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Arautos do Estendal

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Arautos do Estendal

02
Mai12

Garganta funda

pickwick

É feriado, que por acaso é Dia do Trabalhador, e um gajo mete-se a jeito para um dia de sossego, na paz e harmonia de um lar isento de stress. Começa-se por abrir as janelas, para deixar entrar um projecto falhado de luz solar. Um passeio matinal de pouco mais de dez metros pelas assoalhadas, para verificar se há monstros mutantes renascidos das cinzas da noite. Um copo de água. As plantinhas estão na mesma, que sem sol não há quem cresça. Ligam-se os dois computadores, verifica-se o mail, tiram-se uns apontamentos, abrem-se uns documentos, planeia-se o dia de trabalho, come-se uma bolachinha ou duas ou cinco, suspira-se de prazer por um dia tão sossegado e promissor. Entretanto, tira-se um generoso naco de lombo de porco do frigorífico e esfaqueia-se cirurgicamente em quatro locais distintos, pelos quais se introduz, a seguir, outras tantas linguiças picantes. Unta-se com especiarias que fazem mal aos corações mais sensíveis e mergulha-se a coisa em vinho branco. Ao almoço, irá ao forno com umas batatinhas. Um gajo até se baba, só de imaginar o petisco. Regressa-se ao computador e prossegue-se com uma pesquisa na lista de espécies autóctones.

 

Nisto, ia a manhã a meio, a campainha da porta começa a zurrar desalmadamente. Deve ser um vendedor de sabonetes lava-rabos ou técnicos de TV por cabo. Devia, mas não foi. Eram dois compinchas de longa distância, que por essa hora deviam estar algures a passear-se pelas serras de Arada e S. Macário. Em vez disso, estavam à minha porta, a sugerirem-me calçar as botas e abalar com eles para o passeio pedestre. Ora, um gajo com tanto trabalhinho para fazer, tanto lombo para assar e comer, tanta paz e tanto sossego, não cede facilmente. Ao fim de muita conversa da treta, e de uma actualização de conhecimentos aos comandos do Inkscape, não tive outra alternativa senão calçar as botas, meter meia dúzia de tarecos na mochila, e sair porta fora, renunciando heroicamente, qual mártir de uma causa desconhecida, a um dia de trabalho e paz e sossego e lombo de porco.

 

Algures no meio de nenhures, ou na Serra de Arada ou na Serra de S. Macário (venha o diabo e escolha!), deixámos o carro numa amostra de povoação, com um nome do género covas-de-qualquer-coisinha, e partimos rumo a uma garganta que subia quase até aos céus, por entre calhaus afiados e vegetação rasteira.

 

Umas fotos artísticas às folhas de carvalho salpicadas por pingos de água da chuva, uma gincana por entre incontáveis poios de vaca, tira impermeável, mete impermeável, volta a tirar, volta a meter, ora chuva, ora sol, enfim. Entretanto, hora do almoço. Paragem numa encosta, pseudo-abrigados do vento e da chuva numa curva abrupta. Chouriça a assar, queijinho, pão da véspera, bolachas, e uma mísera e única garrafinha de tinto alentejano, tudo para repartir por três estômagos esfomeados pelo esforço da caminhada e pelo avançado da hora. Com chuva a meio, o que deu muito jeito para deixar que algumas pingas aumentassem o volume do tinto nos copos – o desespero tem destas coisas… estragar um tinto requintado (Reguengos) com água da chuva.

 

Após o repasto, retoma-se a caminhada, sempre a subir. Entretanto, estala uma acesa discussão sobre vacas, a propósito dos incontáveis poios de vaca que evitávamos pisar, os quais, para surpresa de todos, eram maioritariamente provas inegáveis de que as vacas daquelas paragens não andam a ter a melhor das alimentações. Quem já andou pelo Portugal profundo, em terras frequentadas por bovinos, conhece muito bem o aspecto de um saudável poio de vaca – uma espécie de bolo de côco em cima do qual assentou as nalgas um simpático babuíno. Mas, os poios de hoje, eram mais do género arroz doce com ervas aromáticas e uma pitada de pimenta preta. Uma nojeira. Daí até começarmos a insultar a vacaria da região, foi uma questão de segundos. Só que, a bem dizer, houve ali uma dificuldade linguística conceptual que limitou a nossa agressividade: não se vai insultar uma vaca, chamando-lhe “vaca”. Ainda começámos com isso, aproveitando a liberdade dos montes. Mas, soou tão mal, que… “suas cabras!...”, ainda começou o Miguel… mas, nããã… ainda soou pior… E andavam três gajos, a subir um monte, a chover, no meio de giestas e tojos, a pensar que nomes feios haveriam de chamar às vacas que se borravam todas a subir o mesmo monte. Entretanto, a uns cem metros, três vacas pardas olhavam-nos com alguma atenção. Fiz “mmmm” e uma delas respondeu, mas depois falhou o vocabulário e a conversa ficou por ali.

