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Arautos do Estendal

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Ela, do alto das suas esbeltas e intrigantes pernas, veio caminhando quintal abaixo até ao estendal, dependurando a toalha onde, minutos antes, tinha limpo as últimas gotas de água. O Arauto viu, porque o Arauto estava lá. E tocou a trombeta.

Arautos do Estendal

08
Mar14

A flash of lightning…

pickwick

The word comes from French éclair 'flash of lightning', so named because it is eaten quickly (in a flash) (in Wikipédia).

 

Durante o delicioso jantar com a loirinha, sucedeu um episódio multipolar que me esquivei de relatar, tanto pela sensibilidade da questão, como pela sensibilidade da minha maquineta de batimentos cardíacos. Resumidamente, chegámos à mesa, ela tirou o casaco e eu agarrei no telemóvel para chamar o INEM por causa da imediata taquicardia… mas, a verdade é que não consegui ligar para ninguém, porque a loirinha teve a simpatia de massacrar-me violentamente com o anúncio de que tinha o fecho éclair do vestido encravado e não conseguiu desencravá-lo até cima, pelo que ficou algures… A taquicardia evaporou-se e deu lugar a uma perigosa paragem cardíaca! Por uns segundos, a minha língua descaiu-se pateticamente para fora da boca, esgueirando-se pelo lado direito das beiças entreabertas. Um gajo desligado do mundo dos vivos, ainda que por segundos, nunca consegue segurar a língua. Está comprovado.


Findos uns quantos segundos, alheado e embasbacado no mundo parolo dos semi-mortos, voltei, como que ressuscitado, mas possuído de um gravíssimo Transtorno Multipolar Simultâneo Estagnado! Quando sou possuído por um TMSE, consigo fazer parecer qualquer transtorno psiquiátrico irrecuperável com uma ida à pastelaria. Num TMSE, os Polos do transtorno acontecem todos aos mesmo tempo, mas eu não mexo uma unha. Insólito, eu sei. É um transtorno estagnado, portanto. E assim foi.

 

Polo 1
- Queres que te desencrave isso?
- Consegues?
- Claro, é um instante.
Rodeei a mesa de 2 km e acerquei-me das costas da loirinha, saltitando com a leveza de um elefante de nenúfar em nenúfar, quase me babando com a ideia de esfregar as pontas dos dedos nas costas dela. Ela manteve-se estática, como quem se auto-anestesiou com um pudim. Com jeitinho, deslizei o fecho dois centímetros para baixo. A seguir, devia puxá-lo para cima, com jeitinho, mas, algo me atraía como um buraco negro para as costas dela. Não me aguentei e puxei-lhe o fecho todo para baixo! Ela ainda guinchou que não sei o quê de badalhoco mas eu queria lá saber! Aquelas costas estavam embrulhadas num mega-corpete do século XVII, de cor violeta-claro-choque e cordame cor-de-licor-beirão!!! Quem guinchou forte e feio fui eu! No fundo das costas, uma tatuagem com a letra da canção Ó Laurindinha rematava a surpresa. Ainda passei os olhos pelos ilhós cromados e por uns pêlos estranhos que se esbatiam debaixo das barbatanas de baleia, mas não aguentei mais: atestei o copo com água, subi à cadeira e atirei-me de cabeça, afogando-me dramaticamente naquela imensidão de líquido, como escapatória para a situação tão desagradável.

 

Polo 2
- Queres que te desencrave isso?
- Não faz mal, pode ficar assim, ninguém nota.
- É um instante, conheço uma técnica porreira.
Rodeei a mesa de 2 km e acerquei-me das costas da loirinha, deslizando como que por cima de uma placa de gelo. Descalcei o sapato do pé esquerdo, rodei o tacão para a esquerda e saquei um sabonete Dove com essência de bigodes de camarão. A loirinha olhou para mim, mas, perante o meu ar de infinita sapiência, baixou os olhos para o guardanapo. Com a habilidade manual que resulta de séculos de experiência, esfreguei o sabonete no fecho éclair, para cima e para baixo, meia dúzia de vezes. Entretanto a loirinha começou a balancear a nuca, gemendo baixinho qualquer coisa. Não liguei e passei para a fase de teste do fecho. Incrível! Ficou como novo! Mais um jeitinho e, por descuido, o fecho desceu todo até baixo. A loirinha tossiu.
- Esfrega… sussurrou ela.
- Queres que te esfregue as costas com sabonete?
Grande maluca, pensei eu. Não querendo passar por desagradável, acudi ao pedido. Depois de três passagens nas omoplatas, para aquecer, molhei o sabonete no flute de champanhe com pedaços de fruta e comecei a ensaboar aqueles delicados costados. Ela gemia já com um ruído indisfarçável. A espuma da ensaboadela começava a avolumar-se, escorregando por dentro do vestido. E a loirinha passou-se! Meteu à boca uma mão-cheia de azeitonas com orégãos, mais o pires das manteigas e o guardanapo que embrulhava as fatias de pão, subiu para cima da mesa, assobiou para o fundo da sala e nisto surgiu do nada um cavalo alado branco, com malmequeres pintados nos quartos traseiros. A loirinha montou-se no cavalo (o empregado de mesa até bateu as palmas, que mulher de saia curta a montar a cavalo é sempre aquele espectáculo) e desapareceu pela janela sem partir o vidro. Até hoje, ainda não percebi como é que o vidro não partiu. Duplo, ainda por cima!

 

Polo 3
- Ó miúda! Isso são maneiras de sair para jantar?
- Errr… quer-se dizer…
- Xiu! Mais valia teres vindo de pijama!
- Hein?!
Levantei-me de rompante, amarfanhei a vela que emprestava algum romantismo ao jantar e meti-lhe a língua no pavio. A loirinha abriu a boca de espanto com o “pfffff” da chama a extinguir-se. Rodeei a mesa de 2 km e acerquei-me das costas da loirinha, de cera em punho. Com inusitada habilidade, esfreguei a cera ainda quente no fecho. Quente demais. Alguma cera derretida entranhou-se no fecho, arrefeceu, endureceu, e nem para cima nem para baixo, o raio do fecho. Corri até a uma mesa a alguns metros de distância, onde um casal de namorados se beijava apaixonadamente (a mesa deles era mais pequenina), espetei dois bufardos no moço, rasguei a blusa à rapariga (o sutiã azul-escuro com ursinhos ficava-lhe mesmo mal) e voltei em passo acelerado com uma vela acesa roubada sem que eles percebessem. A loirinha nem se mexia, tal era a atenção e incredulidade com que acompanhava o desenrolar dos acontecimentos. Com a nova chama, derreti a cera do fecho éclair, que começou a deslizar, mas a inclinação da vela acesa deixou escapar uns grossos pingos de cera quente para o fundo das costas da loirinha, que começou a uivar e a chamar-me coisas indelicadas. Veio o empregado de mesa com o balde e a esfregona, em socorro da donzela, e despejou-lhe dez litros de água perfumada com detergente aroma a bosques e framboesas. Para mim, sobrou a esfregona, que o homem entusiasmou-se e quis-me levar os dentes com ela. Nisto apareceu o moço a cuja namorada eu tinha rasgado a blusa, e, não por causa dos bufardos nas mandíbulas que de mim recebeu, mas pelo sutiã descoberto da namorada, encheu-me o corpo de pancada com uma cadeira. Entretanto, a loirinha começou também a bater-me com a toalha da mesa (enrolada, para doer mais), e ainda veio um cão ladrar à janela e a cozinheira a atirar-me com frasquinhos de especiarias. Parecia o fim do mundo. Na falta de alternativa, saí a correr, com pedaços de pano da esfregona entalados nos dentes, um braço entalado com o pescoço entre os pés de uma cadeira e a orelha cheia de orégãos. Nem cheguei a provar o tamboril.

 

Polo 4
- Ó… faxabor! – chamei eu, a ver se o empregado de mesa aparecia.
A loirinha olhava-me, enternecida, certamente pensando que eu ia pedir uma flor bem cheirosa para lhe entalar na orelha ou uma música romântica para dançarmos e abrirmos o apetite para o jantar.
- Diga.
- Tem um lápis?
- Só um momento.
Enquanto o empregado foi buscar o lápis, olhei para a loirinha com o ar mais armado-aos-cágados do mundo, braço direito apoiado nas costas da cadeira, joelho ao nível da mesa… só me faltava mesmo um palito nos dentes, óleo de fígado de bacalhau espalhado no cabelo e um tufo de pêlos negros a espreitar pelo colarinho.
- Aqui tem.
- Obrigado.
Saquei do canivete suíço escondido na peúga, puxei a lâmina e em poucos segundos tinha o lápis mais afiado que um bisturi. Ergui-me da cadeira, como se fosse bater com a testa no tecto, rodeei a mesa de 2 km e em seis passos largos meti-me atrás das costas da loirinha. Ela, paciente, aguardava. Com jeitinho, comecei a esfregar o fecho éclair com a ponta afiada do lápis. O pó de grafite que se desprendeu do lápis, começou a entranhar-se no fecho e serviu de lubrificante natura. Em poucos segundos o fecho ficou como novo.
- Tens umas costas muito bonitas.
- Obrigado!
- Deixas-me ver melhor?
- Claro que não!
- Vá lá, faço-te um desenho artístico de graça.
- A sério?!
- Claro.
- Pronto, está bem…
Já com o passaporte na mão, passei o lápis para os dentes, puxei o fecho para baixo, agarrei-me ao sutiã e desapertei-o com mestria. As costas desnudadas gritavam por uma obra-prima.
- Ai, está frio…
- Xiu! Pede umas malaguetas que isso passa-te já.
Assim que o lápis voltou aos meus dedos, surgiu um casco de cavalo. Seguiu-se o resto do cavalo, uma amazona com molas de roupa nos mamilos, um dragão a chamuscar o rabo ao cavalo, um cachorro rafeiro chamado Crespim a morder as patas ao dragão, uma rã inchada a fumar cachimbo e a declamar a letra da canção “O Rapaz da Bilha” da Cátia Palhinha, e um peru recheado com Bolas de Berlim. Inigualável. Sublime. Coiso.
- Que tal?
- Vai ao WC e vê.
Subi-lhe o fecho até cima e fiquei a vê-la circundar as mesas e as colunas a caminho da casa-de-banho. Assim que desapareceu atrás da porta, tirei a mão detrás das costas, olhei para o sutiã carmim com cachos de bananinhas e cestas de tangerinas, e sorri. Ela não tinha dado por nada. Silenciosamente, esgueirei-me para o fresco da rua, meti-me pela escuridão do mato e, consolado com a nova aquisição, fiz os 30 km que me separavam de casa e da minha sensacional colecção de sutiãs com motivos de frutas, legumes e seres vivos. pickwick

04
Mar14

Second chance date

pickwick

Comecemos pela “first chance date”, algures no início de Fevereiro, poucas horas depois de regressar de uma noite passada na Serra da Estrela dentro de uma tenda, enquanto se abatia sobre Portugal a tempestade Estefânia. Foi na mesa de um cafezinho simpático, a bebericar qualquer coisa quente, a ver fotos num computador e a dar dois dedos de conversa. A loirinha não tirou o casaco-contra-tempestades, porque estava a nevar dentro do café e a queda de um pinheiro de grandes dimensões já tinha escavacado a caixa registadora. Ainda assim, entre um piscar de olhos e meia dentada numa Bola de Berlin imaginária, consegui tirar umas quantas medidas estratégicas ao vestido meio-azul-e-coiso que se escondia debaixo do casaco. Isto é como tirar medidas à unha de um elefante: não é preciso ver o elefante todo para perceber, pela unha, que não se trata de uma minhoca.


Entretanto, o tempo antena terminou, demasiado abruptamente. A loirinha saiu a correr porta fora, eu ainda fui atrás dela, mas veio a Estefânia e levou-lhe o guarda-chuva e uma saca com pão e mais a ela e dois arbustos. Eu só tive tempo de deslizar pela rampa abaixo, entrar de cabeça no carro e zarpar dali para fora, não fosse o céu desabar de uma vez só e estragar-me os piscas do carro.


Apesar da velocidade alucinante a que se passaram os anteriores acontecimentos, forçei-me a estacar corpo e mente por uns segundos, agarrado ao volante, só para que, do fundo das entranhas, saísse um “uau!...”, algo a meio caminho entre a estupefação e as beiças caídas.


Bom, passado quase um mês, surgiu inesperadamente uma nova oportunidade para estar com a loirinha. Sem tempestades com nomes de gajas santificadas, sem sacas de pão, sem correrias. Ontem, mais propriamente.


À hora marcada, e porque não se fazem esperar princesas, plantei-me à porta do prédio dela, dentro do carro, tentando ver qualquer coisa para além do metro e meio por entre as pingas de chuva que tombavam na chaparia automóvel. Fiz-me anunciar por SMS, na falta de clarins e tambores. Ao fim de quase quarenta SMS’s com troca de referências geográficas, consegui perceber que a loirinha, afinal, estava no carro dela, poucos metros mais à frente, com os mínimos ligados quase a ofuscarem-me os binóculos. Ela podia meter um pirilampo dos bombeiros no tejadilho para me chamar a atenção e poupar SMS’s? Podia, mas depois arriscava-se a ter os gatos todos da vizinhança a miarem-lhe e a fazerem-lhe xixi nas rodas. Mais quinze SMS’s e acertámos que eu me transladava para o veículo dela, deixando o meu ao abandono e sujeito a ser vandalizado pelos cães dos vizinhos que também fazem xixi nas rodas.


Em câmara lentíssima, fechei a porta e cumprimentei-a com dois beijinhos nas bochechas, daqueles que se desejava demorarem uma eternidade, ao invés das milionésimas de segundo que a cruel realidade me permitiu. Apertei o cinto e, perante um painel de instrumentos aeronáuticos capaz de envergonhar um Airbus A350, temi pelo pior: a loirinha pressiona um dos milhares de botões iluminados, o motor dá duas bufas, saem asas muito aerodinâmicas debaixo das portas, as jantes das rodas transformam-se em hélices e saímos por aí, pelos céus afora, trespassando nuvens e serpenteando por entre flocos de neve… Felizmente, ou infelizmente, ela engatou a primeira e fomos directos para o restaurante, conforme combinado, deslizando muito conservadoramente pelas estradas de alcatrão.


A loirinha, que nos tempos livres poderia desempenhar papéis em filmes de cowboys italianos, escolheu uma mesa posicionada a jeito de sacar do seu Colt Peacemaker 45 e com três nacos de chumbo quente estragar a dentadura ao primeiro atrevido que entrasse e arreganhasse as beiças. Eu sentei-me do outro lado da mesa, quase a dois quilómetros.


Depois ela tirou o casaco e eu agarrei no telemóvel com as minhas mãos trémulas, prontinho para chamar o INEM assim que a minha imediata taquicardia passasse a perigosa fasquia dos 300 batimentos por minuto. Porque, entre o casaco e a pele, a loirinha tinha trazido um vestido coiso-e-meio-azul, justinho ao corpo, a terminar o tecido 3/4 de palmo acima do joelho. Pareceu-me reconhecer o vestido de há quase um mês atrás, mas, sinceramente, bem que o pode trazer novamente num próximo encontro, e nos seguintes, se Deus for grande e os houver, que eu só tenho a agradecer. O meu coração é que se queixa um bocadinho, mas dou-lhe meio bife de picanha crua para se acalmar e pronto.


Nisto, descubro-lhe um piercing em jeito de diamante, cravado nas goelas. Pensei logo: Ai! Ó mulher de Deus! Que foste fazer? Isso não te prende a comida a descer pelo esófago? E não cria ferrugem quando bebes água? É nestas ocasiões que o silêncio vale ouro. Antes de fazer estas perguntas idiotas, fiz uma pausa silenciosa, inspecionei melhor o assunto e percebi que, afinal, não era um piercing, mas um singelo colar com um brilhante. E safei-me de levar dois pares de estalos e ficar mal visto.


Bem, entretanto, veio o momento de escolher a ementa. Ela tinha-me confidenciado que gostava muito de comer, e que, efectivamente, comia muito, pelo que achei que nem valia a pena abrir a carta com as ementas e podia partir logo para o disparate, pedindo uma vitela inteira cortada às postas, um saco de 40 kg de batatas assadas e dois litros de natas para pincelar a carne. Mais uma vez, uns segundos de pausa silenciosa antes de abrir a boca, e safei-me de boa: ela anunciou que preferia peixinho. E pedimos arroz de tamboril com gambas.


As duas horas seguintes foram de pura tortura! Duas horas a arreganhar a toalha da mesa com as unhas, para chegar mais perto dela ou a trazê-la mais para perto de mim… sem sucesso! Duas horas a controlar um impulso insano de saltar por cima da mesa e enchê-la de beijos, equilibrando-me com um joelho dentro da terrina do arroz de tamboril e o outro em cima de um caroço de azeitona perdido. Duas horas a evitar uivar para o teto da sala, escondendo na linguagem do uivo todos os elogios àquele corpo que me estava a matar de deslumbramento. Duas horas a tentar adivinhar qual seria o aroma daquele pescoço fofinho que se erguia acima do vestido. Duas horas completamente nas nuvens. Enfim.


Depois chegou a hora, ela levou-me de volta ao meu carro de jantes lavadas do xixi dos cães com a água da chuva, a despedida com dois beijinhos-relâmpago naquelas bochechas de pele-rabo-de-bebé, e lá fui eu… a arfar… a tentar discernir se aquele jantar tinha mesmo acontecido, se a loirinha era mesmo aquela loirinha de há minutos atrás, que quase ainda sentia o gosto da pele dela nos meus lábios, se… coiso… Há dias em que um gajo fica mesmo desorientado de todo. Este, terminou assim. pickwick
 

29
Ago13

Um cheirinho à noite

pickwick

Conversa da Lulu ao telemóvel, sobre o seu impasse no encontrar da solução para a sua vida amorosa: ah e tal, eu devia era arranjar um velho rico, depois à noite, dava-lhe a cheirar umas coisas, ele adormecia, e então de manhã, antes de ele acordar, despia-o, despia-me, acordava-o, fazia um ar de extremo cansaço, e comentava que ui!, tanta acção que tivemos os dois esta noite!... pickwick

26
Ago13

Novas teorias dos incêndios

pickwick

Durante mais de quatro décadas, mantive rigidamente o hábito de dormir com o mínimo dos mínimos: a bela e fiel cueca. Porquê? Porque, se a casa, ou o prédio, ou a tenda, pegar fogo a meio da noite, um gajo está apto a sair a correr e salvar a vida com o mínimo de dignidade, sem qualquer penduricalho que possa ferir a susceptibilidade de uma bombeira menos atrevida ou de uma mirone armada em púdica. Com jeito, dar imediatamente uma entrevista para um canal de televisão, preferencialmente com uma jornalista fofinha. 


Acontece que, ao fim destes anos todos de hábito fixo, precisamente a meio do verão de 2013, o meu subconsciente deve ter terminado uma longa teorização sobre os incêndios, a saber: existe um volume anual de incêndios que não é ultrapassado, digamos que X, sendo que este volume acumula os incêndios de inverno Y (com destaque para as velhotas cujas ceroulas pegam fogo no braseiro) com os incêndios de verão Z (tipicamente o empresário M paga ao magano N, que não regula bem da cabeça ou tem muita sede, para pegar fogo ao pinhal); a relação X=Y+Z mostra, claramente, que durante o inverno não há incêndios no pinhal, porque não dá rendimento, e durante o verão não há incêndios em habitações, porque o fogo está ocupado e não tem aquela mania feminina da multitarefa (o tal mito facilmente desmascarável).


Assim que o subconsciente concluiu a defesa desta teoria a si próprio, deu indicações aos miolos para que não mais se usassem cuecas durante as noites de verão. A memória queixou-se que ah e tal, tem que se usar sempre, mas não serviu de nada. Nem cuecas, nem calções, nem fraldas, nem sequer uma mini-saia escocesa que fica sempre bem num homem maduro. Nudez completa!


Ora, acontece que, face a esta nova situação, o meu consciente começou logo a fazer o que melhor sabe fazer: atrofiar-me o juízo! Tanta nudez, para quê? Agora? Por amor de Deus, devias dormir assim mas era quando tinhas namorada, que ela ficava-te muito agradecida pela disponibilidade, podendo servir-se facilmente em qualquer altura da noite, como quem apetece um copo de leite fresco a meio da noite e o frigorífico nem tem porta e já há uma palhinha a sair do pacote! Portanto. pickwick

28
Jul13

No espírito da gazela

pickwick

Programa para um final de tarde de Julho: ir de carro até casa do Nestor (nome de código), descarregar a bicicleta, ir de bicicleta com o Nestor até casa do Pascoal (nome de código), beber umas minis que o Pascoal tinha prometido meter ao fresco, dar uma voltinha de bicicleta pelas matas ao redor da terrinha do Pascoal, regressar a casa do Pascoal, beber mais umas minis que entretanto já estariam mais geladas do que as anteriores, regressar a casa do Nestor, carregar a bicicleta no carro, e regressar de carro a minha casa. Adoro programas saudáveis para um dia de Verão!


Onde é que entrou a gazela? Entrou na parte do programa em que estávamos a regressar a casa do Pascoal para a segunda (e última) rodada de minis e não havia mais minis. Ao invés, havia vinho verde Gazela geladinho, camarão salpicado de sal grosso, queijinho, omelete, manteiga, pãozinho, batatinhas fritas exóticas, e tostas. O Nestor ria-se e abanava-se no banco e fazia de conta que não queria mais vinho verde de cada vez que o Pascoal esticava o gargalo da garrafa para a beira do copo dele. A mulher do Pascoal parecia satisfeita por haver gente de bom garfo a fazer uma visitinha. O Pascoal estava divertidíssimo e parecia que não comia tostas com manteiga desde 1984. Eu ia descobrindo, a pouco e pouco, que os planos para um jantar saudável de água com duas barrinhas de cereais tinham ido pelo ralo do esgoto abaixo.


O regresso a casa do Nestor, já com o pôr-do-sol à vista, foi feito no verdadeiro espírito da gazela. Mas só no espírito. Porque, com aquelas subidas íngremes sem escadas rolantes, a serem trepadas por corpos encharcados em vinho verde e atulhados de petiscos, não havia gazela alguma! Quando muito, uns esbeltos exemplares de Syncerus caffer! pickwick

26
Jul13

Combinação imperfeita

pickwick

Apesar de previamente ter pensado que o dia poderia ser melhor aproveitado noutras actividades, alinhei num programa de lazer relativamente simples: piscina, comer e beber. O dia inteiro. Vá, só comecei quase às 13h00, porque outros valores se levantaram e passei a manhã a tentar recuperar do óleo da véspera. E a meter o sono em dia, também.

 

Quando cheguei à beirinha da piscina, pasmo dos pasmos: a Dulce e a Fabiana estavam em fato de banho! As minhas perninhas quase que vacilaram, tão incapaz que eu estava de interiorizar a surpresa.

 

Foi um dia agradável, entre comida saudável, vinho frisante, comida menos saudável, e espumante. Muito difícil. Cinco horas de polo aquático contra uma quase invencível quadrilha de criancinhas abaixo dos treze anos. Muito doloroso.

 

Onde é que entra a parte da combinação imperfeita? É simples: falta de cintura e mamilos-schraeder. A Fabiana tinha falta de cintura e mamilos-schraeder. A colega-que-me-apalpou-o-braço tinha falta de cintura e mamilos-schraeder. E a Dulce tinha falta de cintura, embora não tenha reparado se tinha mamilos-schraeder ou mamilos-low-profile. Tenho dias em que não consigo reparar em tudo, é verdade. Seja como for, estes dois detalhes formam uma combinação imperfeita.

 

Onde é que entra a parte da imperfeição? Ora, um gajo olha para uma falta de cintura e pensa: ah e tal, tanto sofá… e umas corridinhas, não?, e onde é que eu meto as mãos para a puxar para mim?, e uma mini-saia fica pendurada onde?, e por aí fora. Por outro lado, um gajo olha para uns mamilos-schraeder e exclama: uiii… ganda maluca!, a aguinha está a espevitar-te as válvulas?, isso com uns três centímetros de adesivo resolvia-se e ficava bem melhor à vista!, e coiso e tal.

 

Portanto, se tivermos apenas seis centímetros de adesivo, temos um problema sério: três centímetros para cada mamilo resolve a parte estética mais evidente, mas falta adesivo para segurar a mini-saia que não tem ancas onde se segurar; quatro bocados de centímetro e meio fixam a mini-saia à pele em quatro pontos, evitando que caia pelas pernas abaixo e exponha as cuequinhas de cor duvidosa, mas, com aqueles mamilos-schraeder a concentrar as atenções, ninguém repara numas cuequinhas, por mais vistosas ou esburacadas que sejam. Quando há duas situações que carecem de solução e apenas conseguimos solucionar uma delas, temos o quê? Isso mesmo: uma imperfeição!

 

E o que raio são mamilos-schraeder?

O nome deriva da extraordinária semelhança entre um mamilo feminino extraordinária e permanentemente erecto, e uma válvula de ar do tipo Schraeder, como as usadas nos pneus de automóveis e bicicletas de montanha. Obviamente! pickwick

25
Jul13

A mulher da minha vida

pickwick

Cansado, depois de dois dias de trabalhos rurais sem irrigação estomacal, achei que estava na altura de me fazer à estrada e regressar ao lar-doce-lar. Tomei uma banhoca de água fria, para tirar a poeira do corpo e ganhar uma alma nova, e sentei-me na mota, com aquele suspiro de quem arranjou maneira de – desta vez – não ter que viajar com uma mochilona pesada em cima do lombo. Ao longe, o sol já havia desaparecido do horizonte. Idanha-a-Nova começava a mergulhar no alívio de uma frescura muito desejada.

 

Dada a conjuntura, achei que estava na hora de deixar que o acaso me fizesse cruzar com a mulher da minha vida. Para isso, só teria que fazer uma paragem estratégica para jantar. Algures. Nenhures. Ao acaso. O fado se encarregaria de a colocar lá. Sorridente, deslumbrante. Seria uma cliente solitária? Uma empregada de mesa a transbordar simpatia? Uma cozinheira sensual, preocupada em saber a opinião dos clientes?

 

Faltavam dez minutos para as dez da noite, quando estacionei à entrada de um restaurante na pequena povoação de Lardosa. Entrei, passei pela zona de bar, e sentei-me numa mesa, a um canto, com vista para toda a sala. Qual cowboy a posicionar-se estrategicamente para poder sair dali aos tiros depois de uma atribulada partida de poker. Havia esperança no ar.

 

Ou não. A cliente solitária, afinal, eram dois gajos de barba mal aparada, com ar de quem tinham passado o dia a virar fardos de palha. A empregada de mesa, afinal, era o dono do tasco, ao qual quase era preciso pedir por favor para me dar de comer, arrancando-o do serviço no bar e de uma amena cavaqueira com os clientes. E a cozinheira? Bom, 58 anos (medidos a olho), 85 kg (só porque sim) mal distribuídos, e uma linguagem de quem nunca passou na escola além da 2ª classe.

 

No tecto, um candeeiro de quatro lâmpadas, fabricado em 1978 (mais ano, menos ano), iluminava o espaço que mais parecia saído das memórias da criança que de vez em quando ainda habita em mim.

 

Esperança perdida, sobrava o sustento do corpo. Ah e tal, só temos entrecosto, serve? Anuí, conformado, desde que viesse rapