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Arautos do Estendal

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Arautos do Estendal

31
Jan07

Barriguinhas Fashion

pickwick

Cristina Alves, com penteado de esfregona estragada... coitada da moça...Há pouco mais de uma semana, recebi por correio electrónico uma mensagem com este título. Pensei que se tratava de mais uma daquelas mensagens humorísticas que os amigos enviam para os amigos e para os amigos dos amigos e para os conhecidos e para os nem por isso, mas, afinal, não era nada disso. Embora eu tenha, no final, interpretado como tal. Dizia assim: “A apresentadora Cristiana Alves, apresentadora do programa da RTP "Portugal no Coração" veste ATTESA PREMAMAN, uma marca exclusiva das Barriguinhas Fashion”. E claro, trazia uma fotografia da Cristiana Alves, que não sei quem é, e muito menos conheço o suposto programa de televisão que, pelo nome, deve ser sobre o combate ao enfarte agudo do miocárdio. No final, dizia a mensagem, em letras minorcas: “O presente e-mail destina-se exclusivamente a endereços adicionados publicamente à nossa newsletter”. Adicionados publicamente?! Que conversa é essa? Mas isto agora é o da Marta? É tudo nosso? E paz e sossego? Não há? Mas que caraças, pá! Bem, pronto, deixando de lado este pormenor de ter sido incluído sem autorização numa newsletter de roupas para grávidas, há que tirar partido do infortúnio e pagar de volta a ousadia. Primeiro passo: mas quem é esta gaja chamada Cristiana Alves, com um penteado de esfregona estragada a encimar um amontoado de ossos chocalhando nas articulações? Primeira descoberta: não se chama Cristiana, mas sim Cristina! E essa, sim, está plantada no site da RTP, assim com ar de galdéria e ah e tal, olhar matreiro, tipo raposa finória. Estado civil: solteira. Esta coisa do estado civil devia ser mudado. Se esta gaja não é casada e está prenha, o estado civil não pode ser simplesmente “solteira”. Solteira é uma gaja que está disponível para emprenhar, mas ainda não o fez. Ok? Bom, deixemos a Cristina em paz. Uma gaja que é apresentadora de televisão, solteira e manequim, não pode ser boa pessoa e ponto final. Até é bonitinha, mas com este penteado estragou tudo… Esclarecida a questão da Cristina, o passo seguinte foi essa coisa da “Barriguinhas Fashion”. Em primeiro lugar, o “fashion”. Está na moda, desde há uns tempos, usar a palavra “fashion” em Portugal. Ah e tal, ‘tás muito fashion… Ui, que fashion! Estes corsários são mesmo fashion! (sim, já sei o que são corsários, fruto de alinhar em passeios a centros comerciais com gajas) Acontece que, verdade seja dita, isto não é moda nenhuma. Em 1985, se não me falha a memória, tinha uns amigos que usavam esta expressão como quem usa o “caraças”. Os amigos não eram portugueses de gema, mas eram luso-descendentes, onde na parte do “descendentes” se pode colocar “asiáticos”. O Almeida, principalmente, usava e abusava desta expressão. Era um castiço e um verdadeiro amigo, ao ponto de, pela primeira e única vez na vida, me ter convencido a sair para a rua com mousse no cabelo! Agora o pessoal é mais de gel, mas na altura a mousse é que era. Portanto, mousse no cabelo, botas de cowboy (literalmente), blusão preto, calças de ganga arregaçadas e óculos à piloto de aviões. E um grande sorriso parvo. Ah e tal, o senhor ‘tá mesmo fashion, dizia-me o Almeida, quando íamos ter com a Susana. A Susana foi uma musa que me disse na cara que não queria nada comigo porque tinha medo que eu lhe batesse. Enfim. Posto isto, agora o verdadeiro fenómeno da “Barriguinhas Fashion”. É uma loja, com site na Internet, para venda de roupa para gajas prenhas. Tipo grávidas. Que querem vestir-se fashion, presumo. Andar na moda, portanto. Fui lá espreitar e… Escandaleira! Biquinis e lingerie para gajas prenhas, com modelos verdadeiros, também prenhas, e não sei quê. Meu Deus!... Não é nada bonito de se ver, aviso já.

A gravidez é uma coisa linda da Mãe Natureza, sabemos bem disso, mas meter grávidas dentro de biquinis e lingerie, fotografá-las e espetar com as fotografias na Internet, é um bocado mórbido! Obsceno, direi mesmo! Parece um filme de terror! Não bastassem as imagens chocantes, atente-se nas descrições detalhadas e científicas dos produtos:

- “Cuecas com uma aplicação de um pequeno botão”;

- “Sedutora tanga desenhada para assentar debaixo da barriguinha”;

- “Bonitas cuecas de cintura descaída debruada na cintura e pernas”;

- “Tanga chique e elegante desenhada para assentar debaixo da barriguinha”;

- “Amorosas cuequinhas de cinta descida para assentar debaixo da barriguinha com desenho ultra moderno”;

- “Shorties com um lacinho de atar”;