 

Entretanto, actualização geográfica, o Nando saca das cartas militares para nos posicionarmos no terreno e melhor planearmos a ascensão até ao cume. Ups! Eram da Serra do Caramulo! A conversa mudou rapidamente das vacas indígenas e da falta de consistência do respectivo cocó, para os sinais evidentes e inegáveis de pré-senilidade do Nando – mas ele é que tocou no assunto, nós limitámo-nos a anuir simpaticamente!

 

Umas centenas de metros mais à frente, o terreno começou a complicar-se. O acesso à garganta era impraticável, e o Nando, que era o guia da expedição, descobriu que tínhamos falhado o trilho correcto ainda antes do almoço. Mais um sinal de pré-senilidade, claro. Logo a seguir, outro sinal de pré-senilidade: a bateria da máquina fotográfica tinha vindo praticamente descarregada, assim como a bateria extra!

 

Voltámos para trás, depois de cinco minutos de paragem estratégica para deixar cair livremente uma carga de granizo, regressando ao carro e encerrando oficialmente o passeio pedestre. A meio da descida, mais um sinal de pré-senilidade: a única laje de xisto escorregadia que havia ao longo do trilho, foi precisamente onde o Nando meteu as botas e zás!, de rabo na pedra. Então, partiste o cóccix? Ah e tal, não, não, que tenho umas boas nalgas. Prontinho, adiante, adiante. Conversa sobre nalgas, e as nalgas da amiga do Miguel que tinha quase partido o cóccix porque não tinha as nalgas tão acolchoadas como as nossas e mais não sei o quê… Nestas alturas, dou graças por não termos companhia feminina, senão, não haveria reputação que sobrevivesse ao nível tão eloquente das nossas conversas...

 

À chegada ao carro, o nosso guia fez mais uma descoberta estonteante: olhem, ainda bem que voltámos para trás lá em cima… é que íamos na garganta errada… estou mesmo a ficar senil… - e apontou para uma majestosa garganta afunilada entre medonhos penhascos, sobrevoada por uma camada de nuvens do mais negro que havia disponível, à direita da garganta que tentámos subir e que não nos levaria a lado algum, até porque não tinha mesmo trilho algum para levar ao cume. Mas, aquela outra, sim, era uma garganta para Homens! Enfim, fica para uma próxima. De preferência, quando o guia se lembrar de levar as cartas militares certas! pickwick

17
Jul08

A saga das maminhas – parte 3

pickwick

Já falei da menina de Burgães com madeixas loiras, que encontrámos na Drave? Já? Pronto! Não se fala mais nisso!

 
Bom, depois de vencermos – a muito custo – a vontade de ficarmos a dormir pela Drave, apesar de ainda nem ter chegado a hora do lanche, lá seguimos ribeira abaixo, como quem aponta em linhas curvas em direcção a Covêlo do Paivó, com passagem ao lado de Regoufe. Sempre pela ribeira.
 
É muito giro, devo confessar. O leito da ribeira é coberto por calhaus sem arestas, macios e arredondados. Aqui e além, com bastante frequência, as águas afundam-se nos calhaus do leito e desaparecem de vista, deixando o “caminho” completamente seco. De vez em quando, carvalhos e castanheiros seculares lançam sombras enormes sobre a ribeira. Ao longo dos séculos, os habitantes da região construíram bastantes represas na ribeira, espaçadas entre si de dezenas ou centenas de metros, que nos surgiram como pequenos obstáculos à saudável caminhada.
 
Por vezes, a ribeira ficava tão apertada entre os penhascos nas margens, que pouco ou nenhum espaço sobrava para se caminhar, obrigando a manobras sofisticadas, usando apuradas técnicas de escalada lateral, equilibrismo sobre calhaus, proezas de salto em comprimento, e banhos ocasionais. Cansativo, digo já. Muito cansativo! Se alguns insistiam em trocar de calçado a cada cem metros, alternando entre botas de montanha para saltitar entre calhaus e sandálias de praia para entrar pela ribeira dentro, outros cedo se cansaram desses tiques pouco másculos e transformaram as suas botas de montanha em veículos anfíbios, ensopadas por fora, ensopadas por dentro. E também havia um par de sapatilhas com amortecedores de calcanhar que boiavam sobre as águas, desde que não estivessem a ser calçadas pelo dono. Alguém alvitrou que foi com estas sapatilhas que Jesus caminhou um dia sobre as águas, mas pareceu-me mais propaganda barata do que um facto histórico.
 
