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Arautos do Estendal

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Arautos do Estendal

04
Dez12

Uma voltinha de mota

pickwick

A colega que me apalpou o braço, continua imparável. Para além de passar a vida a mandar-me SMS com conteúdos despropositados, como “bom fim-de-semana” ou “foste embora e nem te vi”, agora manda-me SMS a pedir para a levar a dar uma voltinha na mota. Será que um dia destes tenho que lhe explicar que é casada e mãe de filhos, e que eu não fico seduzido com a ideia de a ter colada às minhas costas em cima de duas rodas? Ainda me furava as omoplatas com aqueles seus mamilos sempre em pé! Credo! Não, não!... pickwick

03
Dez12

A Honda, a neve e a mula

pickwick

Após muita ponderação, muitas pesagens de prós e contras, e muitas contas, sempre me decidi comprar uma mota. Já lá vai um mês, é verdade. Honda CBF125M. Consumo de 1,8. Como na foto. Com carta de automóvel. Porque a vida não está fácil e estou farto de estoirar setenta e tal euros para encher o depósito do carro quando posso fazer a festa só com vinte, tirando duas rodas e uma bagageira e o aquecimento para os pés e mais umas miudezas.

 

Bom, já tinha dado umas voltas com a menina, mas faltava mais um punhado de quilómetros para a levar à revisão dos 1000, pelo que aproveitei a previsão de bom tempo para sábado e quis ir às Penhas Douradas apanhar sementes. Luvas, cachecol polar, casaco xpto, calças impermeáveis (tipo trolha), botas Boreal 130€, mochila às costas, enfim. Correu tudo lindamente, até chegar aos 1400 metros de altitude, lá para as 9h e pouco. O sol desapareceu atrás de uma nuvem gigantesca e havia neve por todo o lado.

 

Em poucos minutos, fiquei com os pés gelados, as mãos idem, o nariz idem, e só se safaram os tintins porque estavam resguardados estrategicamente atrás do depósito de gasolina. No cruzamento para as Penhas Douradas, meia-volta e força, que as rodas patinavam que nem vaselina e já não havia mãos para distinguir uma semente de um penedo de granito.

 

Devagarinho, com jeitinho, safei-me da zona deslizante e comecei a descer em direcção a Gouveia. Lá para os 1200 metros de altitude, já sem neve, encostei a menina e larguei a correr montanha acima, na esperança de conseguir aquecer o suficiente para descongelar a bexiga e dominar a destreza nos dedos. Figurinhas, portanto. Minutos mais tarde, a arfar, de bexiga vazia, estava de regresso à estrada, deslizado montanha abaixo, saboreando o encosto reconfortante dos raios solares matinais.

 

Em Gouveia, pensei: ah e tal, vou ali ao Curral do Negro ver se há sementes. Para meu espanto, poucos metros antes do Curral do Negro, alcatroaram um trilho que leva a Folgosinho. Nem pensei duas vezes: pumba a caminho de Folgosinho, como se fosse levado pelo vento numa pista de motociclismo. É curioso, o país supostamente em crise, e andam a alcatroar trilhos no meio de um parque natural.

 

Chegado a Folgosinho, desci para os viveiros. Boa jogada. Havia bolotas de carvalho em quantidades obscenas. E com dimensões muito generosas. Grande delírio! A determinada altura, cheguei à conclusão de que não havia carro para transportar tamanha quantidade de bolotas. Parei com a recolha e meti a mochila cheia às costas. Quase que me vergou a espinha, tal era o peso. E lá fui eu, carregadinho que nem uma mula. Ou a mota a fazer de mula. Não, era eu mesmo, que as costas eram minhas. Podia ter apanhado outras tantas bolotas, mas não havia condições. Fazer de mula, em pleno século XXI, não é das coisas mais inteligentes, eu sei. Podia ter arranjado uns alforges rudimentares, com restos de calças de ganga, à cowboy-rafeiro, mas nunca me tinha passado pela cabeça arranjar tantas bolotas de uma só vez. Fica para a próxima. pickwick

02
Dez12

Aldonza Lorenzo de leggings

pickwick

É verdade. O frio não é amigo de boas paisagens, mas, por vezes, o Pai Natal chega mais cedo. A Aldonza foi trabalhar de leggings. Pretas. Assim, sem mais, nem menos. Um gajo é apanhado de surpresa e, para variar, fica desorientado do GPS. A moça é elegante, o que é de admirar para a idade, pelo que as leggings cobrem-lhe as pernas sem provocar azia nos observadores mais atentos, como era o meu caso. Os saltos extremamente altos que ela insiste em usar todas as sextas-feiras, no trabalho, pressionam os músculos das pernas e o resultado é agradável à vista, tenho que confessar. Para aliviar a tensão que me assalta quando recordo a paisagem, reconheço que uma mulher em cima de uns saltos exageradamente altos tem sempre um aspecto pouco abonatório, ficando qualquer coisa entre um flamingo com poliomielite e um camaleão com a língua nos 220v. Mete dó, pronto. E passei a manhã assim, a espreitar pelo rabo do olho, a fazer analogias com flamingos e camaleões, e a inventariar o leque de actividades lúdicas que protagonizaria caso o conteúdo daquelas leggings repousasse por uns breves minutos no meu colinho… pickwick