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Arautos do Estendal

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Arautos do Estendal

04
Jun04

É na boa

riverfl0w
A ouvir, na voz de João Vaz

O meu blog dava um programa de rádio - Rádio Comercial

 

Vim agora de um teatro. Ao meio-dia é uma boa hora para vir de um teatro. E, sendo meio-dia, a probabilidade de ter sido um teatro de temática erótica é reduzidíssima. Mas não nula. E não foi. O tema era ambiente. Acho eu. Não percebi muito bem. Foi tudo tão rápido que nem cheguei a entrar na onda. Mas tinha árvores e rios e uma “fumarola” e um monstro da poluição e mais não sei o quê, acho que um gato e um rato, o gato era o apresentador e falava "axim” e o rato escondeu-se atrás de uma árvore ou de um girassol, que também não percebi bem o que era. Era um teatro infantil. Infantil no sentido em que os actores eram criancinhas. Acho que indivíduos entre os 10 e os 12 anos ainda podem ser chamados criancinhas. Espero que sim. Alguns bastante talentosos, ao ponto de eu ficar pasmado. A mensagem da peça também não entendi muito bem. Pouco antes do almoço as coisas do mundo tornam-se menos perceptíveis. É normal. A assistência também não sei se captou bem a mensagem, se é que havia uma. Reparei que vibraram electricamente quando o rio, as árvores e mais não sei quem, atiraram o monstro da poluição ao chão e lhe chegaram a roupa ao pêlo. Na assistência já havia gente de pé com os olhos a saltarem fora das covas, completamente absorvidos pela cena de pancadaria. Até podia ser a Madre Teresa de Calcutá a vítima, que não interessaria. Pancada é pancada! Mas foi o monstro a vítima, atrozmente espancado até à morte. Explodiram as palmas de entusiasmo. Alegria. Júbilo. Felicidade. Ehhh!... Vitória!... Enfim. Não pude deixar de reparar na forma atabalhoada como o show foi apresentado. Por certo que houve ensaios, mas ainda mais certo foi terem sido ensaios-repartidos. Como as férias. Ensaio do conjunto, incluindo actores, música e projecção de imagens, isso é que nunca se fez. Bastou ver as atribulações da execução: era o micro sem fios que ninguém se lembrou de ligar, era o ruído no som, eram as músicas nos tempos errados, eram as imagens trocadas, eram os gestos de correcção de tudo e mais alguma coisa, enfim, uma vergonha. Mas... é na boa. As criancinhas, que daqui por 20 anos estarão no mercado de trabalho liderando e sendo liderados, produzindo e gozando, habituam-se desde pequeninas a participar em processos conduzidos em cima do joelho, sem cuidados mínimos de exigência, com falhas facilmente evitáveis com um pouco mais de preparação e ensaio, terminando sempre, mas sempre!, com aquele ar generalizado de que “é na boa”. Os mais velhos exibem esse ar, e eles seguem-lhes as pegadas. Se a ponte cair, é na boa. Se a máquina falhar, é na boa. Se faltar alguma coisa, é na boa. Se correr mal, é na boa. Se levassem com um cacto vistoso entre as nádegas cada vez que pensam assim, a ver se não entrava tudo nos eixos. Vota lista C. “C” de cacto. pickwick

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