Mais os “Morangos com Açúcar” e a “Floribella” e está tudo louco! pickwick

30
Jan07

Beta, é coisa de betos

pickwick
Ah, pois é! Só pode! E, quando falo em Beta, não falo de uma gaja chamada Elisabete, ou de uma gaja betinha com purpurinas (lá estou eu outra vez) a escorrerem pelas bochechas. Falo, isso sim, da nova versão do webmail do Sapo. Auto-intitula-se “Mail Beta”, mas mais valia ter nascido coxo e sem sobrancelhas. Sempre era melhor do que ser o que é. Como se depreende, estou muito chateado com esta nova versão. Irritado, para ser mais concreto. Desconfio sempre de novas versões, betas ou pimbas, azuis ou ruivas, do que quer que seja. Por norma, provêm de mentes sequiosas de mudar o que funciona bem, só para impressionar umas gajas e comer à fartura no fim-de-semana. Assim tipo método animal para garanhões com cérebro de alface. Se não for por isto, por que raio é que alguém foi inventar uma porcaria disforme de gestão de correio electrónico, que, em 2007, não tem uma opção para apagar mensagens ao molho? Era o mínimo! Um gajo recebe cinco mensagens de lixo e tem de as abrir, uma a uma, para as apagar, uma a uma. Na minha terra, isto tem um nome. Tem, tem… E, já agora, que alminha mais limitada de inteligência se lembraria de inventar uma aberração de gestão de correio electrónico, em pleno século vinte e um, que não permite seleccionar uma frase de uma mensagem, para a poder colocar algures noutro lado qualquer? Podia ficar aqui até ao verão a botar defeitos nesta versão beta, mas, francamente, não é necessário. Está tudo dito. E não se compreende. Havia uns livros, há uns anos atrás, muito interessantes, que talvez sejam os indicados para explicar este fenómeno: “O receituário de Peter”, “A Lei de Peter”, e outros que tais. Até poderia sugerir às mentes iluminadas que se lembraram destas palermices tecnológicas, uma leitura atenta destes livros, mas, parece-me, o mais provável era não perceberem a mensagem destes livros. A Mensagem! Enfim. Ficamos assim. Sujeitos a estes devaneios. Ora gaita! pickwick
24
Jan07

Mas que tédio de vida - 2

pickwick

3. Encontro de trabalho e queijo da serra

Sábado de manhã fui até à Costa Nova, essa bela localidade que qualquer dia é engolida pelo mar. Fui até lá para ajudar o amigo Zé a carregar uns pertences do seu apartamento, visto que o ia alugar a uma inquilina. Não, não vi a inquilina. Mas deve ser endinheirada, para arrotar quatrocentos e cinquenta euros pela renda de um T2. Enfim, deixei o carro em Coimbra e fui à boleia com o Zé até à mansão dele, na Marinha Grande, outra bela localidade. Mansão, note-se! A ideia era passar um fim-de-semana com ele e com mais dois outros, sendo que os quatro de nós fazem uma revista temática exclusivamente online. Não interessa qual, mas escreve-se lá muita asneira, como só poderia ser. Portanto, uma espécie de reunião de redacção adaptada para fim-de-semana. Como costume, levei um queijo amanteigado da Fornos de Algodres, que faz bem à saúde, especialmente se comido alarvemente. Aquela mansão parte-me todo, o aquecimento central, as divisões espaçosas, o terreno, sei lá. Dizia o Nuno, depois de defecar monumentalmente no Domingo de manhã: eh pá, tens chão radiante na casa-de-banho?, só apetece rebolar no chão e dormir lá uma sesta. Com os redactores vieram as esposas (bem, só metade é que tinha gaja e filhos, mas pronto), e as crianças, e as fraldas, e as choradeiras, e os “joga à bola comigo”, e as birras à mesa, e o caraças. Por falar em mesa, devo dizer que a mulher do Zé, apesar de ser uma simpatia e ter muita consideração por ela, ainda não domina a técnica de bem receber convidados das Beiras, daqueles que gostam de bifes que não cabem no prato. Ou seja, como eu. Repare-se que, na mesa, não havia aperitivos básicos, como azeitonas verdes, azeitonas pretas, azeitonas recheadas, presunto, chouriça assada, Martini, castanha de caju, cubos de queijo, rissóis, chamuças, enfim, coisas assim. Repare-se que tivemos de comer, não sei bem porquê, numa mesa de quatro pessoas, quando éramos oito pessoas! Repare-se que uma das refeições era um rolo de carne recheado, atado com fio suspeito, comprado assim num hipermercado qualquer, sendo que não reconheci nenhum dos conteúdos do recheio e o rolo, em si, dava para duas pessoas normais daquelas que habitam nas Beiras. Repare-se que outra das refeições foi bacalhau com natas, o que, para além do facto de não alimentar ninguém e ainda provocar enjoos desnecessários, continha natas não batidas, tipo leite estragado, ficando a mistela com o aspecto de um incêndio numa casa de bonecas apagado com um extintor de neve carbónica. E um gajo, ali, a morrer à fome. Ninguém se queixou. Eu também não me atrevi. Considerei que ninguém me ia compreender. Enfim. Ninguém me manda ir passar fins-de-semana assim, habilitando-me a cenas destas. A parte do trabalho também não correu bem, o pessoal estava mole, cansado, eu estava inconformadamente esfomeado, a televisão estava ligada, e pronto, já se imagina. Ainda tirámos um bocadinho, no Domingo, para ir à missa a São Pedro de Moel. Moel, ou Muel? Gaita! Bem, o senhor padre foi um espanto. Esbracejava e contava estórias. Uma delas tinha acontecido há dias atrás, já não sei onde, penso que em Leiria. O senhor padre ia a passar em frente a umas instalações da Igreja Universal do Reino de Deus e sentiu necessidade de ir partilhar a sua fé com outros adoradores de Deus. Entrou. Interpelaram-no logo à entrada, sem saberem a sua profissão: o senhor tem fé? Bem, tenho alguma, respondeu o senhor padre. Sentou-se entre a multidão, calmamente, para ouvir as sábias palavras do pastor. Este, também contava uma estória. Ah e tal, antigamente, sacrificava-se um carneiro pintado de vermelho, mas hoje já não dá para isso, o pessoal não está para passar a vida a matar carneiros, mas nós temos a solução, ah e tal, há umas notinhas avermelhadas que circulam por aí, nós vamos dar uns sobrescritos e assim vocês podem imitar o secular sacrifício a Deus. E o povo, em êxtase, agitava os envelopes no ar, ámen, ámen, ámen, grande transe colectivo, olhos revirados. Enfim. Grande missa. Por causa da insistência de um dos miúdos, fomos para o balcão de cima, em vez do piso térreo, o que trouxe a vantagem de vislumbrar, num ângulo de cima e na retaguarda, os participantes na eucaristia, nomeadamente uma mocinha que foi com a mãe, com as tradicionais calças de cintura baixa, e que passava a vida a tentar tapar o elástico das cuecas com um casaco curtinho a cada vez que se levantava. À noite, regressei a Coimbra à boleia com o António, no seu Golf novo com 170 cavalos. Eu a pensar que ia sentir a adrenalina de tanto cavalo junto, e até pensei em fazer-me ao piso para experimentar a máquina, mas, infelizmente, o gajo estava naquela situação esquisita de pena suspensa de inibição de conduzir, ou lá como se chama a quando um gajo é apanhado duas vezes no mesmo sítio em excesso de velocidade e o Estado é meiguinho e deixa-o conduzir novamente parar tentar ser apanhado ainda mais outra vez. Ora bolas! Na viagem aproveitámos para trocar impressões sobre gajas, ao que ele aproveitou para comentar: as gajas são todas o mesmo, já desisti de procurar uma com juízo, já me conformei (suspiro). Quem falou assim foi um médico de quarenta anos, solteiro e bom rapaz.

