamos o vizinho, porque as consequências não são nada aprazíveis. Porque senão, esfaqueávamos mesmo. Há que não esquecer que, no reino animal, somos a espécie que mais se pode envergonhar dos seus actos entre semelhantes. É claro que, esta facilidade que temos em maltratar o vizinho, é facilmente alargada aos restantes membros do reino animal. Ou seja, eu até tenho à vontade para partir o pescoço ao vizinho quando ele mete a aparelhagem com música do Emanuel em altos berros, mas não vou lá abaixo bater-lhe à porta e torcer-lhe a espinha. Claro. Mas, tanto à vontade, também me permite canalizar esta arte para os animais. Muitos há que, para aliviar a impotência de resolver as questões com os vizinhos, aproveitam um cachorro abandonado que passe por perto. Há dois anos, conheci um miúdo assim. Por vontade dele, agarrava na caçadeira do pai e enchia de chumbos a vizinhança. Mas não convinha. O cão que andava lá pela quinta é que pagava as favas. Tiros de pressão de ar nos olhos, facadas, atirado de ribanceiras abaixo, apedrejado, enfim, uma festa, para gáudio do miúdo, que via assim resolvido o problema da raiva condicionada. A questão é que, quando falamos dos direitos dos animais, estamos a falar também de seres humanos. De seres humanos que não hesitam em maltratar-se uns aos outros. E, quando se fala em direitos dos animais, e é aqui que as tripas se me embrulham, pois confunde-se a natureza com os seus próprios limites. Na natureza, como se sabe, há o predador e a presa. Uma raposa que caça um coelho. Um lobo que abate uma cria de veado. Um urso que abocanha um salmão. E nós, que fazemos saltar para o prato uns belos bifes de javali. Não vamos querer apanhar a raposa, o lobo e o urso e espetar-lhes com os direitos dos animais no focinho, exigindo-lhes que passem a comer ervas daninhas, pois não? Então porque é que havemos de ser vegetarianos? Não sei se me estou a explicar bem… A questão aqui, é que, esta história dos direitos dos animais, leva a estes extremos de posicionamento social e alimentar, que, inconscientemente, ajudam a ridicularizar o próprio movimento que os defende. Não é que não se deva ser vegetariano. Mas, associar a defesa dos direitos dos animais ao vegetarianismo, é um erro crasso, em prejuízo da ideia base dessa defesa. É fazer o movimento de defesa dos animais perder crédito na sociedade. Porque, quem pode fazer alguma coisa, quem tem poder para isso, não vai deixar de comer bifes, e, por conseguinte, não vai levar a sério alguém que faz do vegetarianismo a solução para a defesa dos animais. A defesa, respeitável e merecedora de todo o apoio e crédito, passa mesmo é por evitar que os animais sejam mal tratados, torturados, trucidados vivos, enjaulados em condições miseráveis, etc. Digo eu. Há que viver e respeitar a natureza, dentro dos limites de quem a criou. pickwick

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