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Ontem, que por acaso foi Domingo, fui até à capital do meu distrito fazer uma palestra sobre várias coisas, entre as quais a Guerra Anglo-Boer na transição entre os séculos XIX e XX. Como se eu percebesse alguma coisa do assunto! Enfim, o povo contenta-se com pouco e quaisquer blasfémias projectadas pelos ares são recebidas com júbilo e cânticos de aclamação. A caminho da cidade, a cerca de vinte quilómetros da minha aldeia, concretamente na travessia de um rio que dá nome a uma famosa zona demarcada de vinhos, vi-a. Top branco e justo, saia preta esvoaçando graciosamente, botas de cabedal preto de cano alto, joelho ora à vista ora escondido, caminhar decidido e ritmado como se estivesse numa qualquer passerelle, cabelo solto pelas omoplatas, e uns óculos enormes para proteger os olhos do sol ou o sol das olheiras. Vi-a de costas, atravessando a ponte. Coisa bonita de se ver, confesso. Completamente deslocada geograficamente. Que faria uma raridade daquelas, num Domingo de manhã, sozinha, vistosa, a atravessar uma ponte perdida numa estrada entre montes e vales e matas? Olhei de lado e pareceu-me reconhecer uma menina-de-serventia que costuma plantar-se num cruzamento cem metros mais à frente. Nunca a tinha visto tão bem arranjadinha, tão cuidada, tão bonita, tão menina-inocente. Passei no cruzamento e lancei a vista para onde é hábito ela estar de serventia, sentada num balde de tinta vazio virado a contrário, a puxar umas fumaças. Junto ao balde, um cão rafeiro morto. Será que ela se ia plantar por lá, naquele cenário, à espera de cliente? Segui em frente e fui à palestra. Regressei já quase no fim da hora do almoço, com o estômago ainda vazio. Voltei a passar junto ao balde de tinta virado ao contrário com o cão morto a fazer-lhe companhia. Ao entrar na ponte, vi-a novamente, caminhando na minha direcção, com uma garrafa de água de litro e meio na mão, com a maior das descontracções. Realmente, estava mesmo muito apresentável. Se a memória não falha, costuma estar de serventia com umas calças de ganga rafeiras e uma camisola qualquer. Por ser Domingo, sei lá, estava toda catita, como se houvera picado o ponto na missa dominical. Sob o top branco notava-se, na perfeição, um soutien normalíssimo. Para que raio é que uma meretriz anda com um soutien? Faz sentido? Claro que não. E a que propósito é que uma graciosidade daquele calibre faz serventia num local ermo como aquele cruzamento, sujeita a toda a lixarada, poluição, canídeos mortos, ratazanas esfomeadas e clientes mal cheirosos? É um desperdício. É como atirar pérolas a porcos, digo eu. Uma mocinha daquelas devia trabalhar num bordel decente, com ar condicionado, banhos quentes, campainha na recepção, chão encerado e copos de água nas mesinhas de cabeceira para clientes com dentaduras postiças. E doze mudas de cuecas por dia! Condições de trabalho, portanto. Fiz uma pequena pesquisa na Internet e encontrei a foto de uma mulher que em muito se parece com a figura da menina-de-serventia
Excepcionalmente, decidi publicar um texto que uma das leitoras deste blog (e nossa fã) me enviou, num momento de óbvio desabafo. Trata-se de uma questão pertinente, delicada, sensível, que merece uma reflexão cuidada e profunda. É um tema actual, pelos contornos sofisticados, mas, também, milenar, dada a natureza do serviço sobre o qual se debruça o texto e a sua autora. Tem a palavra:
"E porque é que eu iria pagar se o posso ter sem pagar?
Ora aqui está uma questão que se poderia colocar a propósito de vários tipos de mercadoria, como por exemplo as couves ou os nabos ali da horta. Mas não. Trata-se de um outro tipo de mercadoria. Ou de negócio. Ou nem sei…
Há uns tempos, num daqueles momentos raros de muita paciência e curiosidade, vagueava eu num certo canal da net, Mirc para ser mais rigorosa, quando fui abordada no “private” (para quem não sabe, é a possibilidade de dialogar com apenas uma pessoa de cada vez) por uma “Lolita” que queria conversa, tal como acontece quase todas as vezes que me ligo naquele canal… Enfim, são sempre as mesmas questões, independentemente do inquiridor: nome, idade, localidade, se tem namorado… Não há paciência! Já questionei se andariam a preencher questionários para alguma entidade, assim tipo Casa do Povo ou similar, mas parece que é mesmo falta de originalidade e de inteligência para iniciar novos conhecimentos e amizades, ainda que virtuais…
Na abordagem, a “Lolita” lá me convenceu a dar-lhe o meu contacto do MSN… E, espanto dos espantos, depois de autorizar a sua adição nos meus contactos, lá recebi uma fotografia. Bem… fiquei sem palavras… Era de alguém em lingeri numa posição passível de ser considerada “provocante”! E porque haveria eu de receber uma fotografia daquelas? Justo eu, que nunca peço fotos a ninguém! Lolita, ou melhor, o Carlos, lá continuou a conversa, explicando que tinha colocado implantes nos seios, que era “acompanhante” e que recebia no seu apartamento… Enfim!!! No meio de “incentivos”, que certamente fazem parte do seu “ marketing”, tentou convencer-me a passar por lá… Mas porque pensaria ela, ou melhor ele, que eu estaria interessada em pagar para ter algo que posso ter e em muito melhores condições? Porque iria pagar para ter de fraca qualidade quando posso ter de luxo?
No meio da conversa, toda ela cheia de nomes “técnicos”, próprios do meio, fez questão de indicar um amigo, com uma outra “especialidade”, uma vez que o facto de ser negro lhe conferia outras “potencialidades físicas”… E em menos de nada já esse amigo me contactava a “oferecer” os seus préstimos profissionais, com envio de vídeo exemplificativo, certamente retirado de algum site porno…
Mas chega a tanto o descaramento? O que eles não sabem é o quanto detesto que me impinjam produtos, sejam eles quais forem. Quando vou a uma loja e sinto que me estão a “empurrar” alguma coisa, pois é quando perco o interesse pelo produto. E neste caso, nem que me pagassem! Livra! Safa! Haja qualidade de vida, acima de tudo!
Bluestocking"
Querida Bluestocking, não me querendo impingir, pois já fiquei a perceber que seria automaticamente remetido para a esfera do desprezo, cometo o arrojado atrevimento de a convidar para um lanchinho para, na calma de uma esplanada virada ao mar, debatermos o seu conceito de luxo, no âmbito do tema em causa. Fiquei deveras curioso. pickwick
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