Algures, as tropas pararam numa irresistível piscina natural, onde as águas eram tão límpidas que se via com clareza o fundo a quatro metros de profundidade. Apesar da clareza, o tom da água era de um azul delicioso. Daquelas coisas que só quem se aventura por terras de ninguém tem a oportunidade de encontrar. Pausa para mergulhos e braçadas, ora para a frente, ora para trás. Bem, não foram assim tantas as braçadas, porque o sol decidiu dar uma curva e a água de montanha não é assim um caldo de temperatura tão agradável como numa praia conspurcada do Algarve. Mas deu para saborear.
 
Centenas de metros mais à frente, a paisagem mudou ligeiramente e encontrámos uma quinta abandonada. No meio de nenhures, portanto. Habitações de xisto, carroça de madeira, socalcos, portões toscos e gigantescos castanheiros, tudo na encosta de um monte. Depois da voltinha de reconhecimento, voltámos à margem da ribeira – por esta altura, já podemos chamar-lhe rio, não? – para escolhermos um local para passar a noite, que os estômagos já reclamavam o apetecido jantar.
 
Sorte! Um terreno cheio de erva fofa, com sobreiros, a três metros do rio, num plano perfeitamente horizontal. Com um toldo de plástico, montámos um agradável abrigo para a humidade nocturna, usando, para a estrutura e estacas, madeira seca das árvores. Ficou um mimo, com aquele ar acolhedor que tanto agrada a quem está estafadinho e desejoso de uma noite bem dormida.
 
Em três tempos, já a noite a cair, começou o banquete. Chouriça assada e queijo foram os principais conteúdos, sendo de realçar o néctar escuro e perfumado que regou o jantar, na base de uma garrafa por pessoa – ah e tal, estava calor. Para a sobremesa, um petisco de fazer estalar a língua: painho de porco preto e queijo de Nisa! Acho que houve mais qualquer coisa na mesa, mas o néctar afectou-me a capacidade de memorizar géneros alimentícios, pelo que a ementa aqui descrita pode pecar por defeito.
 
Depois ah e tal, não me lembro se alguém caiu ao rio, ou se fomos atacados por algum crocodilo, ou atropelados por um javali desesperado, ou outra coisa qualquer. É o que se chama um “lapso de memória por ingestão de néctar”. Lembro-me, muito vagamente, de acordar a meio da noite, sob um lindo manto de estrelas, e reparar que um dos membros do grupo roncava ruidosamente a dois metros do abrigo, de papo para o ar – como já é habito nestas situações. Uma noite em beleza, portanto. pickwick
07
Jul08

50 passos para começar mal um fim-de-semana

pickwick
  1. Combine encontrar-se com um amigo de infância na véspera de um acampamento de reencontro de amigos de infância (designe-se por Miguel o nome de código do amigo).
  2. Combine que o encontro seja para jantar, à beira de um lago, na base dos petiscos tradicionais portugueses.
  3. Apareça atempadamente, com quarenta minutos de atraso.
  4. Traga uma geleira cheia de cervejas bem frescas.
  5. Estenda uma toalha e comece a assar uma chouriça tipo caseira.
  6. Abra uma garrafa de tinto para acompanhar adequadamente.
  7. Vá mordiscando um queijo de cabra entalado entre pedaços de pão.
  8. Coma umas batatinhas fritas, para salgar o manjar.
  9. Queime alguns pêlos do antebraço, durante a assadura da chouriça.
  10. Faça equilibrismo de alto nível, para evitar que o copo se entorne quando pousado no terreno vertical.
  11. Vá arrotando, de três em três minutos, para demonstrar que está a ter um grande prazer.
