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Arautos do Estendal

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Arautos do Estendal

05
Abr12

Do Japão para as Docas

pickwick

Num belo domingo, fui até uma capital de distrito para jantar com a Liliana. Já andávamos a tentar combinar este jantar desde mil novecentos e tal, e, finalmente, chegou o momento. Tirei a roupa empoeirada com terra solta e algum estrume, banhei-me, barbeei-me, vesti uma roupa desapropriada para quem está acampado, e meti-me ao caminho. Assim, de repente, ninguém diria que o dia tinha sido de trabalho rural.

 

À hora combinada, lá me encontrei com a Liliana, no sítio do costume (só houve uma única vez prévia, mas fica sempre bem dizer isto assim). A coisa começou a correr mal logo ali. Ela podia ter aparecido de calças de ganga? Podia, claro. Mas, não. Eu acho que ela tem um “quê” daqueles torturadores medievais dentro de si. Em vez da ganga, apresentou-se de vestido preto, curto, meias fantasiadas e sei lá mais o quê que não consegui reparar porque só estava preocupado em tentar convencer-me a mim próprio de que começar a uivar ali mesmo não seria uma ideia muito feliz. Nem que fosse entredentes. Aproximamo-nos, beijinho, ui que cheira tão bem, vestido curto e salto alto. Isto do salto alto é que… enfim… com um bocadinho de laca no cabelo e ultrapassava-me em altura. Medo!

 

Por esta altura, eu já começava a dizer mal da vida. Embora a minha roupagem passasse despercebida em qualquer cidade, o mesmo não se poderia dizer do meu bólide, todo porcalhão, manchado de terra misturada com pingos de uma chuvada recente, com meio quilo de poeira a dormir a sesta no limpa-vidros traseiro. Vergonhoso, eu sei, mas já era tarde. Eu podia deixar a Liliana ali um bocadinho à espera e ir a correr lavar o carro numa estação de serviço. Podia. Ou podia pedir encarecidamente à Liliana para ir a correr trocar o vestido por umas calças rotas que melhor condissessem com o aspecto rural do meu carro. Podia. Mas, por vezes, mais vale ficar quieto.

 

Ela pareceu não se importar muito com o contraste e entrou para o carro. O ambiente ficou pesado. O habitáculo encheu-se com o perfume dela e, por momentos, pensei para comigo que já poderia começar a uivar, uma vez que ninguém me ouviria, à excepção dela. Poderia, mas não comecei. Se começasse, é provável que acabasse a jantar sozinho. Mas, isso agora não interessa.

 

Por sugestão da Liliana, fomos até ao Japão. Foi a primeira vez que entrei num restaurante japonês. Sempre me esquivei aos restaurantes japoneses, para não ter que me sujeitar a comer “sushi”, uma espécie de carapau gigante, totalmente cru e com os olhos ainda a revirarem-se de sofrimento pela falta de água. Eu já não sou apreciador de peixe, mas, peixe cru, só se estivesse um mês inteiro à deriva num qualquer oceano, em cima de uma frágil jangada, naufragado sabe-se lá de quê. E, mesmo assim, seria apenas uma petingazinha, sem rabo. Bom, adiante.

 

Sentámo-nos e a Liliana começou a tirar o casaco. Apoderou-se de mim um pânico tridimensional! Ambiente pesado, novamente. Como qualquer cidadão sabe, quando uma mulher tira o casaco que veste por cima de um vestido, está lançada a confusão! De um impulso, estive prestes a saltar para a Liliana e gritar-lhe “não! não dispas o casaco, por favor, poupa-me!!!”, mas, numa fracção de uma cagagésima de segundo, pude constatar que o vestido não tinha decote. Foi um grande alívio, tenho que confessar. Um “obrigado, Deus meu” escapou-se-me debaixo da língua, muito baixinho. Comer “sushi” de frente para um decote, daria asneira pela certa: de certezinha que, em alguma altura, me engasgaria inadvertidamente e ficaria com meia posta de carapau cru entalada numa das narinas.

