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Arautos do Estendal

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Arautos do Estendal

11
Abr13

A mulher de laranja

pickwick

Por obra e graça de circunstâncias imprevistas, o final do dia de ontem foi ocupado a ajudar um formador a ensinar adultos a rebolar pelo chão. Basicamente, foi isso. Eu sei que, dito assim, parece coisa diabólica, com galinhas decapitadas e coelhos esventrados e asas de morcego embebidas em chocolate rançoso. Mas, fazendo o balanço, foram duas horas e meia a ensinar adultos a rebolar no chão. É um facto.

Entre os adultos, que somavam menos de dúzia e meia, encontrava-se uma moça, aparentemente trintona, trajando fato de treino cor-de-laranja. Podia ser gorda, mal feita e muito feia. Podia. Mas depois não havia assunto. Para gáudio da intimidade do meu cérebro pecador, esta mulher de laranja era elegantíssima e de feiosa não tinha nada. Agradável à vista, especialmente quando observada pelas 12h, com as calças a ajustarem-se suavemente às nádegas – aquele tipo de bochechas sem qualquer grama de gordura. Um gajo tem de ficar muito agradado com a oportunidade.

Ora, sucede que, a determinada altura, o exercício proposto pelo formador era um agachamento da bacia, com as plantas dos pés completamente assentes no solo. Do lado de fora da área ocupada pelos formandos, eu observava-os, preparado para intervir quando fosse necessário corrigir qualquer movimento. Do lado oposto, a mulher de laranja agachava-se também. Um harmonioso ómega (letra grega) laranja desenhou-se nos meus olhos, definido pelo perfil dos quartos traseiros daquela mulher. Não havia contorno do corpo dela que escapasse, ali, às evidências. Comparado com aquela paisagem alaranjada, a menina do bodyrock.tv ainda tem muito que malhar. Não bastasse o ómega, havia um destaque pulmonar impossível de desdenhar, na medida perfeita. Houve, ali, uns lapsos de segundo em que senti as minhas pernas fraquejarem. É terrível, este efeito devastador. Um gajo quase que cai de quatro com a língua de fora, entre o pasmo e a paragem cardíaca. Sobrevivi, com esforço. Desviei o olhar e recuperei a postura.

Mais tarde, o exercício proposto passou a ser um enrolamento parcial à retaguarda. Isto é, como quem vai dar uma cambalhota à retaguarda, mas pára antes de tocar com os joelhos no chão. Obviamente, fica-se com o rabo no ar. Eu já me tinha esquecido da mulher de laranja, mas, porque o destino gosta de me lixar a vida, fui apanhado de surpresa. Ia eu descansadamente a passar entre os formandos, a ver se nenhum partia a espinha ao meio com um movimento descontrolado, quando dei de caras com as nádegas laranja em plena elevação, à distância de braço e meio. As calças completamente justas. Impossível de sobreviver a isto. Nem deu tempo para fraquejar das pernas. Caí de joelhos, logo ali. Abri a boca num esgar muito hiena. Olhos de pirilampo a faiscar. Comecei a dar palmadas no chão, primeiro devagarinho, mas aumentando aos poucos o ritmo e a força. O pessoal começou a reparar que se passava qualquer coisa comigo. Às tantas, pararam todos para olharem para mim. Estava completamente fora de controlo. Parei de dar palmadas no chão e comecei a dar palmadas nas nádegas alaranjadas, aproveitando o facto de a moça ter ficado tão atónita com o meu descontrolo que nem foi capaz de baixar as pernas e o rabo. Palmadinhas, vá. Ela reagiu de forma negativa e pouco simpática, desviando-se e soltando uns palavrões. O formador ainda chamou o meu nome, mas eu já não ouvia nada. Atirei as beiças para o ar e comecei a uivar de forma pouco afinada, assim uma espécie de mistura entre Chopin e o grunhido de um porco a ser atropelado. Completamente coiso. O Gollum parece um acólito de oito anos com laçarote de veludo, comparado com as minhas figuras. Entretanto, a mulher de laranja fugiu para os balneários, a chorar, amparada pelas duas outras mulheres do grupo. Dois formandos mais musculados, acharam que estava na hora de salvar as honras da casa e fizeram-me uma placagem brutal, empurrando-me contra a parede espelhada do ginásio. Foi cacos de espelho por todo o lado, fiz um corte na testa, e um deles espetou um naco de espelho numa nalga.

Aproveitei o momento e corri porta fora, em fuga, deixando para trás os berros reprovadores dos formandos e o ar desolado do formador, milhão de vezes arrependido de me ter convidado.

Desde então, tenho suores na cama, atormentado por aquelas nádegas alaranjadas, que atrás de mim correm para me apertarem o crânio até explodir. Quão vingativas podem ser umas nádegas femininas? Não há limite! pickwick