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Arautos do Estendal

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Arautos do Estendal

30
Mar07

Frango morto nas natas

pickwick

Antes que esqueça, e porque isto se torna perigoso, começo por introduzir os personagens: Mary, Charlie (é gaja, atenção), Philip e eu mesmo. Nomes de código, claro, por precaução. Outro dia, coiso e tal, a Mary manda SMS: ah e tal, a Charlie esqueceu-se de te convidar para vires cá comer um frango com natas. Um convite? Para comer? Hum… que simpáticas que são estas gajas. Ah e tal, é preciso levar alguma coisa? Gelado? Chouriça? Não, temos tudo! E bebidas? Ah, temos cá cervejas! Pronto, então. E lá fui eu, ontem à noite, com a sirene e os piscas e o fogo de artifício do Rover da Charlie a abrir caminho pelas ruelas de uma aldeia beirã cheia de casas de granito. Estacionamento numa aldeia onde as ruas foram feitas à medida para as carroças? Fácil: é mesmo no recinto da Igreja! Muito bem! Muitos carros beatos tem aquela aldeia. Bom, a casa das meninas era de granito, muito bonita, com vista para a Serra da Estrela. Lá dentro, o Philip aquecia-se numa lareira com recuperador de calor com a respectiva porta aberta, enquanto a Mary chafurdava no forno, feita dona de casa. Não fui de modas e saltitei alegremente até perto do forno, espreitando, curioso. Um frango morto repousava num leito de natas a borbulhas. Olha, não era melhor deitares as natas mais no fim? Calou!, respondeu a Mary, sempre tão querida. Então e umas entradas, não há? Porra!, ‘tás aqui ‘tás lá fora, vociferava a moça, já arreliada com a inconveniência das perguntas. Estas foram as primeiras perguntas, mas muitas mais houve. Pois, porque um gajo aceita um convite para ir comer a casa de duas gajas trintonas (que não são lésbicas, note-se), pensando que seria presenteado com um banquete para alarves, com petiscos para a entrada, farto repasto para o meio e deliciosas sobremesas para rematar. Afinal, fui enganado! A Charlie não cozinha. O acordo é que a Mary cozinha e a Charlie lava a loiça. As entradas foram dois pães que resgatei heroicamente de um saco abafado. As bebidas foram uma Super Bock Abadia (exemplar único), uma Super Bock normal em lata que não abri com receio de apanhar uma infecção no estômago por causa da ferrugem da lata, e dois pacotes de sumos esquisitos. O frango morto vinha afogado numa mistela esturricada que em tempos foi um banho de natas. Ao que parece, havia também cogumelos à mistura, mas não dei por nada e a Mary também não encontrou nenhum. Para acompanhar, havia arroz branco, que, por minha insistência e sugestão, ainda passou pelo forno para tentar ganhar uma cor mais saudável que o branco-pálido-morto. A Mary ainda meteu mais arroz a fazer, porque o tacho inicial tinha arroz que dava para alimentar uma criança de quatro anos durante três minutos. Ninguém comeu alarvemente. Bom, eu ainda fiquei mais uns quinze minutos à mesa a enfardar arroz, mas isso agora não interessa. Para a sobremesa, apareceu um gelado Vianeta com ar raquítico e enfezado, do qual sobrou cerca de três quartos, não sei bem porquê. Para acabar em beleza, um cafezinho feito pela Mary. O Philip ia desmaiando de agonia, a Charlie engasgou-se e a Mary acho que se babou um bocado. Sabia mal que se fartava, desculparam-se. Eu não dei por nada e bebi da caneca maior. Não houve digestivo! Mas que m**** de jantar foi este? Hum?! Já não há gajas como antigamente? E estas duas ainda são solteironas, mas eu já estou a ver porquê! Não sabem preparar um jantarzinho agradável para os colegas! Não sabem! Ponto final! Ainda desafiei o Philip, ah e tal, temos que ensinar a estas gajas como se prepara um jantar porreiro, com entradas, um bom assado no forno, bom gelado, etc., mas ah e tal, não contes comigo na cozinha, pá, adiantou o Philip. Sou eu que vivo num mundo à parte? Sou eu?! Bom, ficámos combinados que, depois da Páscoa, juntamo-nos novamente para outro jantar. Desta feita, eu arranjo as entradas, eu faço o jantar, eu trago as sobremesas! Esta malta ainda está a tempo de aprender a cozinhar e a receber os amigos com alguma decência! Mesmo depois dos 30! Carago, oh Mary, nem uma porcaria de uma azeitona?!... pickwick

