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Arautos do Estendal

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Arautos do Estendal

21
Out07

Fábula erótica – volume três

pickwick
Magufas, a esbelta lontra que despertou na vaca Rebomilda todo o erotismo da sexualidade lésbica, havia desaparecido sorrateiramente ribeiro acima. Subiu-o todo, até à nascente, e, depois, cortou a atalhar por montes e vales e ribeiros e rios e rias, em direcção ao pôr-do-sol, até chegar ao mar, ali para os lados da praia da Vagueira. A viagem durou vários dias, claro está, mas valeu a pena. Tanta areia, tantas dunas, tanta água salgada. Que luxo! Magufas chegou e descansou durante cinco dias, alimentando-se de caroços de azeitona e pastilhas elásticas deixados pelos porcos dos banhistas humanos. Quando se preparava para abalar, em busca de novo destino, já recuperada das forças, apareceu um caranguejo.
- Olá, meu nome é Adalberto, mas os meus amigos me chamam de Safado, e sou um caranguejo do Brasil.
- Oh, filho, safado? Ho, ho, ho…
- Oh, gata, ‘tão? ‘Tá duvidando?
- Nãoooooooo…. Claro que não!
- Você ‘tá a fim de checar?
- Checar o quê, pá?
- Se sou mesmo safado, podemos ir ali às dunas transar um pouco e eu mostro para você porque meus amigos me chamam de Safado.
(A lontra, que não tinha tido relações com nenhum animal desde a vaca Rebomilda, pensou na sua vida. Ali estava um animal asqueroso, de carapaça dura, a pavonear-se de não sabia bem o quê. Valeria a pena? Seria ele capaz de saciar a sua fome sexual depois de tantos dias de jejum? Aquelas pinças não pareciam muito simpáticas.)
- Não ‘teja olhando minhas pinças. Não vou tocar em você com elas.
- Ai não?
- Não preciso. Venha daí. Vou mostrar para você.
(Lontra e caranguejo subiram a duna mais próxima e mergulharam numa pequena depressão de areia, longe dos olhares alheios. No centro, uma toalha axadrezada acomodava três bananas e um frasco de protector solar.)
- Deita aí na toalhinha, deita!
- Então? Assim sem mais nem menos?
- Ué! ‘Tá bancando de envergonhada agora? Deixa isso p’ra lá, gata.
- Olha, não sei se já reparaste, mas não sou uma gata. Sou uma lontra de pêlo lustroso e chamo-me Magufas, está bem?
- Como você quiser, Margarida.
- Magufas!
- Isso, vá, vai deitando.
(A lontra olhou com ar reprovador para o caranguejo que lhe sorria com ar matreiro)
- Vá, se deite, gata.
(Magufas ajeitou-se na toalha, olhou em redor para ver se estava a ser observada e abriu os quartos traseiros, expondo-se completamente ao caranguejo. Este, com o sorriso aberto, pegou no frasco de protector solar e inundou as partes íntimas da lontra, provocando-lhe um inesperado arrepio de prazer.)
- Hum… - gemeu a lontra, ainda ligeiramente envergonhada.
(Com mestria, o caranguejo puxou de uma banana com as suas pinças e penetrou a lontra, com suavidade, mas firmemente. Esta, gemia, obviamente deliciada. Às tantas, as pinças do caranguejo já haviam esmagado a banana em vários sítios e o Safado viu-se obrigado a puxar de outra banana, tendo o cuidado de quase não interromper o delírio da lontra. O mesmo aconteceu com a segunda banana, findos quase seis minutos. E veio a terceira e última banana. O prazer era imenso e o caranguejo parecia divertidíssimo com aquele momento. Os gemidos, os olhos revirados, as mandíbulas a tremerem, a cauda agitada, enfim. A dado momento, já a terceira banana estava a uso há cerca de dois minutos e meio, surgiu nos céus uma sombra. Antes que se desse conta, uma gaivota mergulhou, fez um voo rasante à toalha e abocanhou o caranguejo, levando consigo restos de banana pelos ares, que acabaram por cair um pouco mais à frente, sujando a areia. A lontra ficou que nem podia. Ainda tentou mexer com as patas nos restos de banana que lhe ficaram dentro do corpo, mas já não serviu de muito, pois faltava o mestre, o encantador de bananas, o Safado. A lontra rebolou na toalha, até à areia, e por ali ficou, a olhar o céu, azul, por onde tinha desaparecido o caranguejo, agora repasto de uma estúpida gaivota. Que sensação! Que prazer! Cerca de três horas depois, Magufas meteu-se ao caminho, pelas dunas, em direcção ao Norte. Haveria mais caranguejos como aquele? Só o destino saberia dizer. pickwick
11
Out07

