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Arautos do Estendal

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Arautos do Estendal

26
Out11

Uma liga não resolve o problema

pickwick

Era sábado e a madrugada tinha sido antes do nascer do sol. É daquelas coisas que não se devem fazer num dia daqueles, mas, a bem dizer, há valores que chamam mais alto. Três maganões com idade para terem juízo, enfiados num bólide, a cruzarem a Serra da Estrela por cima, apanhando com o nascer do sol em cheio no meio da testa.

 

Já no fim da descida, do outro lado da serra, essa bela localidade chamada Covilhã. Coisa desenvolvida, McDonald’s, universidade, estação de comboio, árvores nos passeios, etc.

 

Depois de tanta apreciação, chegámos às fraldas da Universidade da Beira Interior, ou coisa que o valha. Aqui e ali, estudantes do sexo feminino, trajadas a rigor, avançavam a passo firme pela rua abaixo. Uma delas, em especial, carregava – qual mochila de campismo – a “embalagem” do que aparentava ser um gigantesco violoncelo. Com a nossa extraordinária capacidade de análise intuitiva por observação directa, chegámos à brilhante conclusão de que ia haver farra musical, a julgar pelas moças que transportavam instrumentos musicais.

 

Junto a uma rotunda, com uma construção “armada ao pingarelho” a fingir de fonte, um pequeno grupo de moças aglomerava-se, certamente esperando as restantes. Mesmo à passagem, fui sacudido violentamente pela visão de umas pernas, generosa e extensivamente expostas à luz do dia, por via da inclinação perigosa para a frente da respectiva proprietária. Podia concluir-se, também, que a saia fora concebida em época de crise dos têxteis. Mini, portanto. A subir pelas pernas acima, discretamente, uns collants preto-transparente, firmemente terminados com umas poderosas ligas negras rendadas.

 

(continuo a pasmar-me com a minha capacidade para memorizar certas coisas da vida numa fracção de segundo e enquanto se contorna uma rotunda)

 

Ora, tal paisagem deveria ser motivo de satisfação e alegria. Mas, a verdade é ainda mais negra que as ligas. Há a acrescentar que a proprietária das pernas era uma moçoila arraçada de boi-almiscarado (Ovibos moschatus), na parte que toca ao volume das carnes.

 

Ou seja, um gajo vai por ali abaixo, descansado da vida, a pensar na beleza do interior português e das serras e das cidades serranas e das árvores e dos passarinhos e do nascer do sol, quando, inesperadamente, leva nas ventas com as pernas ao léu de alguém que deveria saber que não tem pernas andarem ao léu. É como alguém andar com um saquinho plástico transparente pendurado ao pescoço, com dez centímetros do seu próprio cocó lá dentro, qual exibicionista orgulhoso. Não há condições e provoca mau estar em quem passa.

 

Confesso que fiquei transtornado. Sorte que ainda não tinha tomado o pequeno-almoço. O enjoo foi tanto, que nem me atrevi comentar aquela visão com os parceiros de viagem, não fosse alguém vomitar-me o carro.

 

Entretanto, a coisa diluiu-se no frasco aberto da memória volátil. O sábado foi passado a desbastar uma zona de silvado em redor de uma charca. O domingo foi mais ameno e terminou com o regresso. Curiosamente, já no fim da viagem, ocorreu-me tocar no assunto da liga preta nas pernas de boi-almiscarado com os meus parceiros, como quem fala no pretérito sobre alguma tragédia. Para meu espanto, também eles tinham reparado nas ligas. Reconheceram-no com voz baixa e olhar desconsolado, e penso que o jantar já não lhes caiu bem. pickwick

20
Out11

Os abraços que esborracham

pickwick

No fim-de-semana passado, estive com algumas amigas. Não são propriamente daquele tipo de amigas que são mesmo amigas e confidentes e que estão ao nosso lado quando nos borramos todos e é preciso mudar a fralda. São mais do tipo ah e tal assim amigas como quem é conhecido e tem algumas coisas em comum mas pouco mais que isso.

