Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Há, de facto, uma mulher com este nome. É verdade. Pensei que era uma graçola, mas é assim mesmo. Não a conheço pessoalmente, mas é por um triz que ela não trabalha na minha instituição. Por um lado, ainda bem. Se trabalhasse, era provável que eu me escangalhasse a rir à frente dela. Há nomes e há nomes, mas este não é, sequer, humano. Mimi é o nome que se dá a uma gata siamesa bisgarolha ou a uma cadela perneta. Ou a um prato de codorniz guisada. Mas, não se dá um nome destes a uma criança, que um dia será adulta, nem que seja apenas de corpo, e que terá que carregar o fardo de usar um nome infeliz. Os pais, neste caso, deviam ser espancados. Foram cruéis e egoístas. Até certo ponto, foram uns porcos! Ah pois é. Não podiam ter-lhe chamado Maria Madalena? Ou Felismina das Dores? Claro que podiam, mas não o fizeram. Não o fizeram, porque na altura do registo da criança deviam andar a tomar drogas e lá achavam que Mimi e Primavera eram as coisas mais lindas que podia haver à face da terra. Mimi dá vontade de dar beijinhos. Primavera é flores. Droga, beijinhos e flores. Depois, temos mais uma pessoa desequilibrada a partilhar o mundo connosco, que acha que o seu nome é o máximo, que é original e bonito, e que ela própria é bonita e maravilhosa, mesmo que seja uma brutamontes peluda e mal cheirosa sempre com dois macacos à porta do nariz. Se nasceu como cabelo escuro, será pintado obrigatoriamente com uma cor de laranja para cima. As calças (se tiver feito dieta e conseguir vestir umas) serão tipicamente com flores e franjas. Provavelmente, achará que a natureza deve seguir o seu curso e passará dias seguidos sem se lavar. Provavelmente, encontrará um maluco qualquer que lhe achará piada e lhe fará dois ou três filhos, que herdarão da mãe a parvoíce das flores e dos beijinhos, e do pai o dramático mau gosto. Enfim. Eu continuo a achar que as pessoas deviam ter autorização para procriarem. Sexo, tudo bem, é sempre a abrir. Mas, ter filhos, calma aí. Só com autorização. Há males que se podem evitar atempadamente, portanto, não há motivo nenhum para que aconteçam. Mimi Primavera… francamente! Se fosse um gajo, seria o quê? Pipi Morangos? Isso é que haveria de ser uma coisa linda… pickwick
(continuação)
- Olha, para te ser franca, nunca tinha pensado nisso. Já tinha passado uns meses numa vacaria, com umas dezenas de outras vacas, todas a serem apalpadas nas tetas com tubos de plástico. Nessa altura, lembro-me de me passar pela cabeça como seria meter-me com as tetas de outra vaca, mas, como imaginas, não era capaz de sequer o tentar.
- Bem, mas uma coisa é uma vacaria com dezenas de vacas, outra coisa é um local paradisíaco como este, a duas, longe dos olhares indiscretos de terceiros.
- Pois, é capaz de ser mais fácil, realmente.
- É muito íntimo e o prazer inimaginável.
- Oh, mas aqui não costuma aparecer mais nenhuma vaca.
- Mas aparecem raposas!
- Sim, pois aparecem, mas são tão pequenas…
- E então? Qual é o problema? Eu também sou pequena!
- Pois mas tu e uma raposa, são praticamente do mesmo tamanho. Agora, eu e uma raposa, é bem diferente! Já viste a diferença de tamanho?
- Ora, é como com uma lontra. O que interessa é o prazer e não o tamanho.
- Pois, dizem que sim, mas…
- Devias experimentar, um dia destes.
- Talvez. Mas também não tenho lata para falar nisso à Ana Teresa. E se ela fica zangada, me chama nomes e me manda para a outra banda?
- Não exageres…
- A sério, não sou capaz de lhe tocar no assunto.
- Se calhar, era mais fácil experimentares com alguém com quem já tenhas abordado este assunto, não achas?
- Mas eu não costumo abordar este assunto com ninguém. Só contigo.
- Pois, já reparei que sim.
(silêncio no lameiro, som da água a correr e das folhas das árvores a serem batidas pelo vento)
(Magufas pisca o olho a Rebomilda e exibe um sorriso maroto)
- Ai, oh Magufas, estás a deixar-me sem jeito…
- Anda lá! Uma vaquinha tão linda e tão sexy como tu, não pode ficar assim…
- Oh…
(Magufas aproximou-se da vaca, rebolando os quartos traseiros para um lado e para o outro, provocadora)
- Hum… olá!...
- Olá… ai… eu não tenho jeito nenhum para isto, oh Magufas…
- Não tenhas problemas. Vais ver como é bom.
