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Arautos do Estendal

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Arautos do Estendal

22
Out06

Le centre du monde est partout

riverfl0w
doclisboaHoje foi noite de doclisboa. O doclisboa, para quem não conhece, é um festival internacional de cinema documental que se realiza em Portugal desde 2004, organizado (e bem!) pela apordoc. Já na edição anterior tinha por lá passado e, a bem dizer, tinha gostado muito do que vi.

Assim sendo, este ano tive então o cuidado de me credenciar antecipadamente junto da organização do evento. Até aqui tudo bem. Eis senão quando (adoro esta expressão… vocês não?), ao dirigir-me ao balcão de acolhimento para levantar o livre-trânsito, me dão não só o dito mas também – e pasmem-se – uma maleta preta de trazer a tiracolo da TV5, com a bonita inscrição que dá título a este post. “É o dossier de imprensa” – disse a menina, enquanto fitava os meus olhos transbordantes de emoção. A verdade é que em todos os eventos onde tive direito a um dossier de imprensa – e não foram tão poucos assim – este não passava de uma capinha com alguns documentos de utilidade questionável e, com sorte, uma caneta Made in Pakistan ou um mini-bloquinho de notas do Continente. Compreenderão pois o meu espanto ao receber, de mãos trémulas, uma mala em tudo semelhante à do Tintim - essa referência do jornalismo francês (ainda que se trate apenas de um personagem de BD). Obviamente, o meu próximo passo será arranjar umas calças de sarja e um terrier que saiba ganir em francês.

Voltando à realidade. Imediatamente senti que a pasta tinha um peso atípico – inviabilizando com sucesso qualquer tentativa de sprint furtivo atrás de um VIP – o que me levou a intuir que as surpresas não ficariam por aí. E não ficaram. O recheio era composto por:

- Programa do evento;
- Agenda Cultural dos próximos três meses;
- Publicação doclisboa: "Histórias mínimas: o documentário japonês contemporâneo";
- Sinopse e ficha técnica de todos os filmes plus fotos e currículo de todos os realizadores, produtores e júri - num total de 230 páginas;
- Um exemplar da docs.pt - revista de cinema documental;
- Bloco de notas muito catita, journalist style, plus duas canetas;
- Convites para o LUX, B.leza, entre outras (oh, infortúnia! a Sílvia Alberto está lá e eu não posso ir...);
- Informações sobre o alojamento de todos os intervenientes (sim, eu sei onde a nova namoradinha de Portugal está hospedada);
- Dados de todos os jornalistas acreditados - onde o meu nome surge ao lado de nomes como... muitos ilustres desconhecidos (os restantes 48 jornalistas que me perdoem a ignorância);
- e... the last but not the least... duas bisnagas de produtos da Rituals - uma de esfoliante e outra de gel de banho - que deixaram a minha mãe em estado de pré-lacrimejo.

E mais. Tomei um café servido por uma mulher como só se vê nos filmes de Hollywood sobre corridas ilegais de automóveis - if you know what I mean - que no final sussurou, com um sorriso atrevido, "Este é por conta da casa". Se a isto acrescentarmos dois excelentes documentários - "A Sunday in Pripyat", de Frédéric Cousseau e "The Fisherman and the Dancing Girl", de Valeri Solomin - rapidamente perceberão porque sou (e serei certamente) fã incondicional do doclisboa.
Amanhã, tenho já encontro marcado pela tarde, onde vou (engatar a deusa do bar/assistir a "China Blue", um documentário americano de referência sobre os efeitos secundários da globalização)(riscar o que não interessa).

Fica então o repto a quem se interesse e possa estar presente, sendo que o festival continua até 29 de Outubro, na Culturgest. Consultem o programa e não se preocupem com os preços, pois mais depressa vêem dois documentários no doclisboa do que bebem uma imperial no LUX. riverfl0w
14
Ago04