 

Não sabia que nos restaurantes japoneses se podia fazer batota com os pauzinhos! Nunca tinha visto tal coisa. Um pedaço de cartão e um elástico a segurar os pauzinhos? Francamente! Assim, até com Parkinson avançado eu conseguiria levar à boca uma bola de gelatina untada com manteiga dos Açores. E logo à primeira!

 

Entretanto, vieram duas cervejas chinesas, “Tsingtao”, marca bem conhecida da minha juventude. Portanto, um gajo vai a um restaurante japonês, e tem que beber cerveja da concorrência. Acho que sim, que assim vão longe. Dois dedos de conversa e apercebi-me de um factor de desassossego que podia comprometer todo o jantar. Não havia decote, mas o vestido da Liliana deixava-lhe os braços nus. Uns espectaculares braços, de musculatura na medida certa, sem qualquer vislumbre de flacidez, simplesmente dignos de uma apreciação prolongada. Mas onde é que ela foi buscar aqueles braços? Ah, pois é, o ginásio… Já tinha com que me entreter durante o jantar, pensei para comigo, desde que não me começasse a babar e não perdesse o fio à meada da conversa.

 

O repasto foi outra novidade: rodízio à japonesa. Isto é, a senhora ia levando travessas para a mesa e a gente ia comendo. Nada a opor. Por fim, chegou o famoso e temido “sushi”. Afinal, não era carapau. À primeira vista, pareciam postas de arroz (?!), embrulhadas em pele de peixe-espada preto (?!), com umas coisas suspeitas no centro (definitivamente suspeitas). Perfeitamente comestível. Ainda existo para contar esta história, por isso, não há que recear.

 

A determinada altura, acabou-se a rodada de comida. A senhora veio à mesa para saber se queríamos mais qualquer coisinha para comer. Ainda me passou pela cabeça um suculento naco de picanha a ser fatiado à facada ali mesmo. A Liliana não se deixou intimidar. Pegou no menu e toca a encomendar mais uns petiscos. Eu acho que ela tem um buraco no estômago por onde se escapa metade da comida que ingere. Só pode. Pela minha parte, que sou homem dado a sacrifícios e causas, acedi prontamente ao seu desejo incontrolável de repetir alguns dos petiscos, concordando com todas as suas escolhas. Temos que lá voltar. Eu era gajo para me habituar à comida japonesa. Desde que na companhia certa.

 

Quando tudo parecia estar a correr bem - conversa agradável, companhia interessantíssima, comida engraçada e sem carapaus crus -, a Liliana lembrou-se de ir ao WC. Levantou-se e foi. Costuma ser assim, eu sei. E quase que tive que untar a testa com um restinho da sobremesa de gelado de chá verde, para arrefecer a imaginação. Aquele vestido preto e curto, a deslizar por ali fora… aquelas pernas perfeitinhas e exclusivamente feitas de fibra… aquela figura… eu nem queria reparar nos glúteos, mas acho que fui traído pela sinalização fluorescente das ancas. Credo! Que desorientação! Um gajo morde os lábios, geme um bocado, franze o sobrolho num solitário sofrimento e suspira…

 

Do Japão, a Liliana quis levar-me para as “docas”. Sem estivadores e sem o pivete a pescada e sardinhas. Um barzinho simpático, com umas cadeiras em jeito de sofás, coloridas. As mesinhas davam pelo joelho, a Liliana estava com o seu vestidinho curto e meias fantasiadas e eu juro que só olhei umas três ou quatro vezes! As torturas medievais foram coisas de meninos, quando comparadas com o que eu sofri, ali, durante mais de duas horas, ora pernas para a esquerda, ora pernas para a direita, ora cruza, ora descruza. Um gajo tenta manter o pensamento numa rota, orientado pelo desenrolar da conversa, mas é constantemente atropelado pela imaginação fértil, qual manada de búfalos completamente descontrolada. Às tantas, desligaram as luzes e demos conta que nos estavam a meter na rua. Pudera, duas da madrugada! Um gajo, quando é para sofrer, ao menos que seja “à homem”, durante horas a fio, sem tréguas.