29
Mar07

A loira, a dentuça e a pele ao léu

pickwick

Outro dia, que era um belo dia de sol e calor, embora estivesse à sombra, fui acordado com violência. Era a hora do almoço, já mais para o começo da sesta do que para os aperitivos. Os meus dedos fervilhavam em cima de um teclado, olhos colados no ecrã onde as palavras surgiam a um ritmo alucinante, na ganância de aproveitar o tempo para adiantar trabalho e compensar o desleixo das semanas anteriores. Estava em transe-laboral, portanto. A sala estava resumidamente vazia, tirando a funcionária do bar, duas plantas de interior e o ruído da televisão. Estes momentos de sossego proporcionam oportunidades únicas para laborar com produtividade, sem gajas aos pulos, sem gajas a falar de parvoíces, e sem gajos a aturarem as gajas aos pulos e a falarem de parvoíces. A bem dizer, um gajo adormece para o trabalho – uma espécie de nível transcendental de ausência de sorna em que não há paragem nem apeadeiro. E foi deste estado de adormecimento que fui violentamente acordado. Do meu lado direito, a cerca de oito metros e trinta centímetros, surgiu um corpo ondulante, encimado por uma farta cabeleira loira. Ui!, exclamou imediatamente o meu subconsciente. Este alertou o consciente, o consciente alertou-me a mim, eu alertei o meu pescoço, o meu pescoço fez rodar a minha cabeça e zás. Olhos postos no corpo ondulante encimado por uma farta cabeleira loira. Não sei quem controlou os meus olhos naquele momento, mas o certo é que estes se fixaram alarvemente na zona do umbigo do corpo ondulante. Zona essa completamente ao léu! À mostra! Ali! Quinze centímetros de pele entre a cintura das calças e a borda inferior do top. A pele cor de bronze, como se tivesse mergulhado num banho para a tingir. Uiiiiiii!, exclamei, entre dentes. Corpo elegante, a abanar-se com o andar, nádegas e pernas sob uma calça de ganga deslavada e justa, apanhada à cintura por uma tira de couro. Em baixo, botas-de-dançar-numa-mesa-de-strip. Os olhos subiram. Peitos razoáveis, ombros quase à mostra mas meio tapados pela farta cabeleira loira e ondulada. Frisada? Como se chama ao cabelo meio ondulado como se tivesse saído de uma máquina de enfardar palha? Bem, o que quer que seja. Houve ali uns milésimos de segundo, enquanto fazia todas estas apreciações e observações, em que o meu subconsciente já ia um passo à frente, tentando colocar um bocado de raciocínio no ar. Um passo à frente, identificando a proprietária daquele preparo todo, daquele festival de sensualidade. O subconsciente – o maroto – ficou caladinho que nem um rato, esperando calmamente que o meu consciente me apanhasse a dar com os olhos no rosto da fidalga. Como que à espera para ver o espectáculo. E que lindo espectáculo! Assim que os olhos pousaram no rosto dela, a informação circulou rapidamente até à base de dados do cérebro, identificando-a como a fulana-tal, cujo nome desconhecia, mas cuja dentuça é uma aberração. AAAHHHHHHHH!!!..., guinchei quase a morrer de agonia! Era a gaja dos dentes de hipopótamo! Ah pois é! Que nojo! Imagine-se: uma gaja com ar de boazona, corpo de boazona, loira até mais não, elegante, gingona, mas com uma dentuça a brotar da boca que nem pode usar um copo para beber – tem de ser com palhinha de quarenta centímetros! Perdi logo o apetite para o lanche e para o jantar. Ela não tem culpa, eu sei, mas voltamos à mesma coisa. Uma gaja com aquela armação de dentes que quase chegam ao umbigo, deveria ter um bocadinho de bom senso e não se vestir de forma tão espampanante, nem pintar o cabelo ondulado daquela maneira tão loira. Na melhor das hipóteses, uma saia pelo joelho e pronto! E o umbigo à mostra é para quê?! E como é que ela come sopa? E para que é que ela se ri em público quando isso lhe projecta a dentuça vinte centímetros mais à frente que o normal? Não há uma noçãozinha de harmonia estética? Não há espelhos em casa? Bem, cheguei a casa ainda tão agoniado que corri a escrever essa crónica. Antes, fui procurar na net por alguma aberração semelhante, mas, dada a dificuldade, tive que me sujeitar a forçar qualquer coisa que pudesse, de alguma, forma ilustrar o meu discurso. Apresento, orgulhosamente, três versões de uma loira com dentuça.

Devo dizer, em abono da verdade e da justiça, que a terceira loira, com o cabelo ondulado (ou frisado, ou lá como se chama), tem extraordinárias semelhanças com a loira da dentuça que é a protagonista. Mas, tal e qual! O cabelo é assim, o rosto é assim, e os dentes são tal e qual como esta apresenta. Bom, os dentes são ligeiramente amarelados, para condizer com o cabelo, mas as dimensões são muito realistas, afianço! Isto é, ou não é, de um gajo apanhar um susto de morte cada vez que tira os olhos do umbigo e os choca naquela armação de marfim? É como aqueles gajos que trepam aos postes de alta tenção, com motivações obscuras e pouco inteligentes, e que, de repente, apanham um daqueles esticões que parece uma mistura entre o fogo de artifício na Madeira e as febras a fritar na festa do Avante – um flash que frita a vista e embrulha o estômago! Arre! Oh mulher!, não tens quem te apare o marfim com uma rebarbadora? Nem uma lima para as unhas? pickwick

24
Mar07

Pele ao léu

pickwick

Às vezes farto-me de ver tanta pele feminina ao léu. À mostra. É como aquele dito popular, de que “tudo o que é demais enjoa”. Pois, tenho a dizer que começa a enjoar. Ligeiramente! Mesmo com algum frio, ou com pouco calor, como se queira, as gajas andam com uma mania desabrida para terem sempre a cintura ao léu. O umbigo, as bochechas-laterais-bóias-de-salvação, o fundo das costas, ah e tal. Quando a elegância é inegável, é bonito de se ver, e eu sou um grande apreciador. Mas a coisa toma facilmente contornos pouco agradáveis, quando todas as gajas se lembram de andar nestes preparos, nem que tenham bóias que chegassem para alimentar um esquimó durante três semanas. Fica mal, pronto! Fazem de propósito? Claro que fazem! São umas… umas… enfim… umas endiabradas! Para não entrar por outro caminho. Ao menor gesto que implique levantar os braços acima da linha dos ombros, fica logo ali tudo a ver-se, a pele sedosa, às vezes o elástico da cuequinha de cores garridas, ah e tal. Já há uns tempos tinha reparado que a Gorety (nome de código) fazia parte do grupo que adora exibir a pele. É uma trintona discreta, pouco dada a gorduras para além daquelas que chegam com a idade, mas que nunca mete as camisas e blusas por dentro das calças. É sempre com a fralda de fora, e sempre de fralda curta. Mesmo quando o tempo não está para calores. A Gorety é como a Maria: é elegante, formosa, sexy, apetitosa, mas tem uma fronha que mete medo a qualquer um numa ruela escura. Hoje, calhou estar mais de uma hora na mesma sala com a Gorety, facto que não me causa qualquer transtorno por si só. Contudo, passadas algumas dezenas de minutos, calhou passar atrás da Gorety, que estava sentadinha numa cadeirinha e ligeiramente inclinada para a frente, nos seus afazeres. Espero não ser mal interpretado, mas o meu olhar foi atraído inocentemente para uma área corporal extensa completamente a céu aberto, ali por jeitos de quem não quer a coisa mas acabam-se as costas e ah e tal. Área extensa e geometricamente pouco convencional. Olhei melhor e… não vale a pena disfarçar, era mesmo o rego do cu! Também não vale a pena estar com paninhos quentes, que ah e tal era o entre-nádegas, o ribeiro do rabiosque, o refego dos quartos traseiros, o vale dos glúteos, o desfiladeiro nadegueiro, blá, blá, blá, ah e tal, porque não! Era mesmo o verdadeiro, o único, o inconfundível, o senhor rego do cu. A minha primeira tendência foi para exclamar um “Uiiiiiii” melodioso e começar a bater com o pé no chão e a uivar desalmadamente, mas o decoro falou mais alto e engoli qualquer trejeito brejeiro que me viesse a subir pelas goelas acima. Passei adiante, a fazer de conta que estava chocado com aquela ordinarice fruto de uma moda decadente. A moda das calças de cintura descaidíssima, cuequinhas enfezadas e escondidas, camisas e blusas curtinhas, ah e tal. Gostava de saber o que é que as gajas ganham com isto tudo? Aliás, o que é que ganharam com a revolução da mini-saia? Ar condicionado para as partes baixas? Um caminho mais curto entre o nariz dos homens e algum aroma íntimo? E hoje em dia? Querem freneticamente arejar o rego do cu para quê? Problemas de flatulência por causa daquelas porcarias das fibras e dos corpos danones e dos iogurtes magros? E a barriga sempre à mostra e ao léu é para quê? É algum sistema de arrefecimento da zona intestinal para amortecer gases? Ou acham que a exposição continuada ao frio provoca uma utilização mais intensiva das células, ao ponto de derreter gorduras, celulite e outras porcarias que se agarram à chicha como as lapas aos rochedos? Francamente!... pickwick

23
Mar07

Caro anónimo – versão P

pickwick

Em primeiro lugar, admito que seja um prazer estar a dar-te o destaque de que tanto necessitas, ao dedicar-te um post inteirinho, todinho só para ti. Faço-o apenas porque, presumindo-te um visitante carente de alguma atenção, aqui a resposta ao teu comentário será projectada com maior facilidade na blogosfera.

Posta a introdução, passemos às considerações sobre os teus sábios comentários. Usarei de transcrições para que tudo se revista de um maior grau de entendimento.

 

1. “Tu és...a mesma coisa que ter celulite no cérebro” – Obrigado. Vou tomar isso como um elogio. Ofensa era falares em teias de aranha e baldes de areia. Posso agradecê-lo à minha mãezinha, que desde pequeno me alimentou com muitos nutrientes. Lembro-me dos miolos de carneiro. O meu irmãozinho também teve que gramar com o petisco, e talvez tenha sido por isso que tirou 19,7 no exame nacional de Matemática, sem estudar (esta parte é que a minha mãezinha não pode saber, senão há caldo entornado lá em casa). A celulite em si, a bem dizer, é tão natural como ter cabelo na cabeça: desde que não seja em exagero, dá um toque de elegância natural.

 

2. “Como podes atacar tanto as mulheres dessa forma?” – Permite-me introduzir uma pequena correcção: eu não ataco as mulheres! Por favor, rogo-te que não me imagines escondido todos os dias atrás de um arbusto, com um taco de basebol na mão e um fio de espuma branca a escorrer pelo canto da boca, à espera da primeira mini-saia que passe por perto. Espero pela primeira mini-saia, sim, confesso, mas é tão só e apenas para bater palmas e elogiar mais uma dádiva da natureza. Bom, nem sempre, porque há gajas que não têm noções elementares de estética, mas, na maior parte dos casos, há, de facto, motivos para aplaudir de pé.

 

3. “Só gostas do que não tem nada na cabeça como tu” – Gostava de, com o devido respeito pela tua opinião, refutar esta afirmação. Como podes verificar num post não há muitos dias atrás, eu não aprecio gajas carecas! Eu ainda tenho uns curtos cabelos aqui e acolá, a fazerem de jardim relvado ao redor do heliporto, pelo que também não estarás a brilhar pela correcção insinuando que eu não tenho nada na cabeça. Tenho! São poucos, são curtos, alguns são brancos, mas existem! E, para que não restem dúvidas, não gosto mesmo nada de gajas carecas!

 

4. “Se não fosse uma mulher tu não terias nascido para azar do mundo” – Subscrevo inteiramente a primeira parte. A genética e a ciência em geral ainda não chegaram ao ponto em que não é preciso uma mulher para gerar um ser humano. A mulher, nem que seja apenas uma pequenina parte dela, continua a ser imprescindível para criar a vida humana. Quem sabe, daqui a muitos anos, não bastará a um homem masturbar-se para dentro de uma garrafa de polpa de pêra e esperar meia dúzia de semanas para que dali nasça um ser humano adocicado e já vestido com roupa de marca. Quando à segunda parte, não sei até que ponto viria azar ao mundo se eu não tivesse nascido. Não sabemos o dia de amanhã, nem se a minha mente perversa não tenderá a, um dia destes, criar, organizar e concretizar um regime político e uma nova ordem mundial que façam o Hitler parecer uma menina a brincar com bonecas no sótão da avó.

 

5. “Deves achar que és uma beleza em pessoa” – Se achas que eu deveria achar alguma coisa, achas mal, porque eu não acho coisa alguma que tu achas que eu devo achar. E muito menos acho que sou uma beleza em pessoa. Sou gajo e, a haver beleza num ser humano, será obrigatoriamente na pessoa de uma mulher. As mulheres é que são belas, bem cheirosas, simpáticas, sensíveis, leves e frescas.

 

6. “Imagina-te velho e desdentado, com as pernas arqueadas, pelo peso da idade” – Segui a tua sugestão e imaginei-me assim. A parte das pernas arqueadas é que foi mais difícil, porque não costumo andar a cavalo, mas fiz de conta que sim e até meti ao barulho umas esporas, um chapéu texano e dois Colt Frontier com coronhas em madre pérola. Devo confessar que fiquei mesmo a matar. A parte do desdentado, bem vistas as coisas, até dá um ar engraçado à figura, assim a atirar para o humorístico, para o bem disposto.

 

7. “Gostavas que gozassem contigo?” – Depende da perspectiva. Se estivesse num bar, a beber um copázio de polpa de pêra, era capaz de não gostar, pelo que teria de me chatear, sacar dos Colt e meter alguém a dançar por cima dos balázios. Se fosse num blog, especialmente no blog de uma gaja que adorasse velhotes, iria achar graça pela forma exagerada com que ela abordaria todos os aspectos da velhice, incluindo os mais brejeiros.

 

8. “Chegas a repugnar com a tua escrita” - És a segunda pessoa no mundo a bater-se contra a minha escrita com tanta dureza. A primeira chamava-se Maria (só podia!), era estudante universitária e tinha medo de engravidar só por se deitar em cima de mim… vestida com o pijama! Não sei que faça para aliviar tanta repugnância. Posso sugerir-te comprares um daqueles sprays de chantily e espalhares o dito pelo ecrã quando vens cá ler no nosso blog. Sempre fica mais doce e lembra a neve, que é tão bonita e pura. Depois há as águas gaseificadas, a máscara de gás, um desodorizante, uma lata de mão-de-vaca com feijão, etc. Tudo depende dos teus gostos, os quais desconheço.

 

9. “Afinal isso só pode ser um trauma” – Tudo na vida são traumas. Até as pancadas na cabeça! Ou da cabeça!

 

10. “A tua mãe e irmã são gordinhas” – A minha mãe é gordinha, como qualquer mãe que se preze. É muito bonita, ainda com aquela idade avançada, especialmente quando sorri. A minha irmã, se tivesse uma, seria bonita, mesmo que poucos pensassem o mesmo, fosse magricelas ou enchida. As mulheres não se medem aos palmos, embora dê um certo gozo fazer de conta que sim só para ver quem é que aparece com ar de parvo a defender o que não precisa de defesa.

 

11. “Daí o teu ideal de mulher ser tão exigente” – O meu ideal de mulher, nunca o vais saber. É uma coisa entre mim e eu mesmo, e raramente me vem à mente, salvo nos momentos em que desanuvio o pensamento com a escrita. Contudo, posso adiantar-te que o meu ideal de mulher é aquela mulher por quem me apaixono. E sim, é muito exigente, cada vez mais, mas elas andam aí, longe dos holofotes da parvoeira da fama, longe dos olhares arregalados e da baba a escorrer pelos beiços abaixo.

 

12. “Toda a vida conviveste com gordura” – Tenho que dar-te razão. A minha mãezinha sempre usou margarina para untar a forma do bolo, óleo para fritar as batatas e azeite para o refogado. Umas lascas de bacon também ficam sempre bem, para dar aquele toque no paladar. Já o meu avô – paz à sua alma – mudava o óleo aos motores dos veículos de uma empresa de transportes pesados. Acho que a minha avozinha também usava banha de porco em certas comidas, e ficava muito bem!

 

13. “Aposto que elas as duas, com a sua gordura devem ter bem mais miolos do que tu” – Lá está, não tenho irmãzinha, embora o meu irmãozinho seja muitíssimo inteligente, bem mais que eu. Não faço ideia de como ficariam os nossos miolos todos distribuídos numa escala de dimensões, para efeitos comparativos, assim tipo quadro familiar. Não vejo muito bem o interesse disso, até porque, em matéria de miolos (e de pila também, segundo algumas entendidas), não é a quantidade que faz a diferença, mas sim o uso que se faz deles. Mas podes sempre lançar a moda de comparar o tamanho dos miolos. Quem sabe possas ganhar alguns trocos com uma patente, ir à TVI fazer figuras perante uma plateia de focas amestradas que batem palmas, ou até “escrever” um livro e ganhar contentores de euros. Força nisso! pickwick

22
Mar07

Caro Anónimo

riverfl0w
Em primeiro lugar, admito que seja um contrasenso estar a dar-lhe o destaque que não merece, ao dedicar-lhe um post inteiro. Faço-o apenas porque, presumindo-o um visitante esporádico, aqui a resposta ao seu comentário será bastante mais fácil de identificar.

Primeiramente, estou seguro que se pretendia dirigir a mim (riverfl0w) e não ao autor do dito post (pickwick), que não sei se terá uma irmã, nem se ela é "gordinha". E mesmo que ambas as premissas se confirmem, ele é um rapaz que gosta de manter a sua privacidade, pelo que muito dificilmente alguém que conhecesse a sua família com esse grau de detalhe chegaria a este blog.

Quanto ao comentário, apraz-me tecer as seguintes considerações:

1 - O facto de não se identificar e/ou deixar um contacto para resposta é um claro sinal de cobardia. Compreende-se apenas no caso de ainda não ter atingido o nível de maturidade que lhe permita perceber que opiniões divergentes não se transmitem através de comentários anónimos. Em todo o caso, e já que conhece a minha família tão bem, concerteza que terá também um contacto meu, o que lhe permitiria transmitir as suas opiniões directamente;

2 - Em segundo lugar, assiste-lhe o direito de emitir opiniões sobre a minha pessoa, desde que, como já referi, se identifique adequadamente. Já para as suas opiniões serem consideradas válidas teria, como é do senso comum, de as justificar. Fica portanto, por explicar, a razão pela qual tece comentários infundados a meu respeito;

3 - Em terceiro e último lugar, classifica a escrita de repugnante. O texto em causa não foi redigido por mim, mas podia muito bem tê-lo sido. Urge portanto, cerca de 3 anos depois da criação deste blog, esclarecer um detalhe: as dissertações humorísticas não são escritas para serem levadas à letra. É necessária alguma clareza de espírito para perceber que a maior parte das vezes é apenas disso que se trata: humor. Pena que 99,9% dos leitores tenham atingido a clarividência para o entender, mas o caro leitor anónimo não.

Dito isto, passe bem e... cumprimentos à família. riverfl0w
21
Mar07

Sandy, que tal ires ao Brasil?

pickwick

Já ando para escrever sobre esta mulher há uns tempos, mas o frio que se tem feito sentir nos meses pretéritos não tem proporcionado ambiente adequado. Veio o sol, mas já está de partida, pelo que sobra o aquecedor para amenizar as agruras. Bom, vamos à Sandy. Obviamente, Sandy é um nome de código para esconder a identidade de uma colega de trabalho. Tenho que começar a precaver-me, não vá o diabo tecê-las e lixar-me a vida ao virar da esquina do tempo. A Sandy é uma moçoila dos seus 30 anos, mais coisa, menos coisa, de uma elegância irrepreensível, cuidada, bem trajada, pé ligeiro, óculos, cabelo ondulado… enfim, bem conservada. É mãe de duas crianças, cuja idade desconheço, pois não sou de andar a perguntar às minhas colegas que idade têm os filhos nem o que vão jantar logo à noite. Volta e meia traz saia, o que é muito simpático da parte dela. Podia ser ainda mais simpática e trazer uma saia acima do joelho, mas, pronto, não se pode ter tudo. A Sandy, apesar de todos estes atributos, tem um problema físico que me faz questionar:

1. Como raio é que um homem se agarra àquilo numa noite de muito entusiasmo e aromas sensuais?!

2. Como raio é que aquela mulher deu de mamar às crianças?!

Ou seja, para ser curto e brejeiro, a Sandy é desprovida de uma dimensão mínima de mamas. Seios, portanto. Nada! Tábua! Planície! É impressionante. Hoje, aproveitei o facto de ter passado a tarde inteira com ela – e com mais meio mundo – para investigar se as minhas teorias sobre a sua superfície peitoral se confirmavam. Aproveitei o facto de ela vir com umas calças de ganga justas, vislumbrando-se um corpo perfeito com as curvas nas medidas exactas, um casaquinho preto daqueles a imitar o fato de casamento dos machos, e uma camisa branca como a cal. A camisa branca, para gáudio do único gajo omnipresente nas mesmas reuniões que ela, era dotada de um decote muito generoso, ajudado pela forte goma do tecido. Por entre a abertura, e para além da prancha de pele e ossos, surgia o que parecia um soutien. Daquelas coisas que as gajas usam no peito para evitar que as mamas cheguem ao umbigo antes dos 25 anos. Obviamente que não me meti para ali com os olhos a saltar-lhe para dentro do decote, até porque à mesa estavam mais nove gajas. Mas deu para ficar com a ideia que o soutien seria de medida escandalosa: tipo tamanho zero e copa zero e coiso zero. Tipo paninho de algodão só para enganar o olho dos curiosos. Como eu ser careca e ir para a piscina de touca. Daqui a algumas semanas, dado que a Primavera chegou hoje, a Sandy aparecerá mais aliviada de roupas e poderei averiguar com mais rigor o volume (ou não) peitoral, do qual darei crónica aqui neste blog se tal merecer algum destaque. Vim embora, ao final do dia, com a quase convicção de que deveria convidar a Sandy para uma conversa a sós, longe dos ouvidos das demais trabalhadoras, no decorrer da qual lhe facultaria aconselhamento estético gratuito, sugerindo-lhe, com toda a franqueza, que se metesse num avião da Varig e fosse ao país das brasucas mamalhudas fazer um daqueles tratamentos miraculosos que incham as mamas até estas flutuarem como balões cheios de hélio no meio de uma tempestade tropical. Até lhe poderia fazer algumas sugestões relativas à dimensão, apresentando, com rigor científico de décadas de atenta observação, prós e contras desta ou daquela medida. Eu gosto de ajudar. É bonito. Especialmente quando está em causa a estética, o bom gosto, a satisfação pessoal da mulher, a satisfação geral do pagode, e sensação de bem-estar de quem sente qualquer coisa a baloiçar no peito. Sandy, que tal ires ao Brasil? Num mês, vais, voltas, habituas-te e entras no mês de Maio com um olhar à matadora e o guarda-roupa completamente renovado. O teu marido agradece, eu agradeço, e acho que até o porteiro agradeceria. E o Filipe também. E o Cláudio até era capaz de uivar! O Cláudio passa a vida a uivar, bastando que lhe venha à memória visual a imagem daquela tontinha da Sónia Araújo, mas acho que passaria a uivar só de te ver. pickwick

15
Mar07

Nossa Senhora do Assobio

pickwick

Bom, para ser franco, esta nossa senhora não é do assobio nem da bufa, mas, para manter o anonimato, há que não identificar locais. Seja do assobio e ponto final. Adiante. O frio já se foi, o calor está a ver se fica, há mais sol que sombra e enfim, apetece sair à rua, depois um Inverno cinzento e gelado. Por sair à rua, entenda-se um bocadinho de exercício físico para descongestionar as células que passaram meses a banquetearem-se com gorduras acumuladas pela ingestão de entremeadas, cervejolas, mais entremeadas, chouriças, queijos e outros requintados petiscos nacionais. Pronto, estou a exagerar, que até nem abusei muito, mas sabeis como é: verão, praia, sexo, etc. Outro dia, já lá vai quase um mês e ainda fazia frio, resolvi subir a escadaria da Nossa Senhora do Assobio, com aquelas capelinhas espalhadas entre os lanços. Aproveitei a estadia na cidade e, com as botifarras de galgar paredes, fui por ali acima, até à igreja, lá bem no alto. Cheguei com os bofes de fora. Completamente de fora. Se tivesse comido um iogurte, tê-lo-ia vomitado logo ali, pela boca e pelas orelhas e pelo nariz. Nem me conseguia baixar, porque as pernas não aguentavam e caía logo no chão, feito pardal. Pensei para comigo: oh caraças, estás mesmo em baixo de forma! Desci a escadaria toda até ao carro e rumei a casa, começando assim um penoso processo de incremento de uma dor irritante nos músculos das pernas, que só desapareceu passados muitos dias. Hoje, chateado por estar em baixo de forma, alegre por estar um belo dia de sol, fui até à escadaria da Nossa Senhora do Assobio. Larguei o carro ao cimo das escadas, numa jogada brilhante, e fui por ali abaixo, até ao fim da escadaria. Meia e volta, e aí vai ele, todo manganão, machão e muito viril, em passo ligeiro, degraus acima, o segundo lanço de escadas entusiasma-se, corre, corre, ao terceiro lanço vai a passo para regularizar a respiração, ao quarto lanço corre outra vez, upa, upa, eia, eia, bofes de fora, e é melhor não correr mais que isso cansa. Cheguei ao cimo de tal forma que nem podia com um rato pelo rabo. Pernas a tremerem mais que as canas num canavial em dia de tempestade. Inspira, expira, inspira, expira, meio segundo para cada. Tive que sentar no granito do degrau mais próximo, porque a vida não estava fácil. Sorte que não havia ninguém por perto, Especialmente gajas. É foleiro um gajo ser apanhado por uma gaja com os bofes de fora. Ponderei o estado físico, até porque a escadaria era mais comprida do que parecia, e achei que estava pronto para repetir a proeza mais meia dúzia de vezes. Gajo que é gajo, não se fica por menos. Retomado o ritmo da respiração, toca a descer. Ao terceiro lanço de escadas, cruzei-me com uma senhora de idade, de mochila às costas, a trepar os degraus como quem vai de patins, e já quase a chegar ao cimo das escadas, portanto. Ora, isto não abona nada em meu favor. Olhei em redor, não vi ninguém, e deduzi que mais ninguém topou que, tecnicamente, tinha sido batido aos pontos por uma velhota. Enfim. Atirei para trás das costas. Um gajo não pode atrofiar com estas coisas. Fica mal e não dá saúde. Chegado ao fim das escadas, meia volta, e aí vai ele, escadaria acima, todo macho, upa, upa, desta feita mais devagar, a arfar, a bufar, a revirar os olhos, quase a cambalear. Vergonhoso, eu sei, mas não estava lá ninguém para ver. Nem me atrevi a correr, não fosse tropeçar logo no primeiro degrau, como se este tivesse 90 cm de altura. Ao cimo, o mesmo pensamento: estado físico, aguenta-se mais uma? Claro que aguenta, mas só depois de descansar um bocado e deixar de arfar como um cão tinhoso que correu à frente de um búfalo durante quatro horas seguidas. E depois de deixar de ouvir aquelas batidas ruidosas no peito, o sangue a ser bombeado a toque de caixa pelo corpo fora, o motor quase a engasgar-se. Homem que é gajo, ou vice-versa, não desarma, e havia que tentar uma terceira vez, pelo menos. Assim foi. Pezinhos de lã escadas abaixo, pezinhos de chumbo escadas acima. Ao cimo, o delírio: tonturas quanto baste, o coração saltou cá para fora e ficou pendurado por uma artéria num dente, mais tonturas, pum, pum, pum, pum, parecia um burro a zurrar e a levar uma carga de porrada. Triste figura, eu sei. Mas não estava ninguém a ver. Nenhuma gaja. Estava safo. Ainda faltava um lanço até chegar ao carro. Parecia a Grande Muralha da China, tal modo parecia comprido. Eram só meia dúzia de degraus, pronto, mas parecia mesmo a muralha. Consegui chegar ao carro, pé ante pé, não fosse tropeçar e cair, que agora não podia cair, porque havia gajas ali espalhadas, nomeadamente enfiadas dentro de carros com gajos de ar suspeito que lhes aferiam a qualidade da chicha. Abri a porta de trás, entrei, tranquei as portas, deitei-me no banco e fiquei para ali, feito triste, ao abrigo visual do povo, a arfar, a gemer, a revirar os olhos, ai, ai, ai. Lembrei-me daquelas conversas que ah e tal, não faça esforço físico sem antes consultar um médico e não sei o quê, testes médicos de esforço, electrocardiogramas, água, muita água, muita sede, gajas boas, biquinis, ai que está a ficar muito calor aqui dentro, ai que ainda bato a bota. Enfim, tanta coisa, para nada. Foi só uma fraquezazinha de pouco impacte. Passageira. Entretanto, toca o telemóvel. Bonita altura para me ligarem. Do outro lado, a minha interlocutora fartou-se de não perceber o que eu dizia entre os gemidos e teve que tirar o auricular, sujeitando-se a comer uma daquelas multas de fazer xixi pelas pernas abaixo. O telefonema era para ir ter com ela. Lindo serviço. A muito esforço, sentei-me, saí do carro, voltei a entrar para o lugar do condutor, chave à ignição, vrum, e… Bem, as pernas tremiam violentamente. Parecia que estavam ligadas aos 220 V e em transe fantástico. Ora, isto dá muito jeito para meter a embraiagem, calcar o travão, ou, melhor ainda, acelerar o bólide. E, melhor dos melhores, é ir ter com uma gaja, a tremer das pernas, quase a desfalecer, quase a cair para o chão. Portanto, isto tudo começou porque vem aí o Verão, gajas, praia, sexo, boa forma física, blá, blá, blá, peito para fora, barriga para dentro, ah e tal, e acabou comigo a fazer figuras tristes ao pé de uma gaja, com um ataque crónico de fraqueza muscular nas pernas. Há uma mensagem qualquer por trás disto. Não sei qual é, mas há. pickwick

02
Mar07

Que nojo!!!

pickwick

Poxa, ainda agora me tinha visto livre da Arlete… e já me caiu no olho mais um horror da natureza humana. Não sei bem explicar, por isto há coisas que são mistérios ao quadrado, mas fui parar a um site muito sugestivo, onde os carecas imperam. Teoricamente, não haveria nada de mal, todos têm o direito de ser carecas, é como os piercings e as canecas de cerveja equilibradas em cima da barriga inflacionada, e as tatuagens na nádega e as calças-boca-de-sino. Mas, isto acabou num quase filme de horror! Gajos carecas, ainda vá, dá um ar maduro, poupa-se no barbeiro e nos pentes e nos champôs para piolhos, enfim, não fica mal. Mas… gajas?! Gajas carecas?! Mas anda tudo parvo, ou quê? Gajas sem cabelo? Não é normal. Esta gente não é normal. Estas gajas não são normais. As gajas já têm uma natureza que enfim, mas as carecas excedem-se! E metem nojo. Ora vejamos:

Temos, por uma ordem qualquer: Cameron Diaz, Britney Spears, Brooke Shields, Victoria Silverstead, Cindy Crawford, Sandra Bullok, Uma Thurman, Demi Moore e a Sharon Stone “perna-aberta”. Incrível. Parece aquela série que dava na televisão em que os gajos e as gajas eram de um planeta qualquer e não tinham cabelo e em vez disso tinham varizes nojentas e pareciam periquitos embalsamados e untados com óleo-de-fígado-de-bacalhau. Sinceramente, entre a Arlete e estas gajas todas carecas, venha o diabo e escolha, que eu cá não queria nenhuma, nem a pagantes! Chiça! Será um fetiche esta coisa das gajas carecas? Sei lá, para posarem para uma revista pornográfica num artigo técnico-científico sobre o fetiche de eles-querem-nas-todas-carequinhas? “Get a razor!”, dizem no site. Arranjem mas é um cérebro novo, ó seus badalhocos!, digo-lhes eu. Que agonia! Ai! E a pizza que tinha caído tão bem… pickwick

01
Mar07

A Arlete esteve grávida?!

pickwick

Ontem fui a uma reunião, ali a uma simpática cidade a meia dúzia de quilómetros do local de trabalho. Fui com duas colegas de trabalho, o que é muito bem, pois não é todos os dias que se vai passear com colegas. Infelizmente, não eram as duas colegas mais interessantes, antes pelo contrário. Profissão, a quanto obrigas! A reunião foi convocada pela Arlete, personagem de um post anterior publicado no início do Verão de 2006. A reunião foi numa espécie de mini-auditório, ou qualquer coisa parecida, daquelas salas abichanadas com poltronas a descer como nos cinemas, mesa para oradores, projector de vídeo, computador, flores e uma garrafinha de água. E lá estava a Arlete. Poxa, é mesmo feia e mal feita, pensei eu para comigo, no habitual e frequente momento de reflexão sobre a estética feminina que me rodeia. O rosto meio achatado, como se tivesse levado tantas lambadas em criança, que ficou com aquilo deformado. Olhos azuis, que ficariam bem a umas quantas mocinhas que conheço, ali, completamente desperdiçados. O corpo, em forma de bola de râguebi depois de um bom chuto, continuava intragável e a ferir-me a sensibilidade, sem ancas, sem cintura, sem nádegas que se apalpassem, com uma pipa em vez da barriga, enfim. Causou-me arrepios na espinha! A sério! Mas, pronto, era uma reunião do foro profissional e não um encontro de engate fácil num sábado à noite. Sorte que na sala havia mais fêmeas, algumas até bem dentro dos padrões aceitáveis e comestíveis, o que ajudava substancialmente a melhorar a qualidade do ambiente. A reunião era para durar duas horas, mas, como parece ser habitual na Arlete, foi drasticamente encurtada: ah e tal, não têm mais dúvidas?, mais nada a dizer?, ainda estão aí?, ainda não foram embora?... Salvou a pátria um colega de uma terra onde há uma boa adega cooperativa, o qual, muito exaltado, produziu um discurso desassossegado sobre o estado da nação e sobre as intenções maléficas e tenebrosas de uma fulana qualquer que nos quer muito mal e que nos batia a todos com uma enxada se pudesse. Assim, a reunião de duas horas, que a Arlete se estava a preparar para encurtar para meia-hora, foi redimensionada para uma hora. Já na fase final, assim em jeito de despedida e ah e tal até à próxima reunião onde estaremos todos juntos e vai ser muito lindo, veio à baila algum pisar-ovos sentido nalguns meses passados, ao que a Arlete, como coordenadora de não sei bem o quê que não precisa de coordenação mas não faz mal mas pagam mil euros e dão não sei o quê, se prestou justificar. Ah e tal, estive em licença de maternidade. Disse ela. Eu até pestanejei! Maternidade?! Quem fica com licença de maternidade são as mulheres que engravidam e dão à luz! À excepção daquelas que obtêm a licença de maternidade em virtude do parto protagonizado pelo marido, num daqueles filmes futuristas de muita ficção. Ou seja, após cerca de quarenta segundos de incredulidade, cheguei à brilhante e luminosa conclusão de que a Arlete tinha estado grávida e, como se isso não bastasse, deu à luz, e, como se isso ainda fosse pouco, houve um homem neste mundo de candeias às avessas que lhe saltou para cima e a fecundou! Mas… como é possível? Eh pá, por favor, a Arlete é mesmo, mesmo, mesmo, mesmo, mesmo feia, e muito, mas muito, muito, muito mal feita! Uma tia-para-sempre! Como é que alguém… Como é que o gajo sentiu… Como é que… Oh pá! Isto transcende-me, a sério! Parece uma daquelas cenas do jornal do insólito e inacreditável e muito incrível, tipo a mula que pariu dois leitões e cinco melancias, ou o gato que nasceu com meio bigode e uma unha encravada na orelha, ou o jumento que assobiava uma música do Julio Iglesias cada vez que a dona se abaixava para apanhar a roupa lavada do alguidar. É, basicamente, na mesma onda! E aconteceu! Eu já desconfiava que havia homens, neste planeta, com uma perspectiva estética muito adulterada, mas ainda tinha alguma esperança. Acabou-se. E não venham com a treta de ah e tal, o exterior e o interior, o interior da pessoa, que tem maminhas pequenas mas é muito boazinha, não tem ancas mas é um amor de menina, tem o corpo coberto de borbulhas enormes mas é uma querida, ah e tal mas é uma santa, o interior é o mais importante, blá blá blá. O caraças! Há é problemas ópticos, e não interiores amorosos e muito ricos! Mas, concordemos, fica bem o discurso do interior. Fica-me mal estar com estas conversas, a considerar impensável a paixão por uma mulher horrivelmente feia, e ficar-me ia lindamente um discurso a enaltecer o interior valiosíssimo da mulher, tão prendada, tão trabalhadora, tão paciente, tão empenhada, ah e tal, mas, depois de ver a Arlete e saber daquele pormenor da maternidade, confesso que perdi um bocado a capacidade para fazer filmes bonitos sobre o interior das mulheres. Não é por maldade, a sério! É só porque ainda estou com a mente atazanada por aquela visão. Isto passa! pickwick