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Arautos do Estendal

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Arautos do Estendal

28
Jun06

Tique taque…

riverfl0w
Hoje fui apanhado de surpresa. Outra vez. Bem, não foi bem uma surpresa, porque já raras são as coisas que me surpreendem, mas pronto. Apareceu um mocinho novo para aprender a arte da fazer contas. Chama-se Fábio, vou ter que o aturar durante mais umas semanas, e não sei como é que não lhe enfiei um chapadão! O Fábio é um personagem que se arrisca a ser levado pelo vento, conduz um Opel Tigra com ar altamente abichanado (bem condizente com o condutor, aliás), e usa uma camisa Denim não-sei-o-quê. Se há coisas que me irritam profundamente, ou que me fazem rebolar no chão a rir, são os tiques. E os taques. Os tiques e os taques, como qualquer bom relojoeiro sabe explicar, andam aos pares. Bom, então o Fábio tinha um tique e um taque, os quais passo a descrever. O tique, primeiro. No pescoço. Não é bem no pescoço, é mais nos miolos, que comandam os músculos do pescoço e lhe provocam uns tiques na gadelha. Ah, faltava dizer, que o rapaz tem daquelas gadelhas típicas dos betinhos irritantes, muito farfalhuda como que a dizer olhem para mim que eu sou mais que vós. Assim, numa média de 2 vezes por minuto, o rapaz dá um tique no pescoço, daqueles para sacudir a gadelha e meter na ordem uns quantos cabelos. Isto, como qualquer pessoa compreende, é altamente irritante. Especialmente com aquele arzinho de beto gay! Há coisas na natureza que são impressionantes, e uma delas foi a quase incontrolável vontade que se apoderou de mim de também ter um tique no (meu) braço e ajudá-lo a sacudir a gadelha, os piolhos e o amaciador para o cabelo, fazendo-lhe saltar os olhos das órbitas com o impacto. A sério! Cada vez que tinha um tique, eu tinha um princípio de tique também no meu braço, pá, uma coisa extraordinária, um fluxo de energia que só consegui controlar com muito esforço. Depois, há o taque. O taque deste jovem é, a cada vez que se engana e é chamado à atenção, repetir um “tem razão”, daqueles como quem aprova o reparo, porque se não aprovasse estava o caldo entornado e tinha que se chatear comigo. Do género: Ele: 1+3=5 Eu: Não… 1+3=4 Ele (depois de pensar um bocado): pois é, tem razão… É ou não é um taque irritante? Assim, passar duas horas com um gajo com ar gay, camisa Denim, com tiques para ajeitar a trunfa de 30 em 30 segundos e a dizer “tem razão” de 5 em 5 minutos, não é maneira de se ter uma vida saudável. É quase como ter um rafeiro bisgarolho a ladrar-nos incessantemente para as pernas… em pouco tempo somos tentados a pontapeá-lo sem medidas. Enfim. pickwick
18
Jun06

Colares de pérolas e dardos na patroa

riverfl0w
Há fins-de-semana que nos apanham de surpresa. Ou surpresas que nos apanham ao fim-de-semana. Neste que agora mesmo findou, acordei a meio de uma bela tarde de sábado com uma bela princesa na minha cama. Estava toda nua e tinha um colar de pérolas tipo cor de uva ainda a tostar ao sol. Ora, como todos sabem, faz parte do sonho de qualquer macho que se preze acordar com uma bela princesa toda nua na sua cama. Com ou sem colar, sem ou com pérolas. É bonito, é sensual, é apaziguante, é relaxante. Está calor, cheira a férias, cheira a outras coisas que não são para aqui chamadas e sabe bem. Quando se traça um quadro assim, imagina-se um ambiente condizente e requintado, “à matador”, portanto. Contudo, neste fim-de-semana, a única coisa que se aproveitava deste quadro era mesmo a bela princesa com o seu colar de pérolas, porque o resto, bem, era o caos: um quarto com 1,5x3,0 m, que não passa de um cubículo; dois sacos-cama usados, abertos à toa e a necessitarem de uma máquina de lavar; um estendal portátil para secar roupa, atulhado com o conteúdo de duas máquinas de roupa cheias, num mix divertido e colorido de t-shirts, meias foleiras e cuecas másculas; livros e revistas empilhados debaixo de pilhas de pó; uma caixa da roupa suja perigosamente aberta, sujeitando quem passe a cair lá dentro; roupa que já não sei se está usada ou lavadinha de fresco, espalhada em cima de tudo e mais alguma coisa; e uma cama que foi um sofá rasca em metal e que milagrosamente sobreviveu a 140 kg. O que me vale é que esta princesa não é mariquinhas, senão o acordar a meio da tarde teria sido o fim do mundo. Ah, falta só acrescentar um pormenor sobre o ex-sofá rasca: aguenta mais do que 140 kg… tem a haver com aquela cena da física, sobre a energia cinética e etc. Mas isso, é outra estória. Também neste mesmo fim-de-semana, dei comigo a partilhar vivamente com uma amiga íntima, muito íntima, uma mão cheia de amarguras derivadas da estupidez crónica da nossa patroa. E como se partilha devidamente uma amargura? Bem, há várias maneiras… Mas acabámos por encontrar uma forma reconfortante de afogar as amarguras. Para tanto bastou um computador com Internet, uma impressora e um jogo de dardos afiados. Vai-se à Internet, saca-se uma foto da nossa patroa, imprime-se, prega-se no alvo redondo, dá-se uns passos atrás, e zás! Confesso que acabámos por divergir ligeiramente na zona a atingir. A minha amiga, que é uma amiga íntima, tinha uma predilecção mórbida por atingir o coração. Era tanta a predilecção que recortou um coração em papel amarelo e colou-o sobre o externo da fotografia da nossa patroa. Eu ainda lhe tentei explicar que o coração fica mais ao lado, ah e tal, mas ela não quis saber, ficou mesmo ao meio e pronto, bota os dardos para cima. A minha preferência foi para a zona da cabeça. A testa fica sempre muito bem com um dardo bem espetado, idem para o queixo, mas o melhor de tudo é mesmo num olho. É artístico e fica bonito. E enfim, podia dar-me para pior. Às tantas, o mal é sono… pickwick
07
Jun04

