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Arautos do Estendal

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Arautos do Estendal

02
Ago10

Camarões de faca e garfo

pickwick

Assim como que em jeito de encerramento dos trabalhos antes do verão, a Marília (nome de código) convidou a malta do mesmo departamento para uma almoçarada lá em casa. Prometeram-se umas cervejas, umas carnes, camarão e piscina. Como era tudo boa companhia e não havia mete-nojos, aceitei o convite. Costumo ser muito esquisito e recusar convites destes sem pensar muito, mas, de facto, a companhia agradava-me, após um ano de trabalho.

 

Mal chegámos, fomos conduzidos para um local com uma piscina real, de fundo azul, cheia de água, com umas sombras e umas cadeiras. Obviamente, começaram a chover reclamações, porque a malta é trabalhadora e não aguenta muito bem ambientes destes que incentivam o ócio. Em resposta às reclamações, a Marília – com aquela boa disposição e descontracção que não sei onde as vai buscar – disse que já vinha e, no breve regresso, apresentou-se com uma bandeja cheia de salgadinhos que ninguém gosta. Pousou a bandeja junto à água, a malta saltou, que nem lobos esfaimados que só comem erva desde Janeiro, para cima da bandeja, abocanhando chamuças, rissóis e empadas.

 

Ainda eu estava a mordiscar o primeiro rissol de camarão, quando a Marília reaparece com umas minis muito fresquinhas, pousando-as também junto à água. Eu já estava a sentir-me mal por estar a comer um rissol dentro da piscina, com água até ao pescoço, mas as minis foram a gota de água que me fez transbordar a compostura! Ah e tal, oh Marília, a gente assim não aguenta, isto é muito difícil, e coiso e tal, queixávamo-nos nós, de boca cheia e garrafa na mão, batendo os pés como se fossem barbatanas, nadando à vez até junto da bandeja. A Marília não ficou chateada, olhou-nos com um ar condescendente e foi buscar mais umas minis…

 

Já à mesa, aquilo que se podia prever como um almoço saudável em ambiente campestre, transformou-se dramaticamente num banquete alarve. Já não havia espaço para tanto petisco! Pela parte que me tocou, fiquei imediatamente seduzido pelo balde de camarão cozido. Eu gosto de camarão cozido. No Pingo Doce vende-se já pronto a consumir, o que facilita os momentos de desejo súbito. Toda a gente atacou no camarão. Toda a gente se sentiu como em casa, entre amigos, e comeu o camarão à mão. Menos eu. Logo eu, que sou um gajo cheio de boas maneiras, não arroto à mesa, não bebo cerveja pela garrafa, etc. Camarão, foi mesmo de faca e garfo.

 

Claro, a malta é jovem a animada e começou logo a gozar com o meu desempenho, como se eu fosse de Lisboa e achasse que os ovos são feitos numa fábrica. Olhei-os de soslaio, com um profundo desprezo técnico pelos comentários, dei meio sorriso amarelo e continuei a tirar a casca com garfo e faca.

 

Para quem não é adepto de comer camarão com garfo e faca, tenho a informar que é possível fazê-lo ao mesmo ritmo que com as mãos, poupando-se o emporcalhar das manápulas. Aliás, foi mesmo por causa disto que o fiz: não gosto de estar em casa de outra pessoa e ser apanhado numa emergência com as mãos sujas de fezes de camarão. Tal como durmo sempre com umas cuecas vestidas, no mínimo, para não ser apanhado numa emergência todo nu (imagine-se que a casa pega fogo, ou o ex-namorado dela chega de repente, ou…).

 

Não me recordo de ter comido outra coisa além de camarão. Foi uma coisa tal, que fiquei receoso de andar a defecar camarão durante dois meses! Quando é a próxima? pickwick

 

01
Ago10

A filha que mete a mãe na ordem

pickwick

Estava eu a degustar umas cervejas geladinhas na Lagoa Comprida (conseguem tê-las a uma temperatura impressionantemente perfeita), quando recebi um telefonema do Carlos (nome de código): ah e tal, a Maria (nome de código) está a perguntar se não queres vir aqui logo comer umas febras, ou umas entremeadas.

 

Ora, nesse momento, as cervejas vinham a propósito de uma caminhada na serra com uns amigos, durante umas penosas seis horas por entre calhaus, giestas, lagartos e muito pó. Depois das cervejas, o que me apetecia mesmo era um banho, mais umas cervejas, xixi e cama! Ter que fazer mais uns 30 km só para ir comer umas febras, não era das coisas que me apetecia mais.

 

Mas, e porque há sempre um “mas”, talvez não fosse má ideia, uma vez que o Carlos estava de visita à Maria e a Maria tinha uma filha e a filha também ia jantar e não há nada melhor do que quatro à mesa em vez de três. E eu gosto de zelar pelo bem-estar e felicidade dos meus amigos. E também gosto de febras e entremeadas. E umas cervejinhas. Portanto, lá fui…

 

À chegada, o Carlos estava com um ar descontraído. Não sei como é que, perante as circunstâncias, ele conseguia estar assim. É que, a anfitriã, que é uma trintona aloirada com um corpo escultural, extraordinariamente bem conservada para a idade, estava a tratar do jantar com um daqueles ataques de calores que um gajo não aguenta: uns mini-calções, daqueles que marido algum deixaria a esposa usar, e um mini-mini-mini-top, impecavelmente alinhado ao sutiã, deixando para o regalo da vista um decote de fazer uivar qualquer macho mais distraído. Até engoli em seco!

 

Não bastasse tudo isto, ela ficou sentada à mesa mesmo à minha frente, e, ainda por cima, a mesa era estreita, pelo que a proximidade do decote provocou-me uma batalha interior infernal para controlar as minhas órbitas oculares e não as deixar cair mesmo no meio das maminhas dela. Venci a batalha, note-se, mas fiquei muito debilitado. Há dias em que a vida de um gajo é muito, mas mesmo muito difícil.

 

Bom, a parte mais divertida do jantar, confesso, foi quando a filha da Maria, com os seus inocentes nove anos, sugeriu à mãe que ajeitasse o decote, porque estava a ficar um bocado descomposta. Eu não sabia se havia de cair no chão e rebolar-me às gargalhadas… ou se havia de espetar uma cotovelada na miúda (que estava ao meu lado) e mandá-la estar caladinha…

Algumas semanas mais tarde, voltei a estar com o Carlos, sendo que veio à conversa este jantar. Para meu espanto, parece que a intervenção da filha da Maria não foi única. No dia anterior ao jantar, durante um passeio a três, a filha tinha tido uma intervenção ao mesmo nível, com certeza incomodada por a mãe estar a usar um vestido muito leve e fresco e a fita da mala que usava a tiracolo estar a provocar uma elevação nos bordos do vestido junto ao peito, deixando a nu um dos mais belos pedaços da beleza feminina.

 

Eu acho bem que alguém meta a Maria na ordem. Tal como já escrevi, eu próprio tive dificuldade em estar à frente dela naqueles preparos. Fica, no entanto, a dúvida: a filha da Maria, quando descobrir que há rapazes no mundo, vai usar uma bata fechada até ao pescoço? Ou vai, finalmente, perceber porque é que a mãe usava uns decotes tão… sugestivos? pickwick