Fábula erótica – volume dois

pickwick

(continuação)

- Olha, para te ser franca, nunca tinha pensado nisso. Já tinha passado uns meses numa vacaria, com umas dezenas de outras vacas, todas a serem apalpadas nas tetas com tubos de plástico. Nessa altura, lembro-me de me passar pela cabeça como seria meter-me com as tetas de outra vaca, mas, como imaginas, não era capaz de sequer o tentar.

- Bem, mas uma coisa é uma vacaria com dezenas de vacas, outra coisa é um local paradisíaco como este, a duas, longe dos olhares indiscretos de terceiros.

- Pois, é capaz de ser mais fácil, realmente.

- É muito íntimo e o prazer inimaginável.

- Oh, mas aqui não costuma aparecer mais nenhuma vaca.

- Mas aparecem raposas!

- Sim, pois aparecem, mas são tão pequenas…

- E então? Qual é o problema? Eu também sou pequena!

- Pois mas tu e uma raposa, são praticamente do mesmo tamanho. Agora, eu e uma raposa, é bem diferente! Já viste a diferença de tamanho?

- Ora, é como com uma lontra. O que interessa é o prazer e não o tamanho.

- Pois, dizem que sim, mas…

- Devias experimentar, um dia destes.

- Talvez. Mas também não tenho lata para falar nisso à Ana Teresa. E se ela fica zangada, me chama nomes e me manda para a outra banda?

- Não exageres…

- A sério, não sou capaz de lhe tocar no assunto.

- Se calhar, era mais fácil experimentares com alguém com quem já tenhas abordado este assunto, não achas?

- Mas eu não costumo abordar este assunto com ninguém. Só contigo.

- Pois, já reparei que sim.

(silêncio no lameiro, som da água a correr e das folhas das árvores a serem batidas pelo vento)

(Magufas pisca o olho a Rebomilda e exibe um sorriso maroto)

- Ai, oh Magufas, estás a deixar-me sem jeito…

- Anda lá! Uma vaquinha tão linda e tão sexy como tu, não pode ficar assim…

- Oh…

(Magufas aproximou-se da vaca, rebolando os quartos traseiros para um lado e para o outro, provocadora)

- Hum… olá!...

- Olá… ai… eu não tenho jeito nenhum para isto, oh Magufas…

- Não tenhas problemas. Vais ver como é bom.

- Aiii…

(Magufas colocou-se debaixo do corpo de Rebomilda, estrategicamente. Ergueu-se em cima de duas patas, apoiando-se nas pernas traseiras da vaca, e começou a lamber, de forma suave e terna, as suas tetas. Uma após outra. Devagar, sem pressas. As pernas da vaca tremiam, umas vezes com mais intensidade, outras com menos.)

- Muuuuuu… - mugiu baixinho Rebomilda, quase a perder a compostura, com os olhos a revirarem de prazer e um fio de baba a escorrer pelas mandíbulas abaixo..

