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Arautos do Estendal

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Arautos do Estendal

24
Ago12

Blind date da Michelin

pickwick

Este post poderia ficar-se por uma simples frase-título: blind date com uma boneca da Michelin. Mas, não. Quero enterrar-me que nem um calhau no lodo. Porque, convenhamos, bem o mereço.

 

Depois de três dias a suar a 40ºC, a alternar funções entre canalizador e produtor florestal, fiz-me ao caminho em direcção a casa, atravessando a Serra da Estrela. Chegando ao destino, foi tomar um banho com escova de arame de aço, desfazer a barba, passar meia hora pelas brasas, vestir e sair. Numa breve troca de mensagens, combinei o encontro num centro comercial da cidade, local de que ninguém desconfia e que fica sempre bem.

 

E como é que um gajo alinha num encontro com uma mulher que não conhece visualmente? Não sei, mas também não interessa, porque, quando o cérebro começa a sucumbir ao intenso calor do verão e à tortura do jejum, tudo é possível. Além do mais, há sempre uma componente surpresa que pode resultar em surpresa agradável, ou, pelo menos, em surpresa não demasiado desagradável. É, mais ou menos, como jogar no Euromilhões. A esperança, que é sempre a penúltima a morrer (a última é a barata), é o alimento para jogadas deste calibre, a roçar o desespero.

 

No entanto, caiu tudo por terra assim que ela se apresentou ao pé de mim: a verdadeira boneca de Michelin, praticamente da minha altura!!!

 

 

O primeiro instinto foi gritar, entrar no carro e fugir para os Pirinéus. Mas a agonia tomou conta de mim e prendeu-me os movimentos. Senti que, se fizesse algum movimento brusco, poderia haver consequências graves ao nível fisiológico. Foi aterrador!

 

Nestas ocasiões, um gajo vê a vida a andar para trás. Mais ou menos como se tivesse acabado de espetar o carro contra a traseira de um camião, ou caído de cabeça de um sétimo andar, ou levado um tiro de caçadeira no rabo. Ou, pior dos piores, como se tivesse acabado de sofrer um violento e incontrolável ataque de diarreia numa sala fechada e partilhada com mais quinhentas pessoas, ao ponto de ficar com os sapatos empapados e a fazerem slosh slosh a cada passada. Parece exagerado, mas não é!

 

Dado que a fuga não foi a opção, tive que levar as coisas na desportiva e seguir de acordo com o plano: um passeio a pé pelo parque da cidade, um passeio de carro pelas zonas mais turísticas e um jantar algures.

 

O passeio a pé pelo parque quase levou a moça a perder 200 kg ali mesmo, a arfar atrás de mim, ora a subir, ora a descer, levando com uma palestra sobre as árvores do parque, os esquilos, as bolotas, as sementes, e etc.

 

O passeio de carro, foi de gestão difícil, com a moça a suplicar para pararmos e darmos uma volta a pé, eu a fazer-me desentendido, ela a insistir que havia lugares vagos para estacionar, eu a exclamar ups que já passámos, e por aí fora.

 

O jantar, que era para ser num local fofinho, caso houvesse alguma satisfação no ar, acabou por ser no enfarta-brutos, que ao menos eu haveria de compensar a desgraça com alguma abundância de alimento. E a moça, a querer dar um ar de quem come pouquinho, apesar de eu, intimamente, achar que ela provavelmente come meia vitela com natas logo ao pequeno-almoço e acompanha os almoços com três latas de leite condensado.  

 

No meio disto tudo, a estratégia foi debitar conversa a um ritmo imparável. Porquê? Porque, com gajas assim, que, ainda por cima, têm falta de simpatia natural, corre-se um risco muito sério de levar com uma manápula na perna num qualquer silencioso intervalo de mais de dois segundos.

 

Felizmente, ou desesperadamente, uma parte da conversa ao jantar incidiu sobre o passado recente: o descalabro da irregularidade do sono, os trabalhos forçados debaixo de um sol abrasador, os quilómetros em quatro rodas, etc. Motivos mais que suficientes para que o episódio que se seguiu ao jantar fosse simplesmente deixar a moça junto ao respectivo automóvel, antes que o sono se apoderasse de mim e ficasse impedido de conduzir na posse total das minhas faculdades e ela sugerisse ah e tal deita a cabecinha aqui no meu colinho que eu faço-te umas festinhas e tu dormes um bocadinho e coiso e tal. Quanto parei junto ao carro dela, quase que a empurrei porta fora. Muito apressadamente. Afinal de contas, já ia com três horas de conversa ininterrupta!

 

Safo, mas como quem foge a sete pés de um bando de leões à solta num circo, reparo que havia uma SMS no telemóvel. Era da Liliana, tão querida, a perguntar se eu estava bem de saúde. Esta rapariga deve ter um sexto sentido exageradamente apurado! Como é que ela adivinhou que eu estava ali para morrer de indisposição e agonia??? pickwick

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