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Arautos do Estendal

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Arautos do Estendal

19
Jun06

Vestido de chimpanzé

riverfl0w
O fim-de-semana passado foi mesmo em cheio. Para além de ter acordado com um corpo nu ao fim da sesta de sábado e de ter enchido a fronha da minha patroa com dardos lançados a meias com uma amiga, também fui às compras com outra amiga e ainda fui almoçar a um restaurante altamente romântico, numa cave e uma ementa de picanha deliciosa, com outra amiga. Ou seja, 4 mulheres num único fim-de-semana. É o que se chama ter bom proveito. Bom, mas não posso deixar passar em branco essa bela actividade que é ir comprar roupa. Especialmente roupa para ir a um casamento. De outra pessoa que não eu, está claro. Cada vez que passo em frente de uma loja de mariquices para casamentos, não consigo evitar uma careta de enjoo e um abanão de cabeça. Nem sei bem que palavras serão melhor empregues, mas é uma coisa que me fascina pela negativa. A minha prima vai desembolsar a módica quantia de cerca de 300 contos para pagar um vestido piroso. Tem de ser piroso! Só pode. As noivas ficam sempre pirosas, e quanto mais querem parecer bonitas, mais monstruosas ficam. Acho que, em todos os casamentos que já fui, fiquei sempre a comentar para comigo mesmo: “poxa… a miúda até não era feia… mas agora assim…” Se, por um lado, empastam-se com quilos de maquilhagem foleira, ficando com aquele ar de nativas de África que põem uma camada de bosta de búfalo no rosto para tratar a pele, por outro lado, vestem-se com as vestimentas mais abobalhadas que algum criador embriagado inventou, com uns folhos e umas rendas e umas pirosices indescritíveis a rojar pelo chão. É mesmo piroso, a sério. Parecem ursas num circo falhado de aldeia. Ao menos os noivos safam-se com mais facilidade, envergando um fato e mais nada. Claro que há os que gostam de fazer parceria com a ursa da noiva, e compram uns fatos todos artilhados, com folhos maricas a sair das mangas e outros adereços de que não há memória. Enfim, é tudo muito foleiro. Daí que, ao ir às compras, tive que me sujeitar à oferta, dentro dos limites do reino animal. Ou seja, animal por animal, que seja um mais próximo do homem. Os ursos, como toda a gente sabe, descendem dos peixes, logo não têm nada a haver com o bicho homem. Assim, o animal mais próximo será o chimpanzé, e foi à cata disso que entrei numa loja: para comprar roupa que me deixasse com ar de chimpanzé. Se no capítulo das calças a coisa correu bem, já na parte da camisa o funcionário da loja correu alguns riscos quando sugeriu uma camisa cor-de-rosa. Eu ainda fiquei atónito a olhar para uma camisa cor-de-rosa (realmente cor-de-rosa) na prateleira das camisas para homens, como se houvesse algum engano, mas o funcionário prontificou-se a garantir que se usava muito. A minha amiga compactuou com o funcionário nesta trama de convencer os homens - esses animais másculos, viris, de peito varonil e muitos pêlos a saltar pelo colarinho – de que usar camisas cor-de-rosa é fashion. Mas como é que alguma vez no mundo usar uma camisa cor-de-vomitado-de-mousse-de-morango pode ser fashion???? Bom, de entre as cores foleiras que povoavam a loja, acabei por ficar-me com uma cor-de-pérola-não-sei-de-que-porcaria-de-recife. A seguir, foi o trauma das gravatas. Eu acho as gravatas ao mesmo nível da bolinha que os palhaços usam no circo, mas enfim, aqui a situação era uma boa causa: fazer a vontade à minha mãezinha, que muito preza as gravatas e outros adereços que fazem de qualquer homem decente um autêntico urso. A ideia até era boa, as cores das gravatas é que são um escândalo. Não têm cabimento, a sério. O expositor rotativo parecia uma terrina de sopa cheia de vomitado de um banquete, uma mistura entre vómitos de bifes de novilho, bacalhau com natas e muitas sobremesas. Pensei, por várias e muitas vezes, em virar costas e sair disparado da loja, mas a minha amiga não ia achar piada e depois nunca mais ia falar comigo e pronto, sucumbi à azia de ficar com uma gravata cujas cores já não me lembra, mas que parece uma espécie de preparado de enguia para fritar. Na loja da frente, a sapataria. Posso resumir a aventura na sapataria desta forma: vim-me embora com uns sapatos por um preço aceitável, mas que, tal como a esmagadora maioria dos sapatos nas sapatarias, tem um formato horrível: um bico-de-pato-com-gripe. Os sapatos dos palhaços são do tipo bico-de-pato-inchado-depois-de-um-sopapo. Estes que comprei são bico normal, apenas com gripe. Enfim, no final, o conjunto completo é tal e qual um chimpanzé. Só me faltou comprar um bocado de corda e um pneu. pickwick

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