(Às tantas, as pernas de Rebomilda não aguentaram mais com o prazer tão intenso e deixou-se cair na erva, com as tetas excitadíssimas a mergulharem na erva molhada do lameiro. Respiração ofegante, língua de fora, a cauda sem forças para enxotar moscas. Magufas sorriu, a sabidona. Pacientemente, esperou que Rebomilda se recompusesse.)

- Agora, fofinha, é a tua vez de me dares prazer. – disse, piscando o olho, com o ar de general que comanda as operações.

(Magufas avançou para a cabeça de Rebomilda, ergueu-se e apoiou as patas dianteiras nos chifres, oferecendo as suas tetas. Rebomilda, possuidora de uma língua extraordinariamente comprida e áspera, não se fez rogada e tratou de pagar na mesma moeda. Em poucos minutos, Magufas estava estendida na erva, completamente exausta, consumida por um prazer universal e imenso.)

- Ai, oh Magufas… foi tão bom!

- A quem o dizes, sua maluca!

- Oh, eu não sou maluca!

- És, és… não viste o que me fizeste?

- Oh, então… foi só…

- Pois foi só…

(Entretanto, o sol desapareceu no cimo dos montes, dando lugar ao cair da noite. Magufas aconchegou-se numa espécie de regaço no corpo da vaca, ainda deitada na erva. Assim passaram a noite, naquela posição de intimidade. O dia seguinte trouxe felicidade, paixão e muito sexo. E o outro a seguir, também. E o outro e outros tantos mais. Até que Magufas achou que estava na hora de partir para outras paragens. Sabendo que a despedida seria um momento demasiado pesado, aproveitou um momento gastronómico da vaca, mergulhada na erva fresca, para se pisgar por onde havia chegado, desaparecendo ribeiro acima. Claro que Rebomilda sofreu como nunca, quando percebeu que a sua companheira de sexo lésbico havia desaparecido para sempre. Foi um sofrimento de pouca dura, contudo. Dois dias depois, apareceu no lameiro a Ana Teresa, com um ar acanhado. Contou como tinha visto as duas a consumirem-se em prazeres carnais, dia após dia. Contou como sempre tinha nutrido um fraquinho por Rebomilda, embora nunca tivesse coragem para o assumir. Agora, era o momento. Ana Teresa e Rebomilda meteram de lado a vergonha e a timidez e assumiram a sua relação lésbica até ao fim das suas vidas. Até Rebomilda virar Bife à Caçador e Ana Teresa ser embalsamada e exibida por cima da lareira de um malvado caçador.)

(fim) pickwick

09
Out07

Fábula erótica – volume um

pickwick

Rebomilda era uma vaca leiteira, malhada, de porte majestoso, que passava os dias a pastar num lameiro na Serra da Freita, perdido num bonito vale verdejante. O facto de apenas pastar erva saudável e natural, evitando assim uma alimentação rica em porcarias sintéticas e industriais, permitia a Rebomilda ostentar um corpo fibroso e, quiçá, elegante. O sobe e desce no lameiro, a dificuldade inerente a progredir em terreno lamacento e a água natural abundante, contribuíam para essa elegância e fibra. Era, a bem dizer, aquilo a que se podia chamar uma bela vaca. Jeitosa, portanto. Certo dia de verão, em que o calor teimava em secar tudo o que não tivesse ao fresco, chegou ao vale verdejante uma esbelta lontra, de nome Magufas, com o pêlo lustroso e olhinhos bonitos. Chegou até ali subindo o ribeiro, saltitando entre penedos, calhaus e poças. Fez uma curva à esquerda, num raquítico afluente do ribeiro, subiu um pouco, e chegou ao lameiro da Rebomilda. Que verdura! Que paz! Que beleza! Uma nascente natural lançava um fio de água pelo lameiro abaixo, até ao ribeiro. Um enorme castanheiro, de braços longos e milhares de folhas, lançava uma apetitosa sombra sobre a erva húmida. Vendo Rebomilda ao fundo do lameiro, Magufas não fez cerimónias e dirigiu-se à vaca.

- Olá! Bom dia! Eu sou a Magufas e vim pelo ribeiro acima.

- Olá! Eu sou a Rebomilda. Como é que conseguiste subir o ribeiro sozinha? És tão pequenina!

- Oh, sou pequenina, mas oriento-me bem. Enquanto houver água, eu safo-me.

Rebomilda correu o corpo humedecido da lontra, de cima a baixo. Aquele palmo e meio de bicho parecia tão confiante. E tão engraçado. Que olhos tão giros.

- Então e vives aqui? – perguntou a lontra.

- Bem, passo aqui os dias, sim. De vez em quando, o meu dono vem mexer-me nas tetas e rouba-me umas dezenas de litros de leite. Eu não gosto muito.

- É melhor eu ter cuidado com o teu dono. Não me está a apetecer muito que ele me apanhe de surpresa e me mexa nas tetas para me tirar leite.

- Quais tetas?

- As minhas!

- Também tens tetas? – Rebomilda inclinou a cabeça, tentando espreitar para a barriga da lontra.

- Claro. Sou uma gaja! Uma lontra gaja! Por isso, tenho tetas!

- Oh, mas não te preocupes, o meu dono não vai perder tempo a tentar tirar-te leite. Daria muito trabalho e renderia quase nada. Ele quando vem para tirar leite é sempre para ir carregado.

- Mas podia querer meter-se comigo, se fosse tarado ou assim. Não gosto que me apertem as tetas à bruta.

- Bem, ele é assim um bocado tarado. Às vezes, quando vem com o nariz muito vermelho, põe-se a falar comigo, a fazer-me festinhas e a chamar-me Catarina. Não é que ele seja bruto, mas eu não gosto de sentir mãos calejadas em cima do meu corpo.

- Ah, pois é, mas sabes que mãos de macho são assim mesmo. Além de grotescas, não têm sensibilidade.

- Gostava que ele fosse um pouco sensível e me apertasse as tetas com mais delicadeza.

- Claro, até porque as tuas tetas são muito bonitas e é um crime maltratá-las.

- Achas?

- O quê?

- Que as minhas tetas são bonitas.

- Ora, claro que sim, notei isso logo que te vi. As tetas e não só.

- Ai… estás a deixar-me envergonhada…

- Não vale a pena ficares envergonhada. É um facto que és uma vaca muito gira, tens um corpo muito sensual, não és gorducha nem mal feita.

- Achas mesmo?

- Claro que sim.

- Bem, tu também…

- Sim…?

- Tu também.

- Eu também o quê?

- Oh, também és uma lontra muito gira, muito elegante, com uns olhos muito giros.

- Obrigada!

- Então e vais ficar por aqui?

- Estava a pensar passar aqui uns dias, aproveitar a paisagem, descansar, dormir umas sonecas e aproveitar a tua companhia. Achas bem?

- Ai, acho muitíssimo bem. Era excelente! Isto aqui é uma seca muito grande, passar os dias sozinha, de um lado para o outro. De vez em quando aparece uma raposa, para dar dois dedos de conversa.

- Ui, uma raposa? Eu adoro raposas! São tão… tão…

- Tão o quê?

- Eh pá, tão sexy!

- Sexy?

- Sim. Muito! Aquele focinho, aquela cauda sensual. Há três semanas atrás passei uns dias com uma raposa chamada Mimi. Conheces?

- Não, aqui perto só vive uma chamada Ana Teresa.

- Essa não conheço. Bom, mas a Mimi é uma doida! Passámos o tempo todo ora na toca dela, ora num charco. Fazíamos amor de meia em meia hora. Que maluca!

(silêncio no lameiro)

- Fizeste amor com ela?

- Sim. Foi tão bom! Nunca tinha experimentado, nem com uma raposa, nem sequer com uma lontra fêmea. Mas, adorei!

- Então e…

- Então e o quê?

- E é assim tão bom?

- Nunca experimentaste com outra vaca?

(continua) pickwick