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Arautos do Estendal

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Arautos do Estendal

15
Mar12

A dieta, a tareia e o rodízio – parte 3

pickwick

Em tempos idos, há duas décadas atrás, a segunda metade dos meus treinos de judo era passada com uma única ideia em mente: sair dali feito galgo, largar o saco em casa, assentar praça no Inhangá, e verter avidamente duas canecas de cerveja gelada. Mesmo quando era inverno ventoso e frio, e tinha que ficar debaixo de uma chuveirada de água gelada para acalmar o ritmo corporal. Não é que seja coisa inteligente de se fazer, mas a mente tem razões que a própria razão desconhece, como diria alguém.

 

Na mesma onda, assim que me vi livre das tareias todas e despachado da passagem pelo topo do pódio, a minha bússola virou o Norte para um generoso prato de carne suculenta, acompanhado por muita cerveja. E não haveria nádegas ou decotes neste mundo que desviassem a agulha da bússola!

 

O imparável desejo concretizou-se com a invasão de um restaurante abrasileirado, para um “rodízio à brasileira”. O vaivém de carnes, a pinça para agarrar a fatia cortada na hora, o feijão preto, a couve, uiiii… Foi a loucura! Ainda por cima, era uma menina brasileira a servir, com um sorriso de orelha a orelha, num exibicionismo bem-vindo da dentuça branquinha. Muito fofinha. Eu estava mais interessado em consumir cerveja desalmadamente e abocanhar toda a carne que passasse a menos de um metro da nossa mesa, mas, ainda assim, consegui prestar alguma atençãozinha à moça. Muito fofinha. Acho que já disse. Não faz mal. A partir de certa altura, um gajo começa a ficar familiarizado com o sotaque brasileiro em tom feminino e solta-se a língua com muita facilidade, mas isso agora não interessa. Pelo menos, até consegui arrancar uns sorrisos e umas frases filosóficas da menina, a propósito da couve, que eu confundi com salada (mania de fazerem tudo verde) e da qual pedi para repetir alarvemente. Quando se tem um buraco negro no estômago, vale tudo, desde salsichas e picanha, até um monte de quinze centímetros de couve. Ah e tal, pena a maior parte das pessoas não gostarem assim de comida saudável, disse ela. E que bem que tu ficavas de biquíni, misturada aqui nas couves do meu prato, pensei eu. Mas uma cervejola e acho que lhe perguntava se podia fazer o favor de despir-se, besuntar-se com molho de pimenta e esticar-se ao comprido na nossa mesa. E as carnes continuavam a vir, umas atrás das outras, até a última fatia ficar a boiar mesmo às portas do estômago. No limite, portanto.

 

Bom, tivemos que dizer adeus à menina e rumar ao Dolce Vita para lavar melhor as vistas durante uma horita e comprar umas câmaras de ar para bicicletas. O centro comercial estava em crise, ao que acrescia alguma inércia ocular da minha parte, devido ao excesso de couve e cerveja. Enfim, são coisas da vida.

 

Pouco depois, e contrariando os planos iniciais, decidi meter-me ao caminho e regressar ao lar-doce-lar. De repente, sentia-me como se tivesse jantado uma saladinha de atum magro, acompanhada com um sumo light. O estômago começou a encolher misteriosamente e o efeito da cerveja estava completamente dissipado. De facto, ao fim de meia hora de viagem, tive que parar para meter mais qualquer coisa no estômago, que já não aguentava a dimensão do buraco!

 

Não sei o que raio se passou, mas andei uns quatro dias com um problema de alimentação. Uma fome insaciável. Ok, fiz uma dietazinha ligeira. Ok, borrei-me todo nos quatro combates, ao ponto de ficar com dores no corpo todo até sexta-feira. Mas, nada disso me parece explicar uma fome permanente, como se tivesse passado um mês a água e casca de árvore numa qualquer selva tropical. Presumo que tenha havido para aqui uma revolução no organismo, das grandes, para ficar naquele estado. Não é normal, quando um gajo acorda de manhã cedo a sonhar com lasanha, come lasanha, imagina lasanha, visualiza lasanha no velocímetro do carro com fios de molho de tomate a fazerem de ponteiro, e adormece a pensar que a lasanha podia levar picante por cima para ficar ainda mais gostosa... pickwick

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