  12. Teça bonitos comentários sobre a natureza, o vinho tinto e os porcos dos quais se fazem belas chouriças.
  13. Depois de acabar o vinho tinto, consuma algumas cervejas bem frescas, deixando o gás destas actuar na digestão.
  14. Discretamente, largue uma ou duas bufas, que são rapidamente levadas pela brisa nocturna.
  15. Repare como já é meia-noite.
  16. Beba mais umas cervejas.
  17. Fume uma cigarrilha, para acentuar o efeito do álcool ingerido.
  18. Aceite o convite do amigo para passarem ao digestivo.
  19. Beba meio-litro de digestivo, nomeadamente aguardente de pêra.
  20. Como está calor, beba mais uma cerveja.
  21. Convide o amigo para apreciar um licor de uva caseiro, produção pessoal.
  22. Prepare a bagageira do carro para passarem a noite, que montar uma tenda dá muito trabalho e ainda por cima ninguém trouxe uma.
  23. Já na horizontal, aceda à necessidade crónica que o seu amigo tem de encher os copos com o licor.
  24. Continuando na horizontal, fique com a sensação de que o amigo acabou de lhe impingir mais uma cerveja fresca.
  25. Na mesma posição, prove mais um bocado do licor de uva, servido em copo cheio.
  26. Aceite outra cerveja, mas perca a noção do que está a beber.
  27. Perca a noção do que bebeu, do que comeu, de onde está, e comece a roncar, para fazer um dueto sinfónico com o seu amigo.
  28. Acorde já com o sol no horizonte, estique-se até ao pára-choques e “gregorie” (conjugação do verbo “gregoriar”, isto é, chamar pelo Gregório).
  29. Enquanto tenta retomar o sono, assista ao espectáculo do seu amigo também “gregoriar” com sucesso, com os beiços no pára-choques.
  30. Desligue o despertador do telemóvel, quando este toque para avisar que está na hora de receber o resto dos amigos que vão chegar de bem longe para o reencontro.
  31. Durma profundamente, embalado pelo roncar do seu amigo.
  32. Acorde sobressaltado, completamente agoniado e num planeta distante.
  33. Salte para fora da bagageira do carro.
  34. Repare como a garrafa do licor de uva ficou fazia.
  35. Conte as garrafas de cerveja vazias.
  36. Repare no escandaloso nível da garrafa de aguardente de pêra.
  37. Faça um ar de enjoado ao ver as poças de vomitado azedo mesmo debaixo do pára-choques.
  38. Tente, em vão, acordar o seu amigo, até porque falta menos de meia-hora para chegar o resto do pessoal.
  39. Dê uma volta pelas redondezas, aproveitando para “gregoriar” mais um pouco, apoiando-se acrobaticamente no tronco de uma árvore.
  40. Diga mal da sua vida.
  41. Vá a correr buscar um rolo de papel higiénico e refugie-se numa densa mata de fetos.
  42. Alivie essa pressão matinal.
  43. Beba uma água com gás Vimeiro, trazida estrategicamente dentro da geleira.
  44. Tente, com sucesso limitado, acordar o seu amigo.
  45. Assista, com compaixão, ao percurso do seu amigo: uma voltinha, um chamamento pelo Gregório, e uma corrida para a mata com um rolo de papel higiénico.
  46. Receba, com um ar visivelmente transtornado, os seus amigos que entretanto vão chegando de Lisboa, Porto, Santarém e Angola.
  47. Faça um ar transtornado quando lhe perguntam pelo almoço.
  48. Aproveite enquanto todos almoçam, para tentar dormir mais um bocado e curar a maldita dor de cabeça e a irritante tontura.
  49. Diga ainda mais mal da vida.
  50. Ao jantar, já depois de uma hora a remar em cima de uma jangada, de uma valente sesta e de um grande escaldão no corpo quase todo, faça um esforço e prove um pedacinho de cada petisco que os seus amigos trouxeram. pickwick
12
Set07

Chouriças, lágrimas, tartes, baba e ranhetas

pickwick
Mas que raio de dia, este. Até não começou muito mal, com os colegas de trabalho a comparecerem em peso, uns mais cedo que outros, os primeiros para trabalhar, os segundos para a reunião geral. A curiosidade pela distribuição de serviço e os horários de trabalho, as saudades, enfim, parecia um formigueiro. Pessoalmente, afligem-me estas situações pois, para além de ser alérgico a gatos e gatas, também tenho uma alergia crónica a ajuntamentos de pessoas. Mesmo que sejam todas conhecidas. É mais forte que eu. Não sei explicar. Mas, pronto, a profissão assim o exige e mais não há que fazer senão encaixar a situação. Da parte da tarde, assim que acabou a reunião geral, juntaram-se os três grupos de profissionais desta instituição, somando para cima de setenta pessoas. Juntaram-se, porque é bonito juntarem-se, especialmente se for na cantina, com meia dúzia de mesas exageradamente repletas de iguarias, petiscos, doces e bebidas. Uma concentração de comida suficiente para alimentar – à vontade – umas quatrocentas pessoas. Um momento de convívio gastronómico, para começar o ano depois das férias. Um completo exagero. Deve ser mania do povo aqui das beiras, que, quando toca ao rancho, não se atrevem a deixar espaço vazio na mesa. Não é que me esteja a queixar. Fiz um bocado de cerimónia porque, como já referi, tenho alergia a ajuntamentos de pessoas, seja à mesa, ou numa festa do pijama molhado. Fiz um bocado de cerimónia, mas, ainda assim, deu para provar algumas coisas saudáveis, como chouriças, bolas de carne, pasteis, tinto, bolinhos, tartes, presunto, Sumol, enfim, coisas assim. Comedidamente. Isto é, com discrição, comendo apenas duas fatias da bola de carne, em vez de devorar a bola toda, comendo apenas uma elegante fatia de tarte, em vez de repetir sete vezes, comendo apenas uma fatia de presunto, em vez de esvaziar o prato, e por aí fora. Estes momentos de confraternização mexem-me com os nervos. Andar ali a vadiar de uma ponta para a outra da mesa, metade das pessoas a fazerem também cerimónia, a olharem umas para as outras. Ora converso de pé, ora converso sentado, ora fico só e abandonado de pé, ora fico só e abandonado sentado, ora controlo os trajes femininos da ocasião, ora aproveito para verificar as medidas da D. Susana – que, pela primeira vez, vislumbrei à civil, sem a “farda” de trabalho. Não gosto destas cenas. Parecem aqueles cocktails do jet-set, pirosos, autênticas percas de tempo. Para comer, com prazer, é com os amigos, não com os colegas de trabalho. Mas, enfim, ossos do ofício. Entretanto, aproveita-se a ocasião para, de uma forma suave, passar a mão no pêlo às fãs do ex-patrão, encetando diálogos presunçosamente agradáveis e debates amigáveis, na tentativa de fazer confluir opiniões e sentimentos. No meio disto tudo, soma-se o desespero de algumas colegas, a chorarem baba e ranhetas por causa do horário de trabalho que lhes coube, nomeadamente por causa de umas insignificâncias que, no feminino, assumem proporções catastróficas, dignas de uma bíblia ou de um filme tipo “Jurassic Park”. Andam pelos cantos, lacrimejam, ficam com ranhetas penduradas das narinas, fungam, suspiram, fogem e simulam uma infelicidade maior do que se tivessem sido violadas a seco e com areia por um gorila-da-montanha muito macho mas muito bruto. O patrão Zé, coitado, perdeu logo o apetite com a estória das colegas choramingas. Coitado, e logo ele, que tem perdido noites a tentar que as meninas ficassem com um horário porreiro e aceitável. Não é justo. Mas, com gajas, já se sabe, a justiça não tem corpo, não tem alma e não passa de uma nuvem lá ao longe. Apeteceu-me pegar-lhes pela nuca e enfiar-lhes as fronhas na travessa das rodelas de chouriça assada, ou no prato da tarte de maçã, ou, então, pegar-lhes pelo elástico das cuecas e catapultá-las janela fora. Também tenho alergia a gajas a chorar. Não se aguenta. Não há necessidade. E não há paciência. Ainda por cima, volta e meia ando eu aqui a elogiá-las, ah e tal, ui ui, e não sei quê. Hoje, só me apetecia varrê-las para debaixo do tractor do estrume e passar-lhes com as rodas por cima. Sacanas! Gajas! Ai, que nervos! Por falar em gajas, quero terminar com uma singela referência ao facto de a loira dentuça ter sido a grande dinamizadora dos enchidos neste convívio gastronómico, organizando a assadura de dezenas de chouriças de carne, chouriças de sangue e alheiras, que sobraram em quantidades absurdas, mas que, mesmo às rodelas, não escondem a sua forma original: a de óbvios símbolos fálicos e potenciais apaziguadores de ansiedades primitivas. Além de muitos carros e pouca roupa, a loira dentuça também gosta de se ver rodeada de muitas chouriças. Não lhe fica nada bem, com aquela idade e aqueles dentes. pickwick
09
Set07