Trintonas e quarentonas

riverfl0w
Foi tão bom sentar-me ao lado dela!... (suspiro) Anda há semanas a fazer uma apresentação em powerpoint, aquele programinha maravilha do senhor Portões, e dia sim, dia não, planta-se perto de mim, no computador mesmo ao lado do meu. Aproveita para tirar umas dúvidas e chular umas dicas, sempre no interesse desinteressado da boa qualidade do trabalho final. É uma trintona. Muito bem conservada. E descomprometida. Pelo menos parece. Se não for, passa a ser, a bem desta narrativa. Daqui a nada é promovida a quarentona. As promoções da vida são o desespero de muitos, o princípio da decadência de outros tantos, e a oportunidade de triunfo dos que restam nos degraus abaixo. Isto vem tudo a propósito do facto de as trintonas e quarentonas descomprometidas me partirem todo. São demais! Bem conservadas, assim assim, ou mesmo já em fase de decomposição, há uma auréola de mistério que as envolve a todas. Seja o mistério A e o mistério B. O mistério A é o mistério daquelas que cresceram com a vida, são sabidonas, vividas, senhoras de si, principalmente do seu nariz, sabem estar, sabem ser, dominam o latim e fazem um homem sonhar com o carrossel e a montanha russa. O mistério B é o mistério daquelas que, enfim, pararam no tempo e no espaço, em todos os aspectos, e para as quais apenas tenho um trejeito: abanar tristemente a cabeça e soltar um “tss tss” misto de compaixão e reprovação. Resta decidir, pesando os legumes e as rendas, qual dos dois mistérios as torna mais apetecíveis. Misturando com a varinha mágica os atributos físicos que tanto nos regalam a vista, a decisão torna-se tarefa extenuante. Habilitamo-nos a encarar um mix típico do pau-de-dois-bicos, ou, com um pouco mais de sorte, a perder logo o apetite para as próximas duas refeições. É o verdadeiro mistério. Eu gosto de mistérios. E de arroz doce. Amanhã vou estar com mais atenção. Onde trabalho parece que as trintonas e quarentonas descomprometidas caem do céu de hora a hora. Vou levar uma rede para as apanhar antes de caírem no chão e se magoarem. Coitadinhas. pickwick
26
Mai04

Pedinchite aguda

riverfl0w
Pensei que me tinha livrado dela até ao Verão, mas hoje vim a descobrir que não. Raios a partam... não tenho nada contra ela, pessoalmente, mas contra a maneira como se acerca de mim para pedinchar. Mais uma vez. Não tenho nada contra pedirem-me ajuda para isto ou para aquilo. É um prazer ajudar e ser útil. Mas, ó meus amigos, quando se nota a léguas que nos pedem ajuda porque têm preguiça, ó pá, aí tenham paciência... só dá vontade de lhe pegar pelos cabelos e rodopiar-lhe o corpo por cima do parapeito da janela. O caso é o seguinte: a fulana, tal como muitas fulanas, flausinas e trastes-que-tais, tem a mania que não percebe muito de computadores. Ora, em face da necessidade de usar uns quantos como consequência da sua profissão, toca a chatear este colega de trabalho para que lhe dê uma mãozinha. Eu é que só tenho duas mãozinhas e já usei as duas e os pés e acho que até uma orelha, em momentos anteriores em que a dita fulana recorreu aos meus préstimos. Acontece que estes meus préstimos são de um nível científico extraordinário, capazes de serem aprendidos e executados por uma criancinha de 8 anos após observar a primeira vez, e só com um olho. Mas esta fulana insiste em não querer aprender. Pois, é mais fácil vir pedinchar aqui ao colega, que não tem mais nada para fazer fora do seu horário de trabalho. Não há paciência! Ainda por cima, aborda-me como se eu fosse pago para andar atrás dela, feito mordomo que passa a escova no fato do patrão porque este não sabe como se passa a escova no fato. Irritam-me profundamente as pessoas que insistem em estagnar o seu conhecimento naquele patamar para o qual treparam pomposamente décadas atrás, ainda que seja apenas o primeiro degrau de uma imensa escadaria. Ou anos. Ou meses. E não têm vergonha de serem assim. Não têm vergonha de serem ignorantes. Não têm vergonha de não mexerem uma palhinha para aprenderem mais alguma coisa na vida. Provavelmente a culpa é nossa. Nossa, dos normais. Minha, que não sou muito normal, mas que consigo disfarçar quando está nevoeiro. Culpa minha, porque eu devia era ter-lhe enfiado dois dedos nas narinas, levantando-a do chão, e dizer-lhe num bafo pestilento: “Ó sua @#$+*\ mal jeitosa, carregas naquele botão redondo e psicadélico na frente do computador, o bicho liga-se, carregas no botão maricas do leitor de cd’s, metes lá dentro o cd, voltas a carregar no maricas para engolir o cd, e tá feito!!! Ok??? E agora: xô!!!...” pickwick