Levanta o pau

riverfl0w
As feiras de artesanato são sempre muito interessantes de visitar. Esta semana fui a uma, ansioso que estava por regalar os olhos com tanta obra, tanto engenho, tanta lindeza. Entre os incontáveis stands, as incontáveis beldades que neles atendiam as visitas, desejo destacar um em especial, que me marcou profundamente. Julgo que era de Lamego, mas não tenho a certeza e também não interessa para o caso. Interessa, sim, o cartaz gigantesco que tinha afixado e que dizia assim: “Licor Levanta o Pau”. Para que não haja confusões sobre a que pau se referia o cartaz (comprovado posteriormente e mencionado ainda neste post), transcrevo para aqui alguns sinónimos encontrados no Dicionário de Expressões Populares Portuguesas (Publicações Dom Quixote): abono-de-família, aparelho, apenso, assobio, banana, bacamarte, barambaz, barrote, berimbau, bilhardo, bilau, berzengalho, bodelas, broca, cacete, canal, cano, careca, carocho, catano, catrino, chicote-de-barriga, chouriço, coiso, catatau, encomenda, falo, flauta-lisa, gaita, genitor, gregório, grosso, guelhamango, instrumento, mandrião, margalho, marsapo, martelinho, mascoto, medalhão, manafro, minhoca, morcela, marmelo, mentulo, mingorra, manzeque, marreta, mastro, mentinho, nabo, nervo, pantaleão, pau (aqui está ele), pechota, pelota, pica, *****, piegas, pila, pilica, pilinha, pincel, pindrica, piroca, pau-barbado, pau-de-leite, pendureza, pirolito, pissa, ponte, porra, puxador, penetrador, pífaro-leiteiro, priguelo, pau-venéreo, quilé, romão-cego, samatra, pau-veludo, priago, solino, surdo, tinebre, tinoco, tangalho, traste, tosa, trincalho, trama, trangolho, tranca, verga, vergalho, Zé, Zezinho, vergalhão, pau-a-pique, pirilau, pissalho. Há dúvidas? Continuando, ia eu mais o Heitor (nome de código) quando deparámos com o espectáculo do cartaz. O riso foi impossível de controlar. Nisto, a senhora do stand chama-nos: “Os meninos aí! Venham cá!”. Senhora não é o melhor termo para descrever aquilo. Era uma deusa, uma “arauta” da sensualidade. Complementou o chamamento com aquele gesto com o dedo de quem chama, num convite ao qual ninguém pode dizer que não. Aproximámo-nos. Que mulherão, meu Deus. “Vão provar aqui uma coisa.”, disse ela, enquanto nos enchia dois copinhos minúsculos com o tal licor. Tirei os olhos do corpo dela e olhei-a de frente, rindo-me: “Sabe, é que nós hoje vamos estar à noite com umas miúdas sérias e respeitáveis, veja lá o que é que deita aí.” Ela não deve ter percebido o que eu disse e respondeu: “Não se preocupe, isto dá à vontade para chegar até casa” e eu “mas olhe que as miúdas são muito respeitáveis…” Despejado o copo goela abaixo, fiz aquele ar de apreciador de bebidas espirituosas, estalando a língua no céu-da-boca, como fazem os “cobóis”, e passando a língua pelos lábios como que a lambuçar-me com algum restinho. Ia mesmo para dizer que aquilo sabia bem, quando ela interveio: “Isto o sabor não interessa, o que interessa mesmo é o efeito. Depois do jantar, bebe um copinho deste licor e vai ver como a noite lhe vai correr muito melhor.” Viemos embora sem comprar uma garrafinha, facto que deixou a mulher muito triste, ainda por cima depois de ter feito aquele ar de gata carente a ronronar “comprem lᔅ Confesso que andei durante algumas horas com um pouco de receio. Apesar de vestir calças de ganga, um gajo nunca sabe o que um licor pode provocar na nossa aparência física. É que as miúdas com quem íamos eram mesmo respeitáveis e sérias. Para quem não tem realmente problemas com embaraços, aconselho vivamente a comprar uma garrafinha. Até pode ser que faça mesmo o efeito desejado: levantar o quilé! Para os menos crentes, ou com maior auto-estima, presumo que baste somente uma miúda. pickwick
09
Jul04

Referências Lusas

riverfl0w
Portugal está a perder as referências. Em apenas 30 dias, perdemos quatro figuras incontornáveis da política e da cultura. Fica aqui o humilde tributo a estas quatro personalidades, nas palavras dos outros.

"Perde Portugal um grande democrata, um eminente Professor de Direito, um muito distinto parlamentar, um destacado servidor do Estado a quem a República e a democracia muito devem. Perdemos um Homem sério e bom, um exemplo constante de civismo que morreu lutando democraticamente pelos ideais em que sempre acreditou. Portugal, a nossa vida democrática, está hoje mais pobre."
Jorge Sampaio, Presidente da República (acerca de António Sousa Franco)

"Era uma pessoa que falava com muita veemência e pensava com muita convicção, era um magnifíco parlamentar. Tenho muita pena que tenha desaparecido."
Paulo Portas, Ministro da Defesa (acerca de Lino de Carvalho)

"Portugal chora hoje não só a sua maior poetisa e uma das figuras marcantes da nossa cultura contemporânea, que acreditamos permanecerá na voz serena, luminosa e inconfundível da sua poesia, mas também uma cidadã exemplar que participou plenamente na vida da sua 'polis', defendendo sempre ser possível e necessário viver nela com justiça e em liberdade."
Durão Barroso, Primeiro Ministro (acerca de Sophia de Mello Breyner)

"Perdeu-se um dos maiores comunicadores da televisão portuguesa, um Homem que sorria com palavras leves."
Baptista-Bastos (acerca de Henrique Mendes)
riverfl0w