- Aiii…
(Magufas colocou-se debaixo do corpo de Rebomilda, estrategicamente. Ergueu-se em cima de duas patas, apoiando-se nas pernas traseiras da vaca, e começou a lamber, de forma suave e terna, as suas tetas. Uma após outra. Devagar, sem pressas. As pernas da vaca tremiam, umas vezes com mais intensidade, outras com menos.)
- Muuuuuu… - mugiu baixinho Rebomilda, quase a perder a compostura, com os olhos a revirarem de prazer e um fio de baba a escorrer pelas mandíbulas abaixo..
(Às tantas, as pernas de Rebomilda não aguentaram mais com o prazer tão intenso e deixou-se cair na erva, com as tetas excitadíssimas a mergulharem na erva molhada do lameiro. Respiração ofegante, língua de fora, a cauda sem forças para enxotar moscas. Magufas sorriu, a sabidona. Pacientemente, esperou que Rebomilda se recompusesse.)
- Agora, fofinha, é a tua vez de me dares prazer. – disse, piscando o olho, com o ar de general que comanda as operações.
(Magufas avançou para a cabeça de Rebomilda, ergueu-se e apoiou as patas dianteiras nos chifres, oferecendo as suas tetas. Rebomilda, possuidora de uma língua extraordinariamente comprida e áspera, não se fez rogada e tratou de pagar na mesma moeda. Em poucos minutos, Magufas estava estendida na erva, completamente exausta, consumida por um prazer universal e imenso.)
- Ai, oh Magufas… foi tão bom!
- A quem o dizes, sua maluca!
- Oh, eu não sou maluca!
- És, és… não viste o que me fizeste?
- Oh, então… foi só…
- Pois foi só…
(Entretanto, o sol desapareceu no cimo dos montes, dando lugar ao cair da noite. Magufas aconchegou-se numa espécie de regaço no corpo da vaca, ainda deitada na erva. Assim passaram a noite, naquela posição de intimidade. O dia seguinte trouxe felicidade, paixão e muito sexo. E o outro a seguir, também. E o outro e outros tantos mais. Até que Magufas achou que estava na hora de partir para outras paragens. Sabendo que a despedida seria um momento demasiado pesado, aproveitou um momento gastronómico da vaca, mergulhada na erva fresca, para se pisgar por onde havia chegado, desaparecendo ribeiro acima. Claro que Rebomilda sofreu como nunca, quando percebeu que a sua companheira de sexo lésbico havia desaparecido para sempre. Foi um sofrimento de pouca dura, contudo. Dois dias depois, apareceu no lameiro a Ana Teresa, com um ar acanhado. Contou como tinha visto as duas a consumirem-se em prazeres carnais, dia após dia. Contou como sempre tinha nutrido um fraquinho por Rebomilda, embora nunca tivesse coragem para o assumir. Agora, era o momento. Ana Teresa e Rebomilda meteram de lado a vergonha e a timidez e assumiram a sua relação lésbica até ao fim das suas vidas. Até Rebomilda virar Bife à Caçador e Ana Teresa ser embalsamada e exibida por cima da lareira de um malvado caçador.)
(fim) pickwick
Rebomilda era uma vaca leiteira, malhada, de porte majestoso, que passava os dias a pastar num lameiro na Serra da Freita, perdido num bonito vale verdejante. O facto de apenas pastar erva saudável e natural, evitando assim uma alimentação rica em porcarias sintéticas e industriais, permitia a Rebomilda ostentar um corpo fibroso e, quiçá, elegante. O sobe e desce no lameiro, a dificuldade inerente a progredir em terreno lamacento e a água natural abundante, contribuíam para essa elegância e fibra. Era, a bem dizer, aquilo a que se podia chamar uma bela vaca. Jeitosa, portanto. Certo dia de verão, em que o calor teimava em secar tudo o que não tivesse ao fresco, chegou ao vale verdejante uma esbelta lontra, de nome Magufas, com o pêlo lustroso e olhinhos bonitos. Chegou até ali subindo o ribeiro, saltitando entre penedos, calhaus e poças. Fez uma curva à esquerda, num raquítico afluente do ribeiro, subiu um pouco, e chegou ao lameiro da Rebomilda. Que verdura! Que paz! Que beleza! Uma nascente natural lançava um fio de água pelo lameiro abaixo, até ao ribeiro. Um enorme castanheiro, de braços longos e milhares de folhas, lançava uma apetitosa sombra sobre a erva húmida. Vendo Rebomilda ao fundo do lameiro, Magufas não fez cerimónias e dirigiu-se à vaca.
- Olá! Bom dia! Eu sou a Magufas e vim pelo ribeiro acima.
- Olá! Eu sou a Rebomilda. Como é que conseguiste subir o ribeiro sozinha? És tão pequenina!
- Oh, sou pequenina, mas oriento-me bem. Enquanto houver água, eu safo-me.
Rebomilda correu o corpo humedecido da lontra, de cima a baixo. Aquele palmo e meio de bicho parecia tão confiante. E tão engraçado. Que olhos tão giros.