 

Seja como for, são raparigas muito sentimentalistas, muito emotivas, muito dadas a momentos nostálgicos e discursos de chorar baba e ranho. Simpatizo com elas pela forma como se dedicam a causas sem fins lucrativos e como vivem essas causas. São umas queridas, pronto.

 

Ora, acontece que o fim-de-semana, para além de ter sido ocupado com uma actividade de uma causa sem fins lucrativos, também foi aproveitado para fazer um flashback das actividades do último ano que passou, puxando pela memória colectiva e explorando a emotividade dos presentes. De forma ligeira, dei (juntamente com o Carlos) alguns contributos para a realização de algumas dessas actividades, pelo que pairava nos corações de duas das amigas um pouco daquilo a que algumas almas chamam pomposamente de gratidão.

 

E como a gratidão é uma coisa bonita, resolveram tirar uma fotografia comigo e com o Carlos. Elas atrás e nós à frente. E, dada a boniteza da gratidão, fizeram questão de se encostar a nós, de forma muito amistosa, não fossem passar por emplastros. Acontece que ambas as raparigas são dotadas de adereços peitorais naturais com dimensões compatíveis com uma desmedida generosidade. Adereços que, num abraço pela retaguarda, ficaram completamente esborrachados nas nossas costas.

 

Mais tarde, na despedida, e porque a gratidão é uma coisa bonita, houve direito a sentidos, apertados e prolongados abraços, com os adereços peitorais a esborracharem-se novamente, desta feita no meu peito varonil.

 

Confesso que fiquei meio sem jeito com aqueles abraços pela frente e à retaguarda. O Carlos diz que ah e tal, dantes também ficava muito incomodado mas que agora isso já lhe passou e que se está nas tintas se as maminhas delas ficam todas espalmadas nas costas ou no peito dele. Eu não consigo evitar sentir-me incomodadíssimo. Acho que as maminhas femininas são daquelas coisas que todas as mulheres deveriam preservar para momentos de maior valor, como é a amamentação efectiva de um filho ou a amamentação fictícia de um namorado. Acho que não são coisas para se andar a esborrachar contra os corpos sensíveis de homens sérios com os quais não há compromisso algum!

 

Por outro lado, dou comigo a tentar perceber o que passa pela cabeça daquelas raparigas. Uma já é quarentona e mãe e a outra está daqui a nada nos trinta. Será que têm peitos sem sensibilidade? Não sabem que uma mama com o diâmetro de um prato-de-sobremesa causa pressão considerável no corpo masculino? Se sabem, esborracham-nas porque é saudável e activa a circulação, ou só porque sim? Será alguma mensagem oculta, assim como que um regresso às delicadas técnicas de engate do Homem das Cavernas? Sinceramente, nunca compreendi.

 

Seja como for, tenho que reconhecer que esta coisa de abraços sentimentalistas com exemplares do sexo feminino é uma alternativa muito válida ao grosseiro apalpão. Isto é, um gajo vai apalpar as maminhas de uma rapariga, para quê? Para lhe tomar o volume, obviamente. É uma simples questão de curiosidade científica, nada mais. O pessoal é que diz logo que ah e tal ordinário, tarado, vadio. Mas, não é nada disso. É só a curiosidade. São verdadeiras? Ou metem um balão de ar para dar volume? São das que caem até ao umbigo, ou aguentam-se? São panquecas, ou pães-da-avó? Enfim, curiosidade científica, portanto. Um abraço daqueles permite fazer esta aferição rigorosa sem que haja lugar a mal entendidos ou a tabefes à conta de virtuosidades achincalhadas.

 

Por falar nisso, resta-me dizer que, da aferição decorrente dos abraços das duas amigas, resulta uma avaliação muito positiva: autênticos Pães-de-Mafra! pickwick