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Arautos do Estendal

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Arautos do Estendal

12
Mai13

Banho de leggings

pickwick

Para o Carlos, era para ser um fim-de-semana “só no relax”, em Mira. Pois. Ah e tal, na companhia de duas mocinhas de 23 e 24 anos, coiso, uns passeios de bicicleta, umas refeições agradáveis para elas mostrarem os seus dotes com os tachos, aspirar o ar do mar, comer uns caracóis, e por aí fora.

Mas, a vida não costuma prendar os atrevidos com a doce descontração da monotonia.

Tudo começou com um supostamente pacífico passeio de bicicleta a quatro pelos pinhais. Os homens, machos, trajados como quem vão para uma aventura. Elas, muito fêmeas, trajadas com leggings.

Podiam ser mal feitinhas de corpo, com nádegas-de-farinheira, flacidez generalizada e celulite abundante? Podiam. Mas, não. Nem uma pontinha de flacidez, ou gordurinha, ou celulite, ou o que quer que fosse fora do sítio. É no que dá praticar-se desporto regularmente e com afinco. Depois, o que é que acontece? Um gajo, vem lá da parvónia onde as gajas têm bigode e arrastam nalgas gigantescas, e entra em sofrimento súbito e incontrolável.

Eu podia ir na frente do pelotão, liderando e apontando o dedo ao arvoredo? Podia. Mas, fiquei para trás, em jeito de carro-vassoura, num sacrifício sem medida, torturado impiedosamente ao ritmo implacável de cada pedalada feminina. Eu já tinha uma impressão esteticamente positiva das leggings, e, ingenuamente, até pensava já ter atingido o zénite da apreciação desta moderna forma de trajar feminina. Que ingénuo! Credo! Há visões, a partir de um carro-vassoura, que são quase que indescritíveis, de tão perfeitas. Há uma harmonia no negro que cobre os glúteos, que ultrapassa todas as palavras que se poderão juntar para cantar o balancear das ancas. Enfim. Um gajo não faz mal a ninguém e depois tem que sofrer assim. Há justiça no mundo? Claro que não há.

A determinada altura, vimo-nos enfiados no meio de um mato confuso, alterado pela queda catastrófica de milhares de árvores em 2013. Opção: atravessar o leito de um ribeiro com cerca de uma dezena de metros de largura e água acima do joelho. “Vala” é como lhe chamam popularmente. Com as bicicletas. Eu não sabia, mas pedalar com água quase a chegar à coxa, não dá grande resultado, em especial com o fundo arenoso. Lá se fez a travessia, um a um, em grande galhofa, sempre na expectativa de que alguma alma tropeçasse e fosse arrastada pela corrente, afogando-se, devorada pelos crocodilos ou engasgada com um lagostim atravessada nas goelas.

Como a malta é jovem, a travessia não bastou. Houve que regressar para dentro de água, sem as bicicletas, e dar umas braçadas à mete-nojo. Fica sempre bem às meninas atirarem-se à água sem roupagem adequada… molham-se, a roupa molhada desadequada cola-se ao corpo, coiso e tal, as leggings não precisavam porque já estavam coladas, enfim. E, claro, roupa molhada torna-se transparente. O que faz com que, qualquer cuequinha com coraçõezinhos fica imediatamente visível, tanto em textura, como na dimensão da nádega que cobre.  

Como a malta é jovem, a travessia e o banho não bastaram. Havia que voltar para dentro do leito do rio e seguir a corrente, sempre com as bicicletas. Era um plano inteligente, audacioso, que correu lindamente na primeira meia dúzia de metros. Até os guiadores desaparecerem abaixo da superfície da água.

À noite, de banho quente tomado e agasalhados por causa do vento frio, comeram-se uns caracóis e beberam-se umas cervejolas e provaram-se novamente uns “viriatos” e tentou ver-se um filme e tal.

No dia seguinte, Domingo, novamente em cima das bicicletas, novamente leggings, novamente um sofrimento indescritível. Ah e tal, são tão confortáveis, comentava a Liliana. E pensava eu para comigo: são tão confortáveis, que se consegue averiguar mais detalhadamente o corpo de uma mulher de leggings do que o de uma mulher com micro-biquíni. Este, é um facto inquestionável. Aliás, eu até ia mais longe. Mais detalhadamente do que uma mulher nua, porque pode ter aqueles quilómetros de pêlos públicos encaracolados que distorcem as linhas da pele. Com leggings, não há enganos nem distorções. As leggings revelam a verdade. Tenho dito!

Para aliviar a coisa, teoricamente, surgiu a oportunidade de um passeio numa barca típica numa lagoa. Podia ser um passeio pacífico? Podia. Não fossem as meninas gostarem de ficar de pé, em cima do banco da barca, a balouçarem para um lado e para o outro. De leggings. Num lindo dia de sol. Com a luz recordada pelo negro que cobria os glúteos. Já tinha falado no negro que cobria os glúteos? Talvez, mas nunca é demais reforçar certos detalhes, não vá a memória fraquejar. Acho que os escravos das galeras sofreram menos em décadas de trabalhos forçados do que eu ali, em meia-hora de tortura psicológica.

Por fim, a Liliana fez um arroz de tamboril que ainda não provei, por estar aqui na escrita, torturado pela circulação das leggings dela pela cozinha. E a Alexandra fez uma sobremesa húngara com croissants fatiados (what?!) que também ainda não provei, e sim, a Alexandra também anda para ali de leggings de um lado para o outro. Há um ambiente nesta cozinha que não se aguenta!!! pickwick