- Então e vives aqui? – perguntou a lontra.
- Bem, passo aqui os dias, sim. De vez em quando, o meu dono vem mexer-me nas tetas e rouba-me umas dezenas de litros de leite. Eu não gosto muito.
- É melhor eu ter cuidado com o teu dono. Não me está a apetecer muito que ele me apanhe de surpresa e me mexa nas tetas para me tirar leite.
- Quais tetas?
- As minhas!
- Também tens tetas? – Rebomilda inclinou a cabeça, tentando espreitar para a barriga da lontra.
- Claro. Sou uma gaja! Uma lontra gaja! Por isso, tenho tetas!
- Oh, mas não te preocupes, o meu dono não vai perder tempo a tentar tirar-te leite. Daria muito trabalho e renderia quase nada. Ele quando vem para tirar leite é sempre para ir carregado.
- Mas podia querer meter-se comigo, se fosse tarado ou assim. Não gosto que me apertem as tetas à bruta.
- Bem, ele é assim um bocado tarado. Às vezes, quando vem com o nariz muito vermelho, põe-se a falar comigo, a fazer-me festinhas e a chamar-me Catarina. Não é que ele seja bruto, mas eu não gosto de sentir mãos calejadas em cima do meu corpo.
- Ah, pois é, mas sabes que mãos de macho são assim mesmo. Além de grotescas, não têm sensibilidade.
- Gostava que ele fosse um pouco sensível e me apertasse as tetas com mais delicadeza.
- Claro, até porque as tuas tetas são muito bonitas e é um crime maltratá-las.
- Achas?
- O quê?
- Que as minhas tetas são bonitas.
- Ora, claro que sim, notei isso logo que te vi. As tetas e não só.
- Ai… estás a deixar-me envergonhada…
- Não vale a pena ficares envergonhada. É um facto que és uma vaca muito gira, tens um corpo muito sensual, não és gorducha nem mal feita.
- Achas mesmo?
- Claro que sim.
- Bem, tu também…
- Sim…?
- Tu também.
- Eu também o quê?
- Oh, também és uma lontra muito gira, muito elegante, com uns olhos muito giros.
- Obrigada!
- Então e vais ficar por aqui?
- Estava a pensar passar aqui uns dias, aproveitar a paisagem, descansar, dormir umas sonecas e aproveitar a tua companhia. Achas bem?
- Ai, acho muitíssimo bem. Era excelente! Isto aqui é uma seca muito grande, passar os dias sozinha, de um lado para o outro. De vez em quando aparece uma raposa, para dar dois dedos de conversa.
- Ui, uma raposa? Eu adoro raposas! São tão… tão…
- Tão o quê?
- Eh pá, tão sexy!
- Sexy?
- Sim. Muito! Aquele focinho, aquela cauda sensual. Há três semanas atrás passei uns dias com uma raposa chamada Mimi. Conheces?
- Não, aqui perto só vive uma chamada Ana Teresa.
- Essa não conheço. Bom, mas a Mimi é uma doida! Passámos o tempo todo ora na toca dela, ora num charco. Fazíamos amor de meia em meia hora. Que maluca!
(silêncio no lameiro)
- Fizeste amor com ela?
- Sim. Foi tão bom! Nunca tinha experimentado, nem com uma raposa, nem sequer com uma lontra fêmea. Mas, adorei!
- Então e…
- Então e o quê?
- E é assim tão bom?
- Nunca experimentaste com outra vaca?
(continua) pickwick
Não sei se já disse isto, mas a minha colega grávida é podre de boa. Sorte a do namorado. Faça bom proveito, pois então. Entre os mil defeitos que já lhe arranjei, há o tal de falar e rir ao mesmo tempo. É a segunda gaja que conheço pessoalmente que tem esta paranóia. Fala e ri ao mesmo tempo, em vez de rir primeiro e contar a estória depois, ou contar a estória primeiro e rir depois, como é normal em qualquer pessoa que faz questão que os outros a compreendam. Na prática, é como estar a contar uma estória com a boca cheia de malaguetas e o polegar direito entalado numa porta. Não se percebe nada. Enquanto não passam de um brinquedo engraçado – ao nosso alcance ou nem por isso -, a coisa até escapa, sorrimos com ar condescendente, fazemos de conta que a estória é mesmo engraçada, embora não saibamos o que ela está a dizer, e fica tudo bem. Mas, quando a coisa é mais séria, como numa relação laboral em que é necessário o entendimento mútuo para que tudo corra bem, ou numa relação amorosa em que não convém dizer coisas que não se percebem e que podem ser confundidas com declarações perigosas, as gajas que sofrem deste mal podiam fazer um esforço. Sei lá, fazerem estas cenas apenas quando estão a falar com o gato persa, ou quando estão no MSN a contar às amigas aquelas coisas importantes da vida que não têm importância nenhuma. No caso de ser a namorada, é meio caminho andado para passarmos vergonhas
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.