 

E, só por causa disso, ainda prolongámos a conversa, já no carro, até lá para as três da manhã. Com a agravante do perfume. Uma tortura desmedida, é o que eu digo. Depois de a Liliana se ir embora, num singelo adeus, ainda tive que me submeter a três vergonhosas tentativas para sair da cidade pela saída correcta para o meu destino, uma mão no volante e outra a trocar SMS com a Liliana (mas a malta não tinha terminado a conversa? às tantas, nem por isso…). Quase que fui parar a Marrocos, tal foi o nível das tentativas. Por fim, lá para as quatro da madrugada, cheguei à tenda. A suspirar. Oh, vida! pickwick

 

03
Out07

Um dia de chuva

pickwick
Hoje foi, e ainda está a ser, um dia de chuva. Será que o Outono já chegou? Não interessa. Foi um dia meio foleiro, molhado, cinzento, que facilmente cairá no esquecimento. Como outro dia qualquer.
 
1. Operações básicas
Hoje foi dia de dar formação lá no local de trabalho. O tema: operações básicas no Windows. Destinatários: trabalhadores. Formandos: só gajas! Copiar, cortar, colar, mudar o nome, criar pastas, etc. Tudo muito básico. Aiiiii!, desapareceu tudo!!!! – exclamou a Fá, em pânico, quando entrou numa pasta vazia acabada de criar. O ambiente de trabalho?, que é isso? ai, é isto? – perguntavam elas. Não, Carlinha, não precisas de copiar, colar e depois apagar o original, quando pretendes mover um ficheiro, basta cortar e colar. Tenho que repensar aquela minha ideia de meter toda a gente a enviar ficheiros por e-mail, para acabar com as pen’s. Bem, já consegui acabar com as disquetes. Falta mesmo só as pen’s. Mas usarem o e-mail… bem… não sei se a paciência me acudirá…
 
2. Certificados
A Maria (nome de código), que organizou as inscrições para a formação, não quis deixar nada em mãos alheias nem o seu crédito a apanhar chuva, pelo que tratou de elaborar e imprimir uns certificados de participação todos abichanados. Ando eu para ali a pregar aos pardais, que ah e tal tem que se acabar com as impressões a cores porque não se pode andar a esbanjar rios de dinheiro em tinteiros a cores para o povo imprimir porcarias que podem muito bem ficar a preto e branco, e aquela desgraçada imprimiu-me aquilo tudo a cores! Tenho que fazer a folha a esta gaja. Ela, até as porcarias das lombadas dos dossiers quer a cores! Lá vai o tempo em que, uma patroa que tive, tinha receio de imprimir coisas a cores à minha frente, dada a descompostura que eu lhe pregaria logo a seguir, por causa do esbanjamento de dinheiro. Agora, ninguém me ouve.
 
3. Regueifa
A colega de longe, da beira-mar, que é uma querida e usa os óculos ao contrário, trouxe-me meia regueifa lá da terra dela. Meti na gaveta e petisquei às escondidas, não fosse ser apanhado e gozado. Só foi pena o chão de alcatifa ter ficado cheio de migalhas.
 
3. Parabéns a você
Uma das vice-patroas hoje fez anos. Não consigo evitar sentir náuseas quando perto de mim se comemora, de alguma forma, mais ou menos discreta, um aniversário. É um mistério, mas dá-me vontade de bater em toda a gente. Para que é que as pessoas comemoram os aniversários? Não bastava dizerem para si próprias: mais um? Claro que bastava. Mas, não. Querem beijinhos, querem que toda a gente saiba que fazem anos, depois dão os parabéns, mais beijinhos, sorrisos, ah não sabia, ah e tal, abraços, beijinhos, e blá blá blá. Esta vice-patroa, vibra claramente com isto.
 