 

4. A engenheira Antónia

Entretanto, ontem, em vez de me deitar cedo, como prometera a mim mesmo, dado andar há muitos dias a dormir em pé, fiquei no MSN armado em Cupido. Ui, como se eu dominasse a técnica! O Guã lembrou-me que eu tinha ficado de contactar uma amiga minha, a Martinha (nome de código), para os meter, aos dois, em contacto. Ele, solteiro, assediado por uma gaja que tem um namorado que diz amar, mas que, ao mesmo tempo, lhe confessa ter sonhos íntimos com ele, e saudades e mais aqueles disparates todos das gajas. Ela, solteira, assediada por gajos trogloditas e mal amanhados, cujos espectros de vida variam entre um bar e um café. Mensagem para ela, olha lá, vem cá ao MSN para conheceres um amigo meu. Mensagem dele para mim, então ela vem ou não? Mensagem dela para mim, um amigo?, oi?, oi?, vou já, dá-me meia horita! Depois, uma conversa a três no MSN, ele mais tímido que um gato na jaula de um gorila, ela menos inibida mas meio encavacada. Ele, em privado, ah e tal, que digo agora?, então e agora?, estou a ir bem? E eu, pá, sabes que com esta conversa sobre banalidades não vais longe. Pois, diz ele, conversas sérias só numa conversa a dois. Como é que ele adivinhou? Entretanto, a Martinha lembrou-se de mostrar uma amiga dela com registo no “hi5”: a Antónia! Ó Deus meu! Vinte e três anos, finalista de engenharia química, solteira, sem namorado, disponível, sorriso de ninfomaníaca tímida, e chicha em boa medida. Vai a Martinha, ah e tal, estive a mostrar a tua foto à Antónia, ela quer saber se vais lá ter connosco no Carnaval. E depois ainda se queixam que não há gajas! Haver, há, mas…

 

5. Estética falhada

A Helena é uma colega minha sem papas na língua. Foi, até hoje, a única colega de trabalho a atrever-se numa pergunta mais íntima: ah e tal, vives sozinho? Ontem, cruzámo-nos. Olhou para mim com ar desconfiado. Há quanto tempo não fazes a barba?! Eh pá, para aí há uma semana, respondi-lhe eu. Pronto. Eu já tinha notado que estava um bocado grande, mas isto, dito assim por uma gaja, só pode ser uma mensagem de alerta. Esta cena da barba por fazer volta e meia não me corre lá muito bem. Há umas semanas atrás, três gajas apanharam-me numa cozinha, rodearam-me, e uma delas começou a mexer-me na barba, ah e tal, barba não sei o quê, e o caraças! Já não há respeito, é o que é. Elas andam sempre de olho numa oportunidade para comentar a forma desprezível como não levamos a peito as questões de estética capilar. Como tenho o hábito de rapar o cabelo, aqui em casa, com máquina em pente dois, só lhes resta mesmo pegar pela barba. E conseguem ser mesmo… mesmo… humpf!... enfim! Excepto a Maria, que aproveita logo para me afagar os pêlos e tal, e não se mete com comentários desajustados. Sorte a minha, que ainda há mulheres assim, como a Maria! pickwick

23
Jan07

Mas que tédio de vida - 1

pickwick

Findos estes dias todos sem debitar uma letra, chego à iluminada conclusão de que esta minha vida é um tédio. Mortal. Vou tentar descrever o dia-a-dia aborrecido que me tem preenchido ultimamente.

 

1. Pela boca se apanha o peixe

Na quarta-feira passada, dois amigos convidaram-me para jantar. Um era de longe e veio visitar o que era de perto. Fomos a um restaurante que, do lado de fora, parecia uma espelunca para velhotes que se ensopam em tinto e bagaço antes das dez da manhã. Por dentro, era um muito típico restaurante, todo forrado a lascas de madeira, com as paredes cobertas de fotografias de personalidades da vida pública que já lá tinha tomado uma refeição e posado para a câmara na companhia do dono. Eusébio, e mais uma série deles que o Alzheimer não me deixa recordar. Comemos carne, pois então, e um dos dois amigos fez questão de pagar o jantar, até porque estávamos na cidade dele. Findo o manjar, e assim que mulheres e crianças se puseram ao fresco, passaram ao ataque. Ah e tal, vamos fazer uma lista para as próximas eleições para a direcção da AAE (AAE é o nome de código de uma associação), com quatro pessoas, queremos que sejas uma delas, porque és mesmo aquilo que precisamos, e ah e tal. Eu desmancho-me em desculpas, porque já estou metido em tanta coisa que nem tenho tempo para dar conveniente uso a todos os meus órgãos (disse por outras palavras, mas a ideia era esta), e isso vai dar muito trabalho, e depois não consigo tocar os burros todos, e ah e tal. Eu já desconfiava que ia ser entalado, mas tinha esperanças de escapar com o rol de desculpas que estou acostumado a desfiar. Para mais, já sou presidente de outra associação (não, não é da AAOGB, Associação de Apreciadores e Observadores de Gajas Boas, mas não é muito melhor), e um gajo tem mais que fazer do que andar a coleccionar posições em que não faz mais nada do que ser o preto para todo serviço. Ah e tal, diziam eles, ficavas com o pelouro da Comunicação e Imagem. Pensava eu para mim: comunicar com gajas é fácil, é só acenar o bijutarias e é tê-las a ronronar aos pés; imagem é bem, elas ficam bem de mini-saia, não demasiado ordinárias, e tal. Como não estavam a ter muito sucesso com a abordagem, levantámos arraias e mudámo-nos para a luxuosa casa de um deles, nomeadamente para a cave, com bar, sofás, aquecimento, etc. Estratégia seguinte: impingir-me digestivos e contarem-me anedotas até eu não aguentar mais e dizer que sim à proposta deles. Bem, muitas anedotas! E eu que nunca os tinha visto naqueles preparos, dois homens de família, um deles já com sessenta anos, empresários, a matarem-se à gargalhada com anedotas sobre gajos que não têm bigode e metem-se com uma gaja e vêm de lá com bigode, sobre leões, eu sei lá. Aliás, foi um excesso de anedotas sobre leões. Um abuso! Até uma sobre um dia na selva em que os animais decidiram juntar-se e fazer uma orgia inter-racial, diversificada, tendo corrido muito mal ao macaco que ficou com a girafa, a qual lhe exigia beijinhos alternados nas entre-nádegas e nos beiços. Foi até quase às duas da madrugada, nisto. Ah e tal, e tu não contas nenhuma?, perguntavam eles, a chorarem de tanto rir. Eu não, dizia eu, nos últimos anos não tenho convivido com ninguém que contasse anedotas. Mantive-me firme e hirto, partilhando as gargalhadas, mas mantendo a postura. Sou um gajo sério, como é sabido. Por fim, cansados, deixaram-me ir embora, com a promessa de me ligarem depois do fim-de-semana, em jeito de ultimado.