Na Sopinha da Aguieira - 2

pickwick
Durante a tarde, que passou lentamente mas acabou muito rapidamente, o que quer que isso queira dizer, ainda deu tempo para estar mais um bocado de molho na sopa, tirar fotografias a libelinhas, montar um soberbo computador de bordo na bicicleta, dormir uma sesta, dormir outra sesta, estar mais um bocado de molho na sopa, e ainda outro bocado, e ainda mais outro, e só mais um bocadinho. Ah e tal, dizia não sei quem, tenho uma amiga que andou a fazer análises à água em diversos pontos do país, e que diz que, por ela, não se metia aqui dentro da água da barragem. Só por causa disso, fomos outra vez meter-nos lá dentro, para afogar o calor. Afinal, não há que ter medo: na água há peixinhos a nadar, apesar dos pedaços de algas com ar altamente suspeito e de não se ver um palmo à frente do nariz debaixo de água. O que realmente estraga todo o ambiente, ali, na Barragem de Aguieira, são os anormais que passam lá o dia a andar para trás e para a frente com as suas motos-de-água e as suas lanchas. Não os percebo. É como subir num balão de ar quente até quinhentos metros de altitude e ligar uma aparelhagem aos berros com música hip-hop. É como escalar uma montanha com música metal-pesado a ecoar por todo o lado. É como subir aos céus e ligar um martelo-pneumático. Simplesmente, não se compreende, a não ser que tenhamos em conta a evidente limitação cerebral destas pessoas! É que, ali, naquelas paragens, com árvores, água e erva verde, a última coisa que apetece ouvir é um motor a roncar. Mas, eles insistem. Passam para um lado, passam para o outro, prego a fundo, velocidade máxima, ui, que emoção!, os estúpidos. Emoção era pegarem numa pagaia e dar aos braços. Isso, sim! É que era de homem! Assim, conspurcam o ambiente sonoro, conspurcam a água, conspurcam a paisagem, e dão-nos uma vontade enorme de lhes trespassar a cabeça com um ferro em brasa. Aqui, sentado, pouco mais posso fazer para além de lhes chamar nomes feios e rogar-lhes pragas negras. Finda a tarde, arrumámos as trouxas e rumámos ao “Lagoa Azul”, para, no âmbito da despedida, bebermos umas cervejinhas geladas. Ah e tal, aposto como não chegas de dia ao Carregal, dizia o Miguel. Vá, anda lá meter a bicicleta dentro do carro, dizia o Nando. Os amigos, são mesmo para estas ocasiões de grande cansaço. Um aposta que não consigo, outro quer convencer-me a desistir. É bonito! Mas eu, que não sou de me deixar ficar, excepto quando vale a pena não ir, arrastei-me até à bicicleta e, com um esforço hercúleo, saltei-lhe para cima e saí disparado estrada fora, em direcção ao horizonte, a brisa no rosto, com destino ao infinito, velocidade de cruzeiro, ah e tal. Vá, pronto, fui a pedalar, quase que não me aguentava em cima, com o cu todo dorido das duas horas passadas em cima, os músculos das pernas a darem as últimas, e o estômago a ressentir-se da variedade gastronómica do dia. Mesmo assim, ainda dei quase quarenta quilómetros por hora numa descida e percorri dez quilómetros. É fácil dar quarenta numa descida. Ou não. Depende, se o computador de bordo estava a funcionar direito ou não. Depois, liguei ao Nando, onde é que estás?, espera aí! Eu podia dar a desculpa esfarrapada de que parei porque já era noite. Mas, não. A verdade, é que parei porque já era mesmo noite. Eu não sou de dar desculpas esfarrapadas, obviamente. Também podia dar a desculpa esfarrapada de que parei porque estava tão cansado que já não aguentava mais nenhum plano adversamente inclinado e até já nem para pedalar no plano horizontal tinha força nas pernas. Mas, não. A verdade, é que parei porque andar de bicicleta é uma actividade muito monótona e não dá luta e homem que é homem não prolonga actividades que não dão luta. E assim foi, metemos a bicicleta no Fiesta do Nando e lá fomos, rumo à minha aldeia. E o jantar? Ah pois é, havia restos de chouriça, uma assada, outra nem tanto, mas faltava o mais importante: a cervejinha fresca. Às 20h40, não havia grandes esperanças de encontrar um supermercado aberto. Ainda parámos em dois, fechados. Mas, como há gajos com sorte, e chegámos à minha aldeia às 21h04, demos um pulinho ao Pingo Doce, só por descargo de consciência. As meninas do Pingo Doce da minha aldeia, umas mais feias que outras, tinham-se esquecido de desactivar a abertura automática das portas, pelo que, assim sendo, aproveitei para entrar por lá a dentro, com passo acelerado, como se aquilo fosse as Urgências do hospital distrital e eu levasse o chifre de um touro enfiado naquele sítio onde o sol não brilha. Uma emergência, portanto. A menina que passava a esfregona ainda gaguejou, mas eu necessitava mesmo muito, muito, muito de umas cervejinhas. Em menos de um minuto estava com dois packs debaixo de um braço e cartão de débito na mão oposta. Dali saídos, ainda passámos no clube de vídeo (que hoje em dia se deveria chamar clube de dvd) para buscar o “Flyboys”. Aviões, tiros, mortos e feridos! Ui, que é bom! pickwick
12
Abr07