4. Os bolinhos
Vibra de tal maneira que, logo pela manhã, chegou com um monumental bolo de chocolate e noz, para ser partilhado entre todos, na pausa matinal para o café. Eu, que detesto comer em magote, aproveitei dois dedos de conversa para não ir lá emborcar uma fatia. Mais tarde, fui lá sorrateiramente, aproveitando que não havia ninguém na sala, mas, não sei porquê, já nem o prato do bolo lá estava. Azar, pronto. Ah, bolo, e café para todos. Ou chá.
 
5. Chá das 17h20
Por falar em chá. À tarde, a formação teve que terminar abruptamente, porque a aniversariante (formanda) tinha umas colegas à espera para lancharem todas juntas e beberem um chá e comemorarem o aniversário. É a vitória da gula sobre a sapiência, uma guerra há muito perdida. Seria o resto do bolo de chocolate e noz que apareceu de manhã? Claro que não. Era outro bolo, com rodelas de ananás e mais um montão de coisas que não percebi, nem mesmo depois de enfardar duas grossas fatias. Com chá. Foi um momento bonito, as colegas cantaram os parabéns enquanto eu fazia de conta que estava a tratar de um assunto importante e por isso não podia cantar mas até podia cantar porque não estava a ocupar a voz nem o cérebro. Enfim. Não curto aniversários, pronto!
 
6. As palavras misteriosas
Vi-me a braços com o desconhecimento de uma série de passwords de contas de correio electrónico e acessos a serviços online. Era suposto haver uma lista, mas não havia, que o ex-patrão não tinha e na secretaria também não havia e ninguém sabia delas e algumas delas até ninguém imaginava que poderiam haver. O ex-patrão, era, portanto, um gajo mesmo muito organizado. Raios o partam. Felizmente, a Internet estava lá, e deu para sacar um programa grátis, à borla, que se instalava e conseguia descobrir todas as passwords alguma vez registadas no computador. Deu para safar a maior parte. Ainda faltam duas ou três, mas nada que não se resolva com um contacto formal.
 
7. Pila de gorila-manso retalhada
Estou prestes a receber um carregamento de trinta litros de aguardente. Bagaço, aliás. Objectivo: quinze litros para fazer licores (o de uva é fantástico) e outros quinze para armazenar com lascas de madeira de carvalho (para tentar envelhecer). Para os licores são necessários muitos frascos. Por isso, tive que andar a investir em alimentação que seja vendida em frascos. Feijão, por exemplo. E salsichas de Frankfurt. E polpa de tomate. Com estes ingredientes, inventei um manjar requintado e nutritivo, ao qual dei o sóbrio nome de “Pila de gorila-manso retalhada”. Modo de preparar: faz-se um refogado, deita-se o feijão branco, a polpa de tomate, umas ervilhas, e polvilha-se tudo com especiarias saudáveis, tipo pimenta e colorau e caril e o picante; retalham-se quatro salsichas de Frankfurt, que parecem pilas de gorila-manso, e deitam-se também na panela; deita-se água; e massa. E prontinho! Não querendo enjoar ninguém, devo dizer que os nacos de salsicha ensopados na polpa de tomate recriam o cenário quase real de um gorila que foi atacado com uma navalha de talhar cortiça e privado da sua virilidade. As ervilhas fazem de conta que eram os mamilos do gorila. Quanto aos feijões brancos, é como se fossem bolsas de pus resultantes de inúmeras infecções cutâneas. Bem, por falar em enjoar, isto não está a correr nada bem. Maldita imaginação… pickwick
02
Set07

Também quero ser inspector

pickwick

Uma brigada da ASAE esteve ontem, ao princípio da noite, na Expo do Sexo, no Pavilhão Arena, em Portimão. A principal preocupação dos três inspectores presentes residiu na falta de tradução para português das embalagens de artigos eróticos à venda nos stands”. Esta foi a notícia. Para os mais distraídos, ASAE quer dizer Autoridade de Segurança Alimentar e Económica. E, em face desta e de outras notícias das actividades desta autoridade, também quero ser inspector e pertencer a uma brigada e ir às exposições de sexo e feiras do presunto e do leitão. Sim, quero. É bom. Um gajo mete-se no carro, com a pistola na sovaqueira e o crachá ao peito, os colegas de brigada todos sorridentes, ah e tal, entra-se num festival do sexo, confraterniza-se com as estrelas porno, quiçá recebe-se um donativo em forma de queca (é uma vertente da alimentação, como todos nós sabemos) ou um simples strip privado, trazem-se para casa umas dezenas de DVD’s pornográficos ou uma peça de lingerie obscena para cegar a mulher lá em casa, e pronto, missão cumprida. Quero ser inspector da ASAE. Já não bastava irem às feiras e trazer de lá quilos e quilos de roupas e óculos marroquinos, agora também se pode ir aos festivais do sexo. Parece-me muito bem. Gosto. Não consigo deixar de pensar no assunto. Imagino-me, fato e gravata, ar de manganão, pistola, gel no cabelo (tinha-o deixado crescer de propósito para poder usar gel), sapatos engraxados, fósforo por acender entre os dentes, yes, estilo q.b., e uns óculos Rayban. Ui! Entro na Expo do Sexo. Rapidamente, os organizadores da expo acercam-se de mim e dos meus colegas inspectores, com uma bandeja repleta de copos de champanhe caríssimo e salgadinhos apetitosos. Ah e tal, estávamos à vossa espera, temos ali um cantinho especial, não sei quê. Vamos para o cantinho especial, discretamente desviado do público, “a media luz”. Uma mesa redonda, sofás, espelhos, incenso, mais champanhe. Uma cortina fecha-se nas nossas costas. Música no ar. Elas entram, desfilando nos seus trajes minúsculos e botas altas. Eles despedem-se, coiso e tal, tenham uma boa estadia entre nós, até mais logo. Elas começam a dançar, besuntam-se com óleos aromáticos, abanam as nádegas com mestria inigualável, puxam pelas pontas das tetas como se estivesse na hora da ordenha, roçam-se nas nossas pernas e estragam-me as calças com a porcaria do óleo que trazem no corpo. O ambiente aquece. Já não há cuecas nem fio dental, as depilações estão perfeitas, elas riem-se, o prazer flutua no ar. Uma delas, morena, que tinha entrado com folhas de castanheiro atadas à cuequinha e um colar de flores pendurado no pescoço, dobra-se e, para além de mostrar a coisa e tal, apanha de um armário meio coco com uma palhinha lá dentro e começa a beber, a chupar pela palhinha, ah e tal, ui! que sexy!, exclama o Carlos, entusiasmado. Coco?, pergunto eu? Mas estas parolas não sabem que eu detesto coco? É pior que arroz de grelos com carapau frito depois de assado! Noite estragada! Levanto-me, ajeito a zona da braguilha, saco da pistola, dou três tiros para o ar, e elas fogem em pânico. Vamos a isto, cambada! Porra lá para o coco, palhaço, acabaste de me estragar a noite, diz o Tiago. Atiramos a cortina para os lados e invadimos a expo. O Carlos saca da pistola dele e dá dois tiros para o ar. Gente a fugir por todo o lado. Tiramos os sacos dos bolsos e corremos para os expositores das Sex Shops, repletos de objectos de incrível sofisticação, DVD’s, lingerie sugestiva, etc. Em poucos minutos enchemos os sacos e estamos dali para fora, com uma fortuna arrecadada e meses de entretenimento gratuito garantido. Quando já vamos a passar as portas do Pavilhão Arena, um dos organizadores vem a correr atrás de nós e interpela-nos: mas, então?, que é isso?, que vieram cá fazer?, porque levam esses sacos cheios? Com ar de poucos amigos, passo com a palma da mão na coronha da pistola recentemente devolvida ao coldre, meto ao mão ao saco e tiro, ao acaso, a caixa com o DVD do último filme da Dolly Golden. Esfrego-lhe a caixa nas ventas, com alguma agressividade. Seu palhaço, chamas a isto uma tradução em português? Golden? Como é que os clientes vão perceber que a miúda é dourada? Hem? Devolvo a caixa ao saco, viro-lhe as costas e vamos embora para o carro. Noite ganha! Como é bom ser inspector da alimentação. pickwick