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Arautos do Estendal

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Arautos do Estendal

01
Out09

A crise do casamento

pickwick

Ou não!

  

Hoje conheci a última profissional a ser recrutada para a minha instituição. Era loira e tinhas olhos negros. Até agora ainda não consegui decidir se era loira natural com lentes de contacto pretas, ou loira pintada com olhos negros. Um dia destes espero descobrir.
 
Eu acho que as loiras são o máximo. Dentro do respectivo contexto, claro.
 
Acontece que esta loira, que ainda por cima é elegante, embora quarentona avançada, trazia uma aliança de casamento!
 
Parece uma coisa banal, mas fez-me tocar aqui meia dúzia de sinos dentro da cabeça.
 
Duas horas antes, sofri um choque quando, em conversa com outra colega, esta contou que ah e tal e não sei quê o meu marido e tal. E tinha eu pensado que esta, ao menos, como era novinha, magrinha, com duas maminhas luxuosas do tamanho de meloas, seria solteira! Mas não! Era casada! Sem anilha! Só por causa disso, de agora em diante hei-de tratá-la por palito-com-meloas.
 
A mulher-orc, também é casada. A queixo-de-golfinho também, mas não conta por que eu não gosto de mulheres com queixo-de-golfinho. A verruga-negra, também é casada, mas é muito querida, embora eu não aprecie verrugas. E por aí fora, que nunca mais acaba.
 
Quais é que não são casadas?
- A barriga-de-pote, embora pareça ser boa moça apesar de falar pelos cotovelos e pelos joelhos e pelas articulações dos dedos.
- A carcaça-eléctrica, que com sessenta e cinco anos não há quem a queira nem quem lhe meta fita adesiva nas beiças para se calar e um dia destes ainda cai dos saltos altos abaixo.
- A rabiosque-pizza-familiar, porque tem cara de doninha e maminhas de esquilo e pestanas tipo escova de arame e no meio disto tudo ainda tem um rabiosque daquele tamanho.
- A javalina-ervilha-saltitona, porque tem cara de javali e passa a vida aos saltinhos como se fosse uma ervilha que estivesse sempre a cair da panela e já agora também tem corpo de javali, mas fêmea, claro.
- A narina-parideira, que tem um pai com tanto dinheiro que até deve incomodar. Numa serra portuguesa há umas pedras do tamanho de um punho de criança que brotam de penedos de granito, sendo estas últimas chamas de pedras-parideiras. Portanto.
 
Ou seja, não andem para aí a dizer que ah e tal o casamento está em crise! Tirando os exemplares pouco apetecíveis para o consumo, está praticamente tudo matrimonialmente amarfanhado. Ou então, eu é que tenho um azar imenso. pickwick
03
Jul06

Mamas abaixo das omoplatas

riverfl0w
Ainda a propósito do casamento da minha prima. No final da missa, que foi animada por um grupo de jovens bem prendados, uma das mocinhas do grupo levantou-se calmamente, assim com aquela descontracção de quem vai fazer a milésima leitura da sua vida, sobe lá acima, junta-se ao micro, pigarreia para eliminar bicharada das cordas vocais, aguarda uns segundos, o gajo do órgão (o instrumento musical) toca uns sons muito desafinados, e… bem, divinal! Simplesmente divinal. “Ave Maria”, aquela bela música, numa voz completamente extraordinária! Até me veio um arrepio à espinha, tal era emoção de estar ao vivo na presença de uma voz assim. Fantástico. Até dava vontade de gravar e levar para casa para passar um dia a ouvir. Bom, com a mesma descontracção com que subiu, assim desceu, a menina vestida de cor-de-rosa. Como se viesse da milésima leitura da sua vida. Uma miúda ligeiramente bonita, nos seus não mais de 20 anos. A minha mente, perversa como aparentemente é, cravou-se nas costas dela, assim que voltou ao seu lugar, uns bancos mais à frente. A miúda vestia uma cena que não sei explicar muito bem, mas que vou tentar descrever. A parte da frente não reparei, mas nas costas tinha uma abertura, tipo boca-de-sorriso-de-hipopótamo, a qual deixava ver as costas, logo abaixo das omoplatas. Não sei o que me deu, mas passou-me pela cabeça como seria se as mulheres tivessem mamas também nas costas, logo abaixo das omoplatas, e usassem vestidos destes. Ou seja, à frente, um soutien aparava a jogada e uma camisola garantia o pudor. Atrás, para gáudio dos trolhas, um novo par de mamas, todas espevitadas, como que a saltarem à golfinho, exibiam-se por entre a sugestiva abertura. Estou a falar, portanto, de uma mulher com quatro mamas. Seios, portanto, para os que teimam em confundir mamas com a conjugação do verbo mamar. Quatro mamas, duas à frente, duas atrás, como naquele anúncio dos airbags da BMW. Não era bonito? Houve, na história, uma civilização qualquer onde a moda era as mulheres usarem um vestido propositado para que as mamas ficassem totalmente à mostra, a caírem melodiosamente para a frente. Bons tempos, esses. Mas só tinham duas mamas. Com quatro era bem melhor. Aquelas imagens que aparecem inesperadamente na Internet com uma mulher com três mamas são altamente inestéticas e representam um aberração da natureza. O que é bonito, vem aos pares. Excepto o que vem só, porque se emparelha muito bem com outros solitários, acabando a fazerem pares na mesma. No que toca a relações sexuais, ou, para os mais pudicos, no que toca a fazer amor (os pudicos devem pensar que sexo é como fazer panadinhos de peru, não?), há uma vantagem óbvia: duplicam as posições em que o acesso das mãos é directo. Isto não é estar a ser ordinário, mas é apenas um exercício académico elementar: experimentação assistida pela imaginação! Segundo os teóricos da evolução, é provável que, se começarmos a afagar circular e insistentemente a zona abaixo das omoplatas das nossas mulheres, companheiras, namoradas ou amigas, daqui a X milhares de anos as mulheres verão crescer naturalmente nas suas costas um belo par de mamas. É certo que não dá muito jeito na hora de dar de mamar aos cachopos, mas se os pegarem pelos tornozelos e os atirarem para trás das costas, os pequenos são bem capazes de dar conta de si e chegar onde o líquido jorra. Depois de Y milhares de anos, os bebés nascerão com os ossos das pernas elásticos, para poderem ser atirados para trás das costas sem que se partam os ossos ao vergar a mola nos ombros da progenitora. O Estado deveria criar uma polícia especial que controle a evolução, por forma a que não surjam uns tarados quaisquer que passem o tempo a acariciar outras partes dos corpos das mulheres, na perspectiva de lhes ver nascer mamas por todo o lado. Imagine-se uma nova seita cuja ideologia se baseasse nas mulheres com três pares de mamas: um par no sítio do costume, um par nos rins, uma mama no cotovelo direito e outra debaixo do queixo. Há que precaver estas situações, obviamente. Como já referi, as mamas querem-se aos pares, por isso, nada de separações inestéticas e perversas. pickwick
02
Jul06

A cria de búfalo

riverfl0w
Acho que nunca desabafei sobre a Sandra. Bem, a Sandra era uma vizinha da minha prima com quem eu mantive uma certa afinidade e, até, uma certa amizade, embora a distância não desse azo a mais nada. Parecia boa mocinha, bem feitinha, querida, simpática e ah e tal. Uma vez, há mais de uma década atrás, andava eu feito ao desespero, a tal ponto que fui na conversa de ir para o “Dia Depois”, aquela famosa discoteca beirã, onde pulula uma concentração inacreditável de mentes vazias. O desespero era tanto, que quando dei por mim estava a dançar uma daquelas MCF’s (leia-se, Música para Constituir Família) agarrado a ela, a lambuçarmos as beiças um do outro. Durou pouco tempo, note-se, pois em poucos segundos descobri, graças ao divino raio de luz da bola de espelhos, que a Sandra tinha paletes de borbulhas na cara. Ora, o desespero tem limites. Pronto. Enfim, seja como for, trocámos correspondência durante alguns anos, até que o destino da vida levou ao esquecimento mútuo. Até ao dia em que dei de caras com ela aqui na vila, a meia dúzia de metros dos correios. Conversa puxa conversa, ah e tal, ficámos de ir beber um copo para contar mais novidades. Isto já foi há uns anos, mas desde esse cruzamento que começou um tormentoso aturo de uma doente esquizofrénica. A bem dizer, uma mulher que vive mundos fora daqui, que inventa situações, cancros da mama e da nádega, leucemias e diarreias, sei lá, ora adeus que vou viver para Londres, ora olá que afinal não vou porque vou ser operada ao cérebro, olha isto, olha aquilo, enfim. Certa noite, já na N-ésima em que me ligava e mandava SMS com mais episódios fantásticos das sete vidas dela, pedidos de socorro e declarações de arrependimento, devolvi a última SMS, lá para as 4 e-troca-o-passo horas manhã, cuja redacção era mais ou menos assim: “ligas-me outra vez e saio daqui disparado até tua casa (ela vivia com os pais), arrombo-te a porta, ponho o bairro todo a pé e nem a GNR te safa”. Um gajo por vezes tem de ser assim, poético, para merecer alguma atenção. Foi remédio santo durante algumas semanas, mas com esquizofrénicos não há sol que dure. Optei por ignorar, o que também deu alguns resultados, tendo diminuído as SMS patéticas quase até à nulidade. Como que assunto resolvido. Considero-o resolvido, de facto. Ontem, a minha prima casou-se. Eu fui ao casamento e a Sandra também. Não lhe dirigi a palavra e o dia passou-se bem. Seja como for, e porque eu realmente tenho mesmo muito mau feitio, não resisti em dedicar alguns momentos de reflexão sobre a Sandra. Reflexões maléficas. Bom, pasmei-me ela ter um filhote, estar prenha de outro, e ter um marido, ou companheiro, ou sei lá. O companheiro é um tipo extremamente franzino, tipo judeu em estado terminal num campo de concentração nazi na última guerra mundial, com três únicas diferenças em relação a esses infelizes: estava vestido como as pessoas que vão a um casamento, tinha gadelha que dava para fazer um pincel e tem uma companheira esquizofrénica. É um infeliz, também. Não sei como é que lhe fez um filho, francamente. A Sandra é quase maior que eu, tanto em altura como em outras dimensões físicas. Tem uma bunda. Para os mais incultos, “bunda” é um excesso bidimensional das nádegas. Não é “quadridimensional”, porque as nádegas não se excedem para a frente, onde fica a zona púbica, nem na vertical. Ou seja, excesso bidimensional, a saber: para os lados e para trás. E uma grande bunda. Como é que o gajo foi capaz de… enfim! Mas alguém consegue ter prazer em coiso e tal?… Oh, francamente, é que não há qualidade! Nem condições de serventia. Mas, o que foi mesmo um choque estético, foi a visão horrenda ao sair da missa. Eu não sou de andar a olhar para estas coisas, claro, mas estava sol e enfim, há coisas que saltam mais à vista que outras, por bons ou por mais motivos. Neste caso, por um péssimo motivo. É que a Sandra, essa mutante mal engendrada, estava vestida com umas calças de licra pretas, meio transparentes ao sol, mais de meio, para ser preciso, saltando à vista a já descrita bunda, uma etiqueta das calças em cima da costura alinhada com o rego das nádegas, e… ó pá, isto até custa a dizer… até tenho receio que me venha o jantar à boca… mas aquela gaja tinha umas cuecas tipo tanga! Tanga, carago! Tipo fio dental! Mas isto admite-se? Mas isto compreende-se? Fiquei logo mal disposto. Isto devia ser proibido. Parece um filme de terror. Arre! Bem, passados os momentos iniciais de agonia, passei umas quantas horas a tentar traduzir. Como toda a gente sabe, há uma percentagem relativamente grande de seres humanos que se assemelham fisicamente a certos animais. Há os cara-de-golfinho, os cú-de-galinha, os narizes-de-catatua, enfim. Dei voltas e mais voltas até encontrar um animal que encaixasse na Sandra. Ou a Sandra se encaixasse nele. Ao cabo de muitas horas de árduo esforço mental, entre copos de vinho verde e lombinhos de porco com castanhas, cheguei à solução: uma cria de búfalo! Tal e qual. Caros búfalos, perdoem-me, não foi por mal, eu até vos curto, sois uns bacanos e ah e tal, mas é uma questão meramente visual. Efeito óptico, estão a ver? Desculpem lá. pickwick
19
Jun06

Vestido de chimpanzé

riverfl0w
O fim-de-semana passado foi mesmo em cheio. Para além de ter acordado com um corpo nu ao fim da sesta de sábado e de ter enchido a fronha da minha patroa com dardos lançados a meias com uma amiga, também fui às compras com outra amiga e ainda fui almoçar a um restaurante altamente romântico, numa cave e uma ementa de picanha deliciosa, com outra amiga. Ou seja, 4 mulheres num único fim-de-semana. É o que se chama ter bom proveito. Bom, mas não posso deixar passar em branco essa bela actividade que é ir comprar roupa. Especialmente roupa para ir a um casamento. De outra pessoa que não eu, está claro. Cada vez que passo em frente de uma loja de mariquices para casamentos, não consigo evitar uma careta de enjoo e um abanão de cabeça. Nem sei bem que palavras serão melhor empregues, mas é uma coisa que me fascina pela negativa. A minha prima vai desembolsar a módica quantia de cerca de 300 contos para pagar um vestido piroso. Tem de ser piroso! Só pode. As noivas ficam sempre pirosas, e quanto mais querem parecer bonitas, mais monstruosas ficam. Acho que, em todos os casamentos que já fui, fiquei sempre a comentar para comigo mesmo: “poxa… a miúda até não era feia… mas agora assim…” Se, por um lado, empastam-se com quilos de maquilhagem foleira, ficando com aquele ar de nativas de África que põem uma camada de bosta de búfalo no rosto para tratar a pele, por outro lado, vestem-se com as vestimentas mais abobalhadas que algum criador embriagado inventou, com uns folhos e umas rendas e umas pirosices indescritíveis a rojar pelo chão. É mesmo piroso, a sério. Parecem ursas num circo falhado de aldeia. Ao menos os noivos safam-se com mais facilidade, envergando um fato e mais nada. Claro que há os que gostam de fazer parceria com a ursa da noiva, e compram uns fatos todos artilhados, com folhos maricas a sair das mangas e outros adereços de que não há memória. Enfim, é tudo muito foleiro. Daí que, ao ir às compras, tive que me sujeitar à oferta, dentro dos limites do reino animal. Ou seja, animal por animal, que seja um mais próximo do homem. Os ursos, como toda a gente sabe, descendem dos peixes, logo não têm nada a haver com o bicho homem. Assim, o animal mais próximo será o chimpanzé, e foi à cata disso que entrei numa loja: para comprar roupa que me deixasse com ar de chimpanzé. Se no capítulo das calças a coisa correu bem, já na parte da camisa o funcionário da loja correu alguns riscos quando sugeriu uma camisa cor-de-rosa. Eu ainda fiquei atónito a olhar para uma camisa cor-de-rosa (realmente cor-de-rosa) na prateleira das camisas para homens, como se houvesse algum engano, mas o funcionário prontificou-se a garantir que se usava muito. A minha amiga compactuou com o funcionário nesta trama de convencer os homens - esses animais másculos, viris, de peito varonil e muitos pêlos a saltar pelo colarinho – de que usar camisas cor-de-rosa é fashion. Mas como é que alguma vez no mundo usar uma camisa cor-de-vomitado-de-mousse-de-morango pode ser fashion???? Bom, de entre as cores foleiras que povoavam a loja, acabei por ficar-me com uma cor-de-pérola-não-sei-de-que-porcaria-de-recife. A seguir, foi o trauma das gravatas. Eu acho as gravatas ao mesmo nível da bolinha que os palhaços usam no circo, mas enfim, aqui a situação era uma boa causa: fazer a vontade à minha mãezinha, que muito preza as gravatas e outros adereços que fazem de qualquer homem decente um autêntico urso. A ideia até era boa, as cores das gravatas é que são um escândalo. Não têm cabimento, a sério. O expositor rotativo parecia uma terrina de sopa cheia de vomitado de um banquete, uma mistura entre vómitos de bifes de novilho, bacalhau com natas e muitas sobremesas. Pensei, por várias e muitas vezes, em virar costas e sair disparado da loja, mas a minha amiga não ia achar piada e depois nunca mais ia falar comigo e pronto, sucumbi à azia de ficar com uma gravata cujas cores já não me lembra, mas que parece uma espécie de preparado de enguia para fritar. Na loja da frente, a sapataria. Posso resumir a aventura na sapataria desta forma: vim-me embora com uns sapatos por um preço aceitável, mas que, tal como a esmagadora maioria dos sapatos nas sapatarias, tem um formato horrível: um bico-de-pato-com-gripe. Os sapatos dos palhaços são do tipo bico-de-pato-inchado-depois-de-um-sopapo. Estes que comprei são bico normal, apenas com gripe. Enfim, no final, o conjunto completo é tal e qual um chimpanzé. Só me faltou comprar um bocado de corda e um pneu. pickwick