Efeitos psicológicos no desempenho físico
Hoje cheguei a casa a uma hora decente (tipo antes das 21h) e, saboreando o facto de não ter compromissos para o resto do dia, vesti a fatiota apropriada para ir dar uma corridinha para os pinhais.
Já há vários anos que tenho um percurso fixo, com subidas e descidas, que consigo fazer em cerca de 50 minutos se não andar coxo, ou em 45 se estiver no ponto caramelo. Por ora, encontro-me na fase imediata ao abandono do coxear como forma de estar no desporto. Isto é, estou a tentar começar a entrar em forma. Quer isto dizer que o percurso demora 50 minutos, mas o meu objectivo é começar a reduzir o número de vezes que paro pelo caminho para evitar engasgar-me com meio pulmão a querer saltar por uma narina. Nas primeiras vezes, há umas semanas atrás, a boa forma era tanta que tinha que parar nas descidas para descansar. Mas isso já pertence ao passado. Agora estou bem melhor.
O percurso que faço pelos pinhais, ou pelo mato (conforme a preferência), usa uma rede de trilhos frequentada por gente que trata de umas terras, maioritariamente vinhas, ou não fosse isto uma zona demarcada de vinhos do Dão. Na prática, cruzo-me com mais coelhos do que pessoas. E é bonito, cruzar-me com coelhos, os passarinhos a chilrear, um ou outro esquilo quando calha, um cachorro, ah e tal.
Como forma de controlo, estipulei atingir o ponto mais extremo do percurso ao fim de 25 minutos, no máximo. É um ponto relativamente alto, pelo que, enquanto não estou no ponto caramelo, é um local de paragem obrigatório para meter a respiração ofegante na ordem. Também é um local de onde se avista um bonito pôr-do-sol, em especial porque costumo ir correr ao final do dia.
Hoje, quando cheguei a este ponto, ao fim de uns excelentes 25 minutos (à tabela), lá tive que abrandar e arranjar maneira de parar de arfar que nem um cão vadio perseguido por um bando de velhotas empunhando furiosamente guarda-chuvas com desenhos de flores. Quando consegui recuperar, retomei a corrida, a descer, com um olho nos calhaus do chão e o outro no pôr-do-sol. Ao fim de vinte e sete passadas (mais coisa, menos coisa), o que é que me aparece à frente?
Uma menina montada numa bicicleta, suando devido ao esforço da subida. E pensei cá para comigo: eh lá! Mais seis passadas (mais coisa, menos coisa), e o que é que me aparece à frente?
Outra menina, montada também numa bicicleta, igualmente suando devido ao esforço. Só que, ao contrário da primeira menina, que era uma menina bonita, bem feita, bom corpo, carinha larocas, elegante, cabelos ao vento, ah e tal, a segunda menina tinha um vistoso par de maminhas, generosamente arejados através de um decote perigosamente acentuado devido à inclinação do corpo a dar ao pedal encosta acima. Ou seja, numa situação normal o decote já seria interessante, sendo que naquele caso dava para fazer uma tese de doutoramento.
Devo dizer que fui arrebatado por uma onda inspiradora. Psicologicamente, fui afectado, confesso. De repente, parecia que levava um isqueiro Bic fazer-me faíscas junto aos pêlos do rabo. Ena pá! Acho que só parei mesmo na subida fatal, a mais íngreme de todas, porque, senão, ainda caía para o chão e engolia dois quilos de calhaus, tal era a velocidade com que arfava. A cada passada, imaginava as esferas de deliciosa carne fresca a balouçarem ao ritmo das pedaladas na bicicleta. É como o cavalo atrás de cenoura. Por cada passada, uma das maminhas abanava e eu ficava todo satisfeito.
O efeito foi tal, que, quando cheguei ao pé do meu carro, ainda pensei seriamente em dar meia volta e repetir o percurso todo. Mas, felizmente, caí em mim e regressei a casa. Ainda bem. Imagine-se que, na repetição do percurso, me cruzava novamente com as meninas? Como era? Ainda perdia a noção da realidade e de um salto abocanhava-lhes os pneus das rodas... Que má figura… pickwick