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Arautos do Estendal

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Arautos do Estendal

16
Dez11

Apalpou-me o braço!

pickwick

Desde há já vários meses que uma colega de trabalho me olha com uma insistência pouco discreta. Também manda umas SMS às vezes meio despropositadas. Aparentemente, isto seria delicioso. Mas, a rapariga é casada, é mãe de três filhos e tem características físicas que não abonam a favor de uma hipotética empatia visual: cintura de copo de imperial, caroços de azeitona em vez de suaves mamilos, queixo de golfinho, cabelo de coco empastado, locomoção em “passo doble”, enfim.

 

Físico à parte, usa “prontos” e “portantos” com demasiada frequência para o meu gosto.

 

Seja no local de trabalho, ou à mesa numa refeição, passa a vida a olhar-me. Não lhe fica bem e confesso que me incomoda bastante.

 

Esta semana, fomos a uma reunião a alguns quilómetros do nosso local de trabalho, num dia de chuva. À saída, e porque tínhamos ido quatro pessoas no mesmo carro, saímos juntos. Como chovia e eu não uso guarda-chuva (por causa do Alzheimer), a rapariga insistiu em dar-me “boleia” debaixo do dela. Eu não aprecio “boleias” desta natureza, até porque uma chuvinha na careca sempre ajuda a suavizar as emoções e a dar valor ao lar. Mas, não fui suficientemente explícito quanto à minha vontade de molhar as ideias. A rapariga agarrou-me pelo braço, qual cachorro esfomeado a abocanhar um osso. Mais do que agarrar-me o braço, apalpou-o, como quem dizia: ui, anda cá, ui, ui, nhac, nhac, …

 

Senti-me como que num estado de pré-violação. Como se já me estivessem a puxar pelo elástico das cuecas e a enfiar o dedinho onde o sol não brilha. Ela parecia satisfeitíssima, aos apalpões. Eu contava os metros que faltavam até ao carro. Por fim, a liberdade. Ufa!

 

Nota final: O que é uma “cintura de copo de imperial”? Bom, é como um daqueles copos de imperial de tasquinha, ligeiramente mais estreitos em cima e em baixo do que a meio. Coisa feia de se ver numa mulher, mas frequentemente impossível de evitar. pickwick