Apalpou-me o braço!
Desde há já vários meses que uma colega de trabalho me olha com uma insistência pouco discreta. Também manda umas SMS às vezes meio despropositadas. Aparentemente, isto seria delicioso. Mas, a rapariga é casada, é mãe de três filhos e tem características físicas que não abonam a favor de uma hipotética empatia visual: cintura de copo de imperial, caroços de azeitona em vez de suaves mamilos, queixo de golfinho, cabelo de coco empastado, locomoção em “passo doble”, enfim.
Físico à parte, usa “prontos” e “portantos” com demasiada frequência para o meu gosto.
Seja no local de trabalho, ou à mesa numa refeição, passa a vida a olhar-me. Não lhe fica bem e confesso que me incomoda bastante.
Esta semana, fomos a uma reunião a alguns quilómetros do nosso local de trabalho, num dia de chuva. À saída, e porque tínhamos ido quatro pessoas no mesmo carro, saímos juntos. Como chovia e eu não uso guarda-chuva (por causa do Alzheimer), a rapariga insistiu em dar-me “boleia” debaixo do dela. Eu não aprecio “boleias” desta natureza, até porque uma chuvinha na careca sempre ajuda a suavizar as emoções e a dar valor ao lar. Mas, não fui suficientemente explícito quanto à minha vontade de molhar as ideias. A rapariga agarrou-me pelo braço, qual cachorro esfomeado a abocanhar um osso. Mais do que agarrar-me o braço, apalpou-o, como quem dizia: ui, anda cá, ui, ui, nhac, nhac, …
Senti-me como que num estado de pré-violação. Como se já me estivessem a puxar pelo elástico das cuecas e a enfiar o dedinho onde o sol não brilha. Ela parecia satisfeitíssima, aos apalpões. Eu contava os metros que faltavam até ao carro. Por fim, a liberdade. Ufa!
Nota final: O que é uma “cintura de copo de imperial”? Bom, é como um daqueles copos de imperial de tasquinha, ligeiramente mais estreitos em cima e em baixo do que a meio. Coisa feia de se ver numa mulher, mas frequentemente impossível de evitar. pickwick