 

2. Fui enganado com o peixe assado

Na sexta-feira, como combinado, às 21h00 estava plantado à porta do restaurante “O Telheiro”, em Coimbra, para um jantar de trabalho com dois amigos. Outros. O Miguel e o António. A ideia foi do António, que é de Coimbra, e que tinha já a mesa marcada. Para nossa surpresa, o jantar não era a três, como combinado, mas era a sete, sendo que os outros quatro eram perfeitos desconhecidos para mim e para o Miguel. Enquanto esperávamos na rua que a nossa mesa ficasse vazia, chegou um desses quatro e começou a oferecer espalhafatosamente pacotes de preservativos, já com ar de quem vinha com mais de 0,5 no sangue, bigode farfalhudo, em mangas de camisa, com uma barriga do tamanho das Berlengas. Era o sinal claro de que ia ser um jantar mesmo de trabalho. Já à mesa, descobrimos que o prato estava escolhido previamente. Por um lado, foi bom, porque, depois de sentar, veio para a mesa em menos de cinco minutos. Por outro lado, aqueles anormais pediram peixe assado, em vez de pedirem carne suculenta, como toda a gente honesta que vai ao restaurante! Sacanas de um raio! Até me saltaram as tampas dos olhos com tamanha afronta! Um tabuleiro de alumínio do tamanho do Terreiro do Paço, com um peixe enorme, coitado, esquartejado, assado, rodeado por meia dúzia de batatas. E eu, que tinha feito a viagem toda a lamber os beiços com a imagem de um bom bife de novilho ou uns abundantes nacos de carne. É como levar uma facada nas costas, se é que me faço entender. A única coisa que se aproveitou foram as sobremesas, que vieram umas cinco ou seis diferentes, e das quais me fartei de comer. Não houve ambiente sereno para conversar, para reunir, para tomar decisões, para escrever. Enfim, foi uma tanga! O restaurante está sempre cheio de gente, mas mesmo, mesmo, mesmo cheio, sempre com dezenas de pessoas à espera de mesa, espalhadas pelo espaço minúsculo que sobra, ou pelas escadas, e não se percebe para quê tanta parvoíce junta. É, afinal, um restaurantezeco um bocado para o rasca, a bem dizer, em todos os sentidos, mas isto é como na televisão e na vida: o povo não procura qualidade, antes prefere uma parvoíce qualquer a que se agarrar. E as gentes de Coimbra agarram-se ao “Telheiro”. Eu sempre achei o pessoal de Coimbra assim um bocado limitado, mas agora tenho a certeza. Chiça! Além do mais, e para que conste, as clientes deste restaurante deixam muito a desejar! Nem deu para encher o olho. E a minha cabeça parecia um periscópio bem lubrificado num qualquer submarino em plena Segunda Guerra Mundial. O que vale é que, bem depois, e já com a conversa toda em dia, fui até Aveiro, fazer uma visitinha a um amigalhaço, assar uma chouriça, beber umas coisas saudáveis e ver um filme da Pantera Cor-de-rosa até às cinco da manhã. Como diria o poeta: a chouriça assada e as bejecas salvaram a noite e mataram a fome! pickwick

