Segunda-feira, 25 de Setembro de 2006
One night in Coimbra parte 2
Depois do Porquinho, fomos pelas ruas fora em busca de uma tasca para beber o café. Fomos a uma coisa chamada café com arte. Atenção, que não é uma tasca chamada Café com Arte. É café com arte. Porque o que é artístico é escrever com minúsculas. Dá um ar de intelectual, até. Ora, e era mesmo para intelectuais que a tasca estava virada, com uma extensa serventia de chás e tisanas e infusões e chávenas maricas com desenhos de dragões e mulheres de quimono, paletas de cervejas daquelas que faz de conta que são cervejas mas afinal são umas mistelas estrangeiras de fazer vomitar um porco, uma feira do livro usado a 50% de desconto com títulos disparatados e desconhecidos e que certamente não se conseguem vender de tão foleiro que é o conteúdo, e duas empregadas elegantes e boazonas e vestidas de preto sendo que uma delas era meio estrábica e tinha os olhos tão juntinhos que a cana do nariz quase não tinha por onde se enfiar e a outra de certeza que o amante lhe bate com a gaveta da cómoda cada vez que têm sexo. Gajas, ali, não faltavam, todas com um ar de cabecinha-de-teias-de-aranha e umbigo ao léu. Um regalo para o olho, claro. Eu tomei um BOP Moçambique. Tentei o mesmo esquema que para a sobremesa e pedi aconselhamento para o chá. A rapariga fez hum
errr
e perguntou se eu queria assim tipo calmante. Às tantas eu devia estar com um ar de bisonte alvoraçado no meio de um prado cheio de vacas suíças. Raio da miúda. Não, é ao contrário, disse-lhe eu. E ela escolheu o BOP Moçambique. Não sei o que é, mas bebi e fiquei na mesma. Ora gaita! Depois da arte do café, desandámos até uma aldeia nos arredores da cidade, onde parámos num barzito paroquial, já a acabarem-se os clientes. Podia ter-nos dado para pior, mas, entre umas minis, uns baldes de aguardente S. Domingos e mais umas bebidas que passaram ao esquecimento, deu-nos para estar para ali a fazer truques com cartas, truques com moedas, truques com cigarros, truques com canetas e por aí fora, como se conseguíssemos enganar alguém com aquelas parvoíces. Eu ainda pedi uma faca para mostrar um truque fixe mas, como pararam todos a olhar para mim com ar de susto, desisti e mostrei só um truque com moedas. Esta malta não aprecia o espectáculo, ora bolas! Bom, lá para as três e tal da madrugada, saímos da tasca. Pensava eu que a noite ficaria por ali, mas o pessoal teimou em ir a outra tasca! Com karaoke! Com muitas mulheres! Com muito fumo! Mal entrámos começou logo a correr bem, com uma loira toda elegante, de ombros bronzeados a arejar por baixo de um top às riscas, a iniciar uma canção qualquer. Foi sol de pouca dura. Até às seis da madrugada, hora em que, finalmente, saímos dali, todas as gajas que foram cantar ao microfone precisavam de uma sessão no talho para lhe tirarem umas generosas lascas de chicha. Mau para a vista. Enfim, mais umas camisolas com as costas despidas e tatuagens sensuais, umas minis, umas músicas, umas feiosas desesperadas, etc. Lá para as cinco e muito, apareceu a Ju, namorada do Tóti. Sentou-se ao meu lado, tirou a camisola e ficou com umas alcinhas pretas a favorecer a visibilidade para um peito abundante. O Tóti estava chateado e deu-lhe uma descompostura por ela ter ido para uma despedida de solteira e só ter regressado àquela hora. O amor é tão lindo, não é? Depois de uma noite mal dormida, almocei em casa do Nekas e fomos à tasca esperar pela Zu, uma miúda de vinte e um anos, com quem ele ia à tarde para uma reunião algures. Eu não conhecia a Zu mas avisei-o que se aproximava uma miúda da tasca. Tem umas mamas enormes?, perguntou o Nekas. Tinha. Então é ela, ripostou todo sabichão. Enormes, não. Descomunais! Chegou à nossa mesa, meio atrasada, ainda a acabar de se arranjar. Faltava-lhe um elástico para o cabelo. Procurou em cima da mesa, nos bolsos da saia e na carteira. Numa derradeira tentativa, procurou também nos bolsos da camisa. Quer-se dizer, na prática, abriu as mãos e apalpou aqueles peitos do tamanho da Lua, ostensivamente, alarvemente, ali, à nossa frente, à minha frente. Quase que se ouvia um chloc chloc daquela massa gigante de chicha fibrosa a sucumbir ao movimento vigoroso das mãos. Era o sinal que me faltava, para compreender que aquele não era o meu ministério, que aqueles ambientes, aquelas companhias, aquelas vistas, me eram prejudiciais, e que urgia fugir dali para fora rapidamente, não fosse aparecer uma amiga dela que também viesse com um esquecimento de qualquer coisa e se metesse ali a revistar os bolsinhos das cuequinhas rendadas
Deus meu, quando queres, és mesmo mau para mim! Porque me atiras para a frente dos olhos strippers loiras, mulheres com tatuagens nas costas nuas, cantoras gordas, ombros ao léu e seios XXXXXL? Porquê? pickwick
De
Catarina a 7 de Outubro de 2007 às 19:07
Eu trabalho no café com arte e acho que é extremamente mal educado falar das empregadas dessa maneira. Aliás, não trabalha, nem trabalhou lá nenhuma rapariga com os olhos muito juntinhos, muito menos estrábica. Mas enfim... fica bem na estória, não é verdade?
De
pickwick a 7 de Outubro de 2007 às 21:04
Querida Catarina,
Longe de mim pretender ser mal educado e, ainda menos, ser extremamente mal educado. Peço desculpa. Eu lembro-me muito bem de que lá trabalhava, na altura, tanto mais que num café não há mesmo nada para fazer senão olhar em redor até que a malta se farte de estar lá dentro e resolva mudar de poiso.
Mas, é certo que fica mais ou menos na estória. Se fica bem, só os leitores poderão dizer. Espero que voltes e que não seja para me bateres ;-)
tocar à trombeta