Chouriça de azeite

pickwick

Hoje de manhã cruzei-me com a Mary. Ah e tal, logo depois da reunião aparece lá em casa para assarmos umas chouriças que têm que se comer rápido, disse ela. Ah e tal, está bem, disse-lhe eu. O Philip e o Claude também iam, bem como a Charlie, que vive com a Mary. Depois da reunião, ainda fiquei à espera do Philip e do Claude, o primeiro porque estava a ver os mails e a assistir umas amigas no MSN, o segundo porque não sei bem, mas estava com uma gaja qualquer. Enquanto esperava pacientemente, apareceu na sala uma loira. A sério! Loira e gira! Normalmente as loiras portuguesas são mais feias que um escaravelho caído no óleo queimado de fritar batatas, mas aquela era bem gira. O Philip, que é jovem e pouco dado a contenções, começou logo a querer ficar mais tempo para tentar ir à mesma reunião que a loira, comentando esta pretensão com alguma sonoridade. Entretanto, entrou o patrão na sala. Ah e tal, venha ali para o gabinete, disse ele para a loira. Pronto, sacana do patrão! Lá foi a loira e voltou a sala à mesma pacatez e pobreza artística. O Philip queria ser patrão. Eu, hoje, também queria ser aquele patrão, para levar uma loira jeitosa para o gabinete. Ui, ui! Bem, em casa da Mary e da Charlie, a mesa estava ligeiramente mais bem recheada. Até havia gelado de rum com passas, tal como sugeri da outra vez! Nas brasas de uma lareira, duas chouriças de azeite (ou em azeite, ou sei lá o quê) chamuscavam-se. Uma porcaria! Enjoativo até mais não. É como comer uma chouriça normal e beber meio litro de azeite para acompanhar. Felizmente, havia uma terceira chouriça, dita normal, que soube muito bem a chouriça e melhorou o ambiente. Ah e tal, são caseiras, dizia a Mary. Pois sim, que sejam! A Mary é uma gaja esquisita. Tanta comida, tanta variedade, pão, folar, chouriças, cervejas, sumos, gelados, regueifa, etc., e ela, ah e tal, não gosto de nada do que está na mesa. Mas isto compreende-se? O Claude, que é um gajo simpático, perguntou-lhe logo aos gritos: então, e de chouriça crua, já gostas? A Mary engasgou-se um bocado, risota para trás, risota para a frente, enfim. Nova intervenção do Claude, que, para além de ser um gajo simpático, também é um gajo casado: eh pá, o que eu mais gosto na Mary é o cu! É mesmo bom, redondinho, perfeito. Confirmação do Philip: pois é, o Claude todos os dias diz que o que é mesmo bom é o cu da Mary. Risos, ha ha ha, he he he, hi hi hi… Eu também queria dizer qualquer coisa, mas não cedi à tentação de perder a compostura e complementar as referências estéticas da Mary. Fui forte e resisti. Disfarcei e olhei para a televisão. Má escolha! A telenovela que estava a passar estava impregnada de gajas jovens, podres de boas, todas trajando biquinis minúsculos, com peitos volumetricamente abastados, ah e tal, e pronto. A Mary inclina-se para a frente, para a lareira, para virar a chouriça, o elástico da cueca fica à mostra, o Claude resmunga que ela passa a vida a fazer aquilo em público e que um gajo fica logo desconcentrado, e blá blá blá. Por falar em gajas, vai a conversa para a loira da dentuça e da pele ao léu. Vulgo “loira do Mercedes”, por conduzir um jipe da Mercedes. Gritos histéricos, deles e delas: eia, que tem umas banhas gigantes a saltarem-lhe entre o top e a cintura, anda com umas calças todas esfaqueadas à frente e atrás, é feia, e as gajas assim não deviam andar naqueles preparos. Subscrevo totalmente. Ainda não tinha era reparado que ela tinha assim tantas banhas… estarei a ficar pouco exigente e muito distraído? Ou eles e elas é que são exagerados? Urge esclarecer! Pelo caminho, um contributo para o enriquecimento da história e da cultura da humanidade: o Claude revela que a Marilyn Monroe costurava botões do lado de fora das copas do soutien para imitar mamilos proeminentes, provocadores e excitados, que espevitavam a imaginação dos homens de todo o mundo, os quais, aos milhares, ainda segundo o Claude, se masturbavam às custas desses botões. O Philip confirmou: sim, a mãe dela até era costureira. Claro. Para não fugir a temas femininos, tombou a conversa para a Doce (mais um nome de código, sim), nossa colega de trabalho. A Doce, de há uns meses para cá mudou radicalmente a sua fisionomia. Sendo desportista, sempre a conhecei na casa dos 40 mas com um corpo fabuloso, fibroso e elegante. Dia após dia, vinha com umas calças justíssimas, espevitando a imaginação de quantos tropeçassem com o olhar na sua figura, de costas, encostada ao balcão do bar, a pedir uma tosta e um galão. Às vezes, justas demais. De há uns meses para cá, começou a engordar desalmadamente. O rosto permanece igual. Ou seja, a Doce está quase com corpo de baleia, mantendo o rosto de um modelo de passerelle. Passa pela cabeça de qualquer um que ela esteja grávida. Passou pela minha. E pela do Philip. Só que o Philip é assim mais dado a intimidades, daí que a apanhou um dia e perguntou, bem alto e em bom som, ah e tal, então, estás a engordar tanto… estás a ficar grávida, não estás? Não, não, responde ela, com um sorriso amarelo. Envergonhada, a Doce lá explicou que parou de tomar dezenas de anti-depressivos e outras porcarias do mesmo calibre, o que lhe provocou um apetite voraz, pelo que tem engordado a olhos vistos. Minutos depois alguém explicou ao Philip que a Doce já se tentou suicidar, embora tenha uma vida folgadíssima, casada com um médico, com uma filhota toda fofinha, vida profissional estável, etc. Apeteceu-me pedir à Mary para que, caso tome anti-depressivos, nunca deixe de os tomar. Mas fiquei melhor caladinho, guardando pensamentos badalhocos só para os meus botões. Acabadas as chouriças, acabadas as casacas onde cortar, viemos embora. Tenho que me cuidar. A exposição a estes ambientes e a estas conversas, não contribui, de forma alguma, para imprimir alguma decência no meu pensamento. Antes pelo contrário! Cus redondos, loiras boas raptadas para gabinetes, loiras dentuças com banhas de fora, gajas a engordar, gajas com botões do lado de fora do soutien, gajas das telenovelas brasileiras, e chouriças de azeite, não me trazem tranquilidade nenhuma! pickwick 

30
Mar07

Frango morto nas natas

pickwick

Antes que esqueça, e porque isto se torna perigoso, começo por introduzir os personagens: Mary, Charlie (é gaja, atenção), Philip e eu mesmo. Nomes de código, claro, por precaução. Outro dia, coiso e tal, a Mary manda SMS: ah e tal, a Charlie esqueceu-se de te convidar para vires cá comer um frango com natas. Um convite? Para comer? Hum… que simpáticas que são estas gajas. Ah e tal, é preciso levar alguma coisa? Gelado? Chouriça? Não, temos tudo! E bebidas? Ah, temos cá cervejas! Pronto, então. E lá fui eu, ontem à noite, com a sirene e os piscas e o fogo de artifício do Rover da Charlie a abrir caminho pelas ruelas de uma aldeia beirã cheia de casas de granito. Estacionamento numa aldeia onde as ruas foram feitas à medida para as carroças? Fácil: é mesmo no recinto da Igreja! Muito bem! Muitos carros beatos tem aquela aldeia. Bom, a casa das meninas era de granito, muito bonita, com vista para a Serra da Estrela. Lá dentro, o Philip aquecia-se numa lareira com recuperador de calor com a respectiva porta aberta, enquanto a Mary chafurdava no forno, feita dona de casa. Não fui de modas e saltitei alegremente até perto do forno, espreitando, curioso. Um frango morto repousava num leito de natas a borbulhas. Olha, não era melhor deitares as natas mais no fim? Calou!, respondeu a Mary, sempre tão querida. Então e umas entradas, não há? Porra!, ‘tás aqui ‘tás lá fora, vociferava a moça, já arreliada com a inconveniência das perguntas. Estas foram as primeiras perguntas, mas muitas mais houve. Pois, porque um gajo aceita um convite para ir comer a casa de duas gajas trintonas (que não são lésbicas, note-se), pensando que seria presenteado com um banquete para alarves, com petiscos para a entrada, farto repasto para o meio e deliciosas sobremesas para rematar. Afinal, fui enganado! A Charlie não cozinha. O acordo é que a Mary cozinha e a Charlie lava a loiça. As entradas foram dois pães que resgatei heroicamente de um saco abafado. As bebidas foram uma Super Bock Abadia (exemplar único), uma Super Bock normal em lata que não abri com receio de apanhar uma infecção no estômago por causa da ferrugem da lata, e dois pacotes de sumos esquisitos. O frango morto vinha afogado numa mistela esturricada que em tempos foi um banho de natas. Ao que parece, havia também cogumelos à mistura, mas não dei por nada e a Mary também não encontrou nenhum. Para acompanhar, havia arroz branco, que, por minha insistência e sugestão, ainda passou pelo forno para tentar ganhar uma cor mais saudável que o branco-pálido-morto. A Mary ainda meteu mais arroz a fazer, porque o tacho inicial tinha arroz que dava para alimentar uma criança de quatro anos durante três minutos. Ninguém comeu alarvemente. Bom, eu ainda fiquei mais uns quinze minutos à mesa a enfardar arroz, mas isso agora não interessa. Para a sobremesa, apareceu um gelado Vianeta com ar raquítico e enfezado, do qual sobrou cerca de três quartos, não sei bem porquê. Para acabar em beleza, um cafezinho feito pela Mary. O Philip ia desmaiando de agonia, a Charlie engasgou-se e a Mary acho que se babou um bocado. Sabia mal que se fartava, desculparam-se. Eu não dei por nada e bebi da caneca maior. Não houve digestivo! Mas que m**** de jantar foi este? Hum?! Já não há gajas como antigamente? E estas duas ainda são solteironas, mas eu já estou a ver porquê! Não sabem preparar um jantarzinho agradável para os colegas! Não sabem! Ponto final! Ainda desafiei o Philip, ah e tal, temos que ensinar a estas gajas como se prepara um jantar porreiro, com entradas, um bom assado no forno, bom gelado, etc., mas ah e tal, não contes comigo na cozinha, pá, adiantou o Philip. Sou eu que vivo num mundo à parte? Sou eu?! Bom, ficámos combinados que, depois da Páscoa, juntamo-nos novamente para outro jantar. Desta feita, eu arranjo as entradas, eu faço o jantar, eu trago as sobremesas! Esta malta ainda está a tempo de aprender a cozinhar e a receber os amigos com alguma decência! Mesmo depois dos 30! Carago, oh Mary, nem uma porcaria de uma azeitona?!... pickwick