15
Jan07

Crítica cinéfila

pickwick

Ora bem, vou estrear-me nesta arte por si só que é a crítica cinéfila. Ou seja, vou ao cinema, faço de conta que sou um gajo importante e que existem pessoas que lêem o que eu escrevo antes de irem elas mesmas ao cinema, e ganho o meu sustento assim. Deviam ser espancados, esses gajos! Nem é vida! Bom, fui ao cinema no sábado, sessão da meia-noite e vinte, ver um filme do Mel Gibson chamado “Apocalypto”. Esta é uma obra que se pode chamar um quatro-em-um. Gay, pornográfico, índios e cobóis, e romance. Eu explico. O filme começa com uma cena gay. Muito larilas. Um bando de gajos seminus corre pela selva amazónica atrás de um javali. Montam uma armadilha e matam o animal, coitado. Depois, um seminus come um dos testículos do javali, que lhe rebenta dentro das beiças, esguichando um líquido branco suspeito, ficando para ali a babar-se. Riem-se todos e pronto. Homem que é homem, não anda pela selva amazónia a trincar testículos de animais, ok? Depois, passamos a ter uma cena pornográfica. Os gajos deixam de ser todos larilas e viram machos amazónicos, com mulheres e filhos, à excepção de um matulão com 1,90m de altura, que ainda não conseguiu emprenhar a mulher. O ex-larilas mais velho, num momento mais íntimo, empresta-lhe umas folhas cor-da-embalagem-de-mon-cheri para ele esfregar nas partes baixas e assim fazer logo dez filhos. No acampamento, a desdentada da sogra, depois de insultar o matulão por este não emprenhar a sua filha querida, cola-se na porta da cabana do casal, não desgrudando enquanto o desgraçado não saltar para cima da mulher. Ele salta, ui que é bom, gemem os dois e saem disparados cabana para fora, ela aos saltinhos e ele… Bem, ele atira-se de nádegas para cima do bebedouro comunitário, mergulhando as partes baixas no líquido e, assim, afogando o ardor insuportável. Isto tudo, claro, perante uma tribo que se rebola no chão, todos perdidos de riso. Enfim, esta gente do cinema não consegue fazer um filme sem sexo. Ordinários! De seguida, após a cena gay e a cena pornográfica, começa a extensa parte do filme dedicada aos índios e cobóis. Porrada, corridas, sangue, mortos, feridos, setas, decapitações, prisioneiros, etc. Só faltaram as esporas e os tiros. Até dançarinas houve! Um bocado nojentas, é verdade, mas pronto. Por fim, depois da cena gay, da cena pornográfica e da cena dos índios e cóbois, chegámos à cena de romance. Romance, tipo filme de amor. O herói, que já tinha levado com uma seta no fígado e outra no coração, corre três dias sem comer nem beber nem dormir nem urinar nem defecar, escapando milagrosamente ao inimigo, chegando, por fim, ao pé da sua mulher, que se encontra dentro de um poço cheio de água, com um filhote de cinco anos num braço e um bebé no outro. O bebé tinha sido parido há minutos, debaixo de água, e ainda estava ligado à senhora pelo cordão umbilical. O gajo safou-a do afogamento, mais aos putos, partiram dali e foram começar a vida para longe. Lindo, lindo, lindo. Adoro estas cenas românticas. Depois desembarcaram os espanhóis e tal, mas isso é outra estória. Mel, ganda filme, carago! Estiveste mesmo bem! Escusavas era de ter metido aquela cena do gajo a trincar um testículo de javali e a rebentar-lhe a coisa toda na boca. Que nojo! pickwick

14
Jan07

One night in Aveiro

pickwick

Ora bem, situemo-nos. Sábado de manhã, Alfa Pendular rumo a Lisboa. Duas cadeiras atrás e do lado oposto, uma moçoila de vinte e poucos anos, cabelo preto escuro, sentada de esguelha, dossier no regaço, casado aberto por cima de um top preto muito descaído à frente. Linda. Sexy! Suspiro. Já em Lisboa, a chegar à estação de Santa Apolónia, coloco-me estrategicamente dois palmos atrás dela, mesmo à porta da carruagem. Olho de soslaio. Quilos de rímel pesam-lhe nas pestanas com vinte centímetros de comprimento. Vá, vinte centímetros também não, mas aí uns dois, valia. Mais uma mulher completamente estragada pela maquilhagem. Enfim. Na gare, e para descomprimir, reparo nas mulheres que desceram do mesmo comboio. Uma delas, dois metros à frente, leva uns sapatos com uns saltos altos, daqueles assim altos. Algo vai mal com um deles, que a cada pisadela tomba todo de lado, obrigando a dona a gingar-se num movimento pouco elegante. Mas estas gajas não têm vergonha de saírem para a rua assim com sapatos destes, correndo o risco de fazerem figuras tristes destas? Francamente. Bom, passou o dia, voltei a apanhar outro Alfa Pendular, já sem gajas com decotes, e desembarquei em Coimbra, já noite. Meti-me no bólide e, como combinado de véspera, abalei até Aveiro para jantar. Espetada mista, para quem interessar saber. Nando, para a próxima, é tinto ou cerveja, está bem? Aquela porcaria cor-de-rosa sabia a detergente para o bidé, não tinha gás e estava à temperatura ambiente. Depois, e por uma questão de tradição, uma tripa com ovos moles para sobremesa. Entretanto, Aveiro vivia a folia desgarrada da Festa de São Gonçalinho. A quem não sabe, passo a descrever, em traços gerais, esta festividade. Estão a ver a capela de São Gonçalinho? Pronto, as gajas sobem lá acima com umas sacas enormes cheias de cavacas doces. As cavacas são uns doces foleiros, pintados de branco, que parecem pensos higiénicos fossilizados. Bom, lá de cima, bem de cima, que a capela é alta, onde uma varanda circunda por completo a cúpula da capela, as gajas atiram as cavacas cá para baixo. Muitas cavacas. São atiradas com suavidade e carinho, mas, por alguma razão que desconheço, de vez em quando há uma gaja que se passa e dispara umas cavacas em velocidade rapidíssima. Deve ser dos desgostos amorosos. Cá em baixo, o largo em volta da capela enche-se de gente. Uma dúzia de gajos, de todas as idades, uns com dentes e outros sem eles, erguem para os céus varas enormes, em cujas pontas amarraram sacos, tipo cesto de basquetebol. Objectivo? Pois claro, conseguir apanhar as cavacas com os sacos. Também há uns heróis que se aventuram com as mãos livres, mas só quem não levou com uma vinda lá de cima é que não sabe o quanto dói no osso. No meio disto tudo, há sempre uns caramelos a fazerem batota: em vez de sacos, ou cestos, usam um guarda-chuva todo aberto, tipo antena parabólica. Que falta de desportivismo, francamente. Na rua da capela, dezenas de bancas ocupam um lado e o outro da rua, sendo que vendem, basicamente, cavacas. Sim, um mar de cavacas a vender, chuva de cavacas pelos céus, é uma autêntica paranóia! Como se não bastasse, havia palco montado e artista convidado. Ah pois é! José Cid! Ah pois é! Era tanta gente na praça que só consegui espreitar de fugira o ecrã gigante que replicava o palco. Mas ouvia-se bem. José Cid, pois então. Percebi, após breves minutos, que o José Cid é um verdadeiro artista português. Um artista sério! E estou a falar a sério! Os cantores que andam para aí, com resmas de fãs atrás, pá, francamente, são umas fraudes. Nota-se pelas letras das canções: inventam as coisas mais disparatadas, para rimarem umas coisas com as outras, frases sem sentido, palavras inventadas na hora, parecem estórias escritas por criancinhas de sete anos. Parecem aqueles filmes franceses, armados em intelectuais e que não têm ponta por onde se pegue. É um desastre! O José Cid é que é! E está aí para as curvas. Não o vi, mas pronto, deve estar. Peruca, dentadura postiça e a abanar a cabeça como o Stevie Wonder. Mas será que só eu é que reparo nas letras pirosas que povoam as “obras” do Sardas, do Reininho mal-criado, do JPP, do Ruizinho monocórdico, do ceguinho dos abrunhos e por aí fora? É pá! Não têm jeito nenhum! Bom, provavelmente por via da idade, o espectáculo do Cid acabou pouco antes da meia-noite, pelo que, dada a debandada geral, fui-me plantar no ponto central das pontes, muito estrategicamente, a ver o mar de gente e de gajas que regressava aos seus carros, às suas casas. Muitas gajas! Novinhas, como se não tivessem pais sérios que as impedissem de andar na vadiagem com as amigas àquelas horas, ainda por cima vestidas para seduzir motoqueiros da Zundapp. Só me admirei como foi possível tanta e tanta gente trocar as fantásticas telenovelas-noite-dentro por um espectáculo do José Cid. Será que o povo começa, afinal, a perceber o que é cultura? Ou não. Quando as gajas se esgotaram, fomos ao cinema (crítica cinéfila para breve), fomos beber umas bejecas, assar uma chouriça, e ver um filme em DVD chamado “Leon, o profissional”, em que um assassino profissional com oculinhos à Barão Vermelho desmama uma fedelha a quem ainda não tinham crescido os peitos, ensinando-lhe a delicada arte de “limpar”, ou seja, abater pessoas por encomenda. Bonito! Acabou às cinco da madrugada. O sinal claro da decadência: fico com o estômago cheio até ao pêndulo das goelas, antes de conseguir sequer ficar simpaticamente alegre. Um gajo já nem consegue ir para o cinema a cambalear. Já não tem graça enfrentar, completamente sóbrio, a menina que vende os bilhetes para o cinema. Decadência! pickwick

12
Jan07

E eis que da penumbra surge...

riverfl0w
Mais um post meu. Perdoem-me os que ainda esperavam o regresso de El-Rei D. Sebastião. Para quem começou a ler este blog há menos de um mês: sou o riverfl0w, prazer. E sim, eu existo, não sou apenas um mito. Adiante. Nos últimos 11 dias tenho-me dedicado dia e noite à concepção, planeamento e implementação de um artefacto digital de índole intercomunicacional (um site - para quem quiser ser poupado ao paleio académico). E isto não me tem deixado tempo para muita coisa, quanto mais não seja pela quantidade mínima de palavras que temos de usar para descrever uma coisa tão corriqueira como é um site. Mas este não é apenas mais um site. Este foi, na realidade, desenvolvido para um grupo de senhoras muito apessoadas cuja façanha informática mais relevante será, provavelmente, localizar o Microsoft Word na barra de Iniciar em menos de quatro minutos. Mas enfim, o importante é encontrá-lo (pelo menos é o que se diz nas revistas quando se fala do ponto G). Nós, a equipa de implementação, fomos portanto obrigados a fazer com que as ditas senhoras pudessem editar qualquer conteúdo do site, sem para isso precisarem sequer de saber soletrar "Internéte". E assim foi. Basicamente aquilo tornou-se numa espécie de Arautos do Estendal, em que lhes basta escrever umas baboseiras quaisquer e carregar no botão "Enviar", para depois aparecer tudo bonitinho sem mexer uma palha que seja. Mais difícil será certamente habituarem-se a descobrir o Internet Explorer algures no menu Iniciar. Aqui está uma imagem do dito (preservando, obviamente, o anonimato):

Resumindo, essa coisinha que aí vêem privou-me de uma vida normal, ou seja: dormir até às quatro da tarde, ver o telejornal, falar no MSN com as já famosas leitoras deste blog e, claro, apreciar de esguelha um ou outro rabo de saia. Para celebrar o sucesso do projecto, decidi aproveitar o convite da Sheilinha (que também trabalhou no projecto) e de uma amiga da Sheilinha para ir a um cinema e tomar um copo ali-não-sei-onde. (Devo referir, antes que me esqueça, que a  Sheilinha e a amiga são dois rabos de saia bastante apreciáveis. Pena uma ser casada e a outra não usar saia mais vezes.) Ora bem, cinema tá quieto. Como bons portugueses que somos, chegámos 25 minutos depois da sessão começar, pelo que decidimos ficar a conversar numa das mesinhas lá-do-sítio-onde-há-cinema. Isto foi o planeado, mas na realidade o tempo do filme foi todo gasto com as três meninas (Sheilinha+amiga da Sheilinha+irmã da amiga da Sheilinha) a irem à vez à casa de banho encher a cara de pozinhos e químicos. Chegados ao sítio ali-não-sei-onde, que por acaso é mesmo ao lado lá-do-sítio-onde-há-cinema, o panorama visual parecia promissor. Cerca de uma centena de corpos à pinha, muito top sem alças e muita carinha laroca. Pior foi quando efectuei o reconhecimento do panorama auditivo: música brasileira "ah e tal samba práqui samba prálá" e uma grande maioria da população a expressar-se na versão brasileira do português. Não é que eu tenha alguma coisa contra os brasileiros. É só que sempre que eles abrem a boca, dá-me uma vontade incontrolável de explicar àquela gente toda que "cara" refere-se à zona frontal da cabeça de um indivíduo e não ao indivíduo em si, e "galera" é um tipo de navio, muito utilizado nos Descobrimentos, e não um conjunto de "caras". Pior, só mesmo na passagem de ano, onde a proporção brasileiro/português era de cinco para um. Pena ninguém se ter dado ao trabalho de explicar que à meia noite de Lisboa, a passagem de ano no Brasil só será pelo menos daí a 3 horas. riverfl0w

11
Jan07

Ó Sardas, já enjoas!

pickwick

Desde esta brincadeira de ah e tal o blog vai passar na Rádio Comercial, comecei a ser ouvinte desta estação. Dantes era da RFM. Aliás, durante muitos anos era ouvinte atento da RFM. Confesso que, a partir de determinada altura, que não posso precisar no tempo, comecei a sentir necessidade de algo mais violento. Um gajo que tem uma profissão como a minha, necessita frequentemente de bater em alguém, partir umas pernas, umas costelas, arrancar umas sequóias do chão, afundar um petroleiro, enfim. A RC veio em boa hora, por assim dizer, como uma lufada de ar fresco com um toque suave de vandalismo radiofónico. Suave, tipo ligeiro, portanto.  Tudo corria bem, ao longo dos meses, até há bem pouco tempo. Aos poucos e poucos, quase sem eu notar, apareceu um cantor português a invadir o espectro musical, pé ante pé, ligeirinho, ah e tal, foi feitiço e o que é que me deu e mais não sei o quê. Tão ligeirinho foi, que aquilo até era agradável de ouvir e convidava a um “caraóque” ao volante, IP3 acima, IP3 abaixo, monte acima, monte abaixo, ah e tal, eu gostava de ser como tu e não ter asas e poder voar e o caraças. O cantor, como dá para perceber facilmente, é o André das Sardas. Bom, às tantas, quando dei por mim, um dia destes, a RC tocava uma música do Sardas intercalada com todas as outras músicas. Ou seja: Queen, Sardas, The Gift, Sardas, Craig David, Sardas, e por aí fora. Como se não bastasse, apareceu um dos locutores, que até é um bom locutor, com uma conversa muito lamechas que ah e tal ele é que tinha lançado a carreira do Sardas, e blá blá blá, e que o Sardas ia fazer uma festa de anos num pavilhão qualquer com duas mil pessoas. Aí, percebi tudo. Ao longo dos meses, devagarinho e com vaselina, tinham-me feito uma cópula anal radiofonicamente. O Sardas, afinal, é um cantor pimba! Convicto! Um gajo normal não faz uma festa de ano com duas mil pessoas! Ainda por cima, uma gajo que canta. Portanto, só pode ser pimba! Muito pimba! Ora bolas! Pronto, a partir daí, cada vez que metem uma música do rapaz, é mudar de estação não se fala mais nisso. Enjoa! Pura e simplesmente! Como diz o ditado, tudo o que é demais enjoa! Enfim. Imagino, já agora, aquelas miúdas perdidas de tolice, a babarem-se em ranhetas misturadas com purpurinas, trajadas com cuecas de fio dental e outras obscenidades têxteis, a guincharem ó Sardas, ó Sardas e tal. É uma coisa que me mete confusão, essa coisa de idolatrar alguém até à idiotice. Está bem que, quando era puto, uma vez espetei com um poster da Kylie Minogue na parede do quarto, mas isso deveu-se apenas a uns meros e insignificantes instintos carnais, despertados pelo vestuário encolhidíssimo da artista, combinado com umas linhas onduladas e perfeitas, como que a chamarem por mim: trinca-me! Trinca-me! Pronto, só isso. Se ela passasse lá na rua, naquele tempo, provavelmente iria ao portão gritar-lhe um “ó boa”, e já a moça ia com sorte. Bem, “ó boa”, não sei, será que nessa altura já sabia largar assim uns chavões brejeiros pingados de cimento e areia? Não sei. Uma cantora não passa de uma gaja que não dá valor à privacidade, à discrição, nem à compostura. E, por falar em purpurinas, a propósito das tolinhas que se babam em concertos, então não é que a Paula esta semana apareceu com as pálpebras encharcadas em purpurinas?! Bom, ainda não sei ao certo o que são as purpurinas, ao fim destes meses todos, mas faz de conta que são umas coisas brilhantes, tipo pó cósmico, que as gajas metem nas pálpebras para ofuscarem os incautos. Certo é que fica mal a uma quarentona, mãe de filhos, profissionalmente responsável e competente, andar com coisas daquelas nas pálpebras. Para mais, a cor do pó brilhante condizia exactamente – em termos de reflexo luminoso – com a cor da armação dos óculos. Seria de propósito? Só podia! Paula, diz-me que não andas a ouvir o Sardas na RC e a conspurcar a mente com a Floribella. Diz-me! Por favor! É que não vejo outra explicação para essa maquilhagem amorangada. Não compreendo o que te deu! (agora já pareço o Sardas a gemer…) Até ficaste gira e até parecias uma teenager, mas esse desfasamento de mais de duas décadas borra a pintura toda nessa tela de sensualidade. pickwick

05
Jan07

O mundo está perdido…

pickwick

Conversa havida no MSN, numa quinta-feira, por volta das 21h30, com a Armanda (nome de código). A Armanda, para quem não sabe, é uma menina de treze aninhos, muito fofinha e muito querida. Foi assim:

 

Armanda diz:

ola

Mr. Pickwick diz:

bom dia

Armanda diz:

ainda tas acordado, ja nao sao horas?

Mr. Pickwick diz:

(sorriso)

Armanda diz:

bom dia?

Mr. Pickwick diz:

já devia estar na cama, por acaso...

Mr. Pickwick diz:

e de pijama... ! 

Armanda diz:

pois claru

Armanda diz:

ate pk os patinhus dao as 20:30h

Mr. Pickwick diz:

agora não é a floribella?

Mr. Pickwick diz:

os patinhos já não devem ser do teu tempo

Armanda diz:

sao

Armanda diz:

e por acaso eu vou ver a floribella

Armanda diz:

lol

Mr. Pickwick diz:

que nojo

Armanda diz:

nao gostas?

Mr. Pickwick diz:

blerk 

Armanda diz:

tao k gostas assim destes programas

Mr. Pickwick diz:

sabes, não tenho tv em casa...

Armanda diz:

aa

Armanda diz:

mas nao ves nada?

Mr. Pickwick diz:

bem, sem tv, é difícil ver, não achas?

Armanda diz:

pois mas sei la ate podias ver

Armanda diz:

sei la

Mr. Pickwick diz:

pois

Mr. Pickwick diz:

podia espreitar pela janela do vizinho da frente...

Armanda diz:

por exemplo

Armanda diz:

o num cafe sei la

Mr. Pickwick diz:

não vou a cafés...

Armanda diz:

possa exkecitu!

Armanda diz:

olha agora vou ver a minha doxe d novelas Floribella Doce fugitiva Tempo d Viver e s der ainda vejo o tu e eu

Armanda diz:

agora axo k vou andando

Armanda diz:

olol

Armanda diz:

xauzinh

Mr. Pickwick diz:

que idade tens mesmo?

Armanda diz:

13

Mr. Pickwick diz:

ok

Mr. Pickwick diz:

bonita idade

Armanda diz:

xau agora vem a minha irma e nada d dixer mal d mim

Mr. Pickwick diz:

claro que não

Armanda diz:

pois e

Armanda diz:

pois axo bem

Armanda diz:

xau

Mr. Pickwick diz:

digo só um bocadinho, posso?

 

Do fundo da minha santa ignorância, depreendo que “Floribella”, “Doce Fugitiva”, “Tempo de Viver” e “Tu e Eu”, sejam telenovelas. Vistas por uma miúda de treze anos, na véspera de um dia de aulas. A partir das 21h30! Depois queixam-se que ah e tal, o país isto e aquilo… pickwick

04
Jan07

Ah e tal e um bom ano e muitos beijinhos

pickwick

Ainda se anda nisto, é verdade. Já vamos no dia 4 de Janeiro, ou seja, já vamos quase a meio do ano, e ainda há pessoas a circularem por aí com essa conversa de chacha, do ah e tal, um bom ano! Ó caraças! Já chega, não? Bem, a parte agradável (dentro dos possíveis e condicionada às situações) é que as gajas querem todas distribuir beijinhos de bom ano. Entre ontem e hoje já devo ter recebido à força uns vinte e tal beijinhos de bom ano. Eu não curto nada estas cenas. Bom ano porquê? Beijinho porquê? Anda tudo carente e com falta de bochechas onde alapar os beiços? Eh pá! Já chega! Bem, hoje devem ter sido as últimas. A Fernanda, uma loira provavelmente falsa, ainda hesitou em encher-me as bochechas com batom foleiro, depois de já o ter feito às restantes vinte pessoas que se encontravam na sala. Parou à minha frente, ah e tal, olhou em volta como que a pedir socorro, ah e tal, também vou ter que o beijar a si, desculpou-se. Eu, nos meus tempos de glória e arrojo, responder-lhe-ia adequadamente com um “não sei se vai”, mas, a idade enfraquece um gajo, e apenas consegui exibir um patético sorriso de consentimento. Não é que a Fernanda seja feiosa, coitada, até não teve muito azar com a carroçaria que lhe montaram em cima dos ossos. Mas, eu não curto mesmo é essa cena dos beijinhos de gajas. Ou é beijo a sério, ou então mais vale ficar quieto. A Fernanda volta e meia interpela-me num qualquer corredor escuro ou num lanço de escadas, pega-me no braço e vem com aquelas conversas de ah e tal, o colega não fala connosco, não gosta de nós? Enfim, gajas! Por falar em bom ano, a Maria, essa obra de arte atropelada na cabeça por um elefante em fúria, mandou-me uma SMS para desejar bom ano, que dizia assim: “e no fim do ano, quando tivermos 365 preservativos, queimamo-los todos, fazemos um pneu e escrevemos nele: this was a GOODYEAR”. Maria, olha, não estiveste mal, mas achas mesmo que alguém costuma guardar 365 preservativos ao longo de um ano inteiro? Não é que não usem tantos, mas, vê lá bem, não achas que ao fim de um mês começaria a largar um cheiro insuportável a geleia podre? Há, contudo, que reconhecer que é bem melhor receber uma mensagem destas do que uma daquelas que ah e tal vamos todos ser muito felizes e temos todos muitos desejos e não sei o quê. E, por falar em desejo… veio-me à memória, assim de repente, mais uma das conversas tidas pelas gajas que foram festejar a passagem de ano comigo. O tema era o libido. E perguntou logo o Miguel, com ar de malandro: o que é isso? Pronto. Muito as gajas gostam de falar do libido. Nós, gajos, ainda tentámos remediar a situação assim que a coisa começou a descambar, com teorias sobre libido gastronómico e outros libidos menos ordinários que os que povoavam aquelas mentes femininas tão perversas, mas a coisa só acabou quando elas esgotaram a imaginação. Ou melhor, quando se recolheram nos seus pensamentos, por certo embrulhadas no mesmo tema. Enfim. O libido, portanto. Voltando ao bom ano e aos beijinhos, este foi o primeiro ano em que houve tanta troca de beijinhos em ambiente de trabalho. E não estou a falar do Windows! O que terá acontecido. Há pessoal que tem mais confiança com este ou com aquela, com quem trocam beijinhos por conta de uma ocasião qualquer. Mas, ontem e hoje tem sido demais! Não havia necessidade de tanto espalhafato, tanta ternura e tantos gafanhotos! Bastava um “olá, bom dia e bom ano”, como costumo fazer. Ou só um “olá, bom dia”. Beijinhos?! Mas que seca! Não é que queira ser anti-social, como algumas pessoas querem fazer-me crer, mas, em ambiente de trabalho, é fundamental não esticar a travessa aos demais, não dar mais que a ponta do dedo mindinho e não deixar meter a mãozinha na perna. Respeito, distância e ar de funeral são os três pilares fundamentais para qualquer bom ambiente de trabalho. E nada de beijinhos por “dá cá aquela palha”. Beijinhos, só se for numa qualquer arrecadação escura à porta fechada. Tenho dito! pickwick

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