Hoje de manhã cruzei-me com a Mary. Ah e tal, logo depois da reunião aparece lá em casa para assarmos umas chouriças que têm que se comer rápido, disse ela. Ah e tal, está bem, disse-lhe eu. O Philip e o Claude também iam, bem como a Charlie, que vive com a Mary. Depois da reunião, ainda fiquei à espera do Philip e do Claude, o primeiro porque estava a ver os mails e a assistir umas amigas no MSN, o segundo porque não sei bem, mas estava com uma gaja qualquer. Enquanto esperava pacientemente, apareceu na sala uma loira. A sério! Loira e gira! Normalmente as loiras portuguesas são mais feias que um escaravelho caído no óleo queimado de fritar batatas, mas aquela era bem gira. O Philip, que é jovem e pouco dado a contenções, começou logo a querer ficar mais tempo para tentar ir à mesma reunião que a loira, comentando esta pretensão com alguma sonoridade. Entretanto, entrou o patrão na sala. Ah e tal, venha ali para o gabinete, disse ele para a loira. Pronto, sacana do patrão! Lá foi a loira e voltou a sala à mesma pacatez e pobreza artística. O Philip queria ser patrão. Eu, hoje, também queria ser aquele patrão, para levar uma loira jeitosa para o gabinete. Ui, ui! Bem, em casa da Mary e da Charlie, a mesa estava ligeiramente mais bem recheada. Até havia gelado de rum com passas, tal como sugeri da outra vez! Nas brasas de uma lareira, duas chouriças de azeite (ou em azeite, ou sei lá o quê) chamuscavam-se. Uma porcaria! Enjoativo até mais não. É como comer uma chouriça normal e beber meio litro de azeite para acompanhar. Felizmente, havia uma terceira chouriça, dita normal, que soube muito bem a chouriça e melhorou o ambiente. Ah e tal, são caseiras, dizia a Mary. Pois sim, que sejam! A Mary é uma gaja esquisita. Tanta comida, tanta variedade, pão, folar, chouriças, cervejas, sumos, gelados, regueifa, etc., e ela, ah e tal, não gosto de nada do que está na mesa. Mas isto compreende-se? O Claude, que é um gajo simpático, perguntou-lhe logo aos gritos: então, e de chouriça crua, já gostas? A Mary engasgou-se um bocado, risota para trás, risota para a frente, enfim. Nova intervenção do Claude, que, para além de ser um gajo simpático, também é um gajo casado: eh pá, o que eu mais gosto na Mary é o cu! É mesmo bom, redondinho, perfeito. Confirmação do Philip: pois é, o Claude todos os dias diz que o que é mesmo bom é o cu da Mary. Risos, ha ha ha, he he he, hi hi hi… Eu também queria dizer qualquer coisa, mas não cedi à tentação de perder a compostura e complementar as referências estéticas da Mary. Fui forte e resisti. Disfarcei e olhei para a televisão. Má escolha! A telenovela que estava a passar estava impregnada de gajas jovens, podres de boas, todas trajando biquinis minúsculos, com peitos volumetricamente abastados, ah e tal, e pronto. A Mary inclina-se para a frente, para a lareira, para virar a chouriça, o elástico da cueca fica à mostra, o Claude resmunga que ela passa a vida a fazer aquilo em público e que um gajo fica logo desconcentrado, e blá blá blá. Por falar em gajas, vai a conversa para a loira da dentuça e da pele ao léu. Vulgo “loira do Mercedes”, por conduzir um jipe da Mercedes. Gritos histéricos, deles e delas: eia, que tem umas banhas gigantes a saltarem-lhe entre o top e a cintura, anda com umas calças todas esfaqueadas à frente e atrás, é feia, e as gajas assim não deviam andar naqueles preparos. Subscrevo totalmente. Ainda não tinha era reparado que ela tinha assim tantas banhas… estarei a ficar pouco exigente e muito distraído? Ou eles e elas é que são exagerados? Urge esclarecer! Pelo caminho, um contributo para o enriquecimento da história e da cultura da humanidade: o Claude revela que a Marilyn Monroe costurava botões do lado de fora das copas do soutien para imitar mamilos proeminentes, provocadores e excitados, que espevitavam a imaginação dos homens de todo o mundo, os quais, aos milhares, ainda segundo o Claude, se masturbavam às custas desses botões. O Philip confirmou: sim, a mãe dela até era costureira. Claro. Para não fugir a temas femininos, tombou a conversa para a Doce (mais um nome de código, sim), nossa colega de trabalho. A Doce, de há uns meses para cá mudou radicalmente a sua fisionomia. Sendo desportista, sempre a conhecei na casa dos 40 mas com um corpo fabuloso, fibroso e elegante. Dia após dia, vinha com umas calças justíssimas, espevitando a imaginação de quantos tropeçassem com o olhar na sua figura, de costas, encostada ao balcão do bar, a pedir uma tosta e um galão. Às vezes, justas demais. De há uns meses para cá, começou a engordar desalmadamente. O rosto permanece igual. Ou seja, a Doce está quase com corpo de baleia, mantendo o rosto de um modelo de passerelle. Passa pela cabeça de qualquer um que ela esteja grávida. Passou pela minha. E pela do Philip. Só que o Philip é assim mais dado a intimidades, daí que a apanhou um dia e perguntou, bem alto e em bom som, ah e tal, então, estás a engordar tanto… estás a ficar grávida, não estás? Não, não, responde ela, com um sorriso amarelo. Envergonhada, a Doce lá explicou que parou de tomar dezenas de anti-depressivos e outras porcarias do mesmo calibre, o que lhe provocou um apetite voraz, pelo que tem engordado a olhos vistos. Minutos depois alguém explicou ao Philip que a Doce já se tentou suicidar, embora tenha uma vida folgadíssima, casada com um médico, com uma filhota toda fofinha, vida profissional estável, etc. Apeteceu-me pedir à Mary para que, caso tome anti-depressivos, nunca deixe de os tomar. Mas fiquei melhor caladinho, guardando pensamentos badalhocos só para os meus botões. Acabadas as chouriças, acabadas as casacas onde cortar, viemos embora. Tenho que me cuidar. A exposição a estes ambientes e a estas conversas, não contribui, de forma alguma, para imprimir alguma decência no meu pensamento. Antes pelo contrário! Cus redondos, loiras boas raptadas para gabinetes, loiras dentuças com banhas de fora, gajas a engordar, gajas com botões do lado de fora do soutien, gajas das telenovelas brasileiras, e chouriças de azeite, não me trazem tranquilidade nenhuma! pickwick