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Arautos do Estendal

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Arautos do Estendal

26
Abr12

Abutrismo

pickwick

“Abutrismo” vem do “abutre” e já sei que esta palavra não existe, mas fica bem mais exótico do que recorrer a malabarismos com “necrófago”. Se bem que “detritívoro” e “saprófago” fazem lembrar, respectivamente, uma dançarina bolachuda de Honolulu abanando dezenas de folhas de couve agarradas à cintura, e um sapo que só come batatas fritas do McDonald’s regadas com molho de saliva de princesa. É giro, mas não é modermo. Já “abutrismo”, faz lembrar essa “nova” modalidade desportiva chamada arborismo, que mais não é do que uma imitação barata de uma prova constante do currículo de várias tropas especiais em todo o mundo. Cheira a modernidade, portanto.

 

Outro dia, dei por mim a sentir-me nitidamente como um abutre, a pairar lá no alto dos céus, vigiando as tragédias alheias e aguardando pacientemente uma pouco esforçada refeição. A que propósito?

 

Há uns três anos atrás, trabalhou na minha instituição uma mocinha chamada Caty (nome de código), aí pelos seus trinta aninhos, fofinha quanto baste, casada e mãe recentíssima. Uma joia de miúda, prestável, simpática, reservada, elegante, enfim, só com o grande “defeito” de ser casada.

 

Ora, há um par de meses, comentou-se em sussurro que a Caty se tinha divorciado, após um curto casamento. E pensei para comigo: ena pá!... tão fofinha… agora, livre que nem um passarinho… provavelmente a precisar de compreensão e carinho e atenção e miminhos e um penteado novo e coiso e tal… Assim que pude, espreitei-lhe o dedo, para confirmação, e aproveitei a onda para espreitar tudo o resto, a ver se as condições de qualidade se mantinham: o diâmetro das coxas, o volume das calças de ganga, o posicionamento do umbigo em relação à espinha, e até o sorriso, que quase não se vê. Como um abutre, a ver se o naco de carne em decomposição ainda está dentro do “prazo”. E senti-me envergonhado comigo próprio! Francamente. A desgraçada da miúda a tentar endireitar a vida, provavelmente, e eu a tirar-lhe as medidas todas e fazer contas de cabeça.

 

Felizmente, caí em mim. Não há nada como um défice excessivo de glúteos para um gajo cair em si. Ou, como diria um amigo: arranjas com cada desculpa mais esfarrapada…

 

Ainda assim, vou aguardar pacientemente por um clima mais propício à apreciação visual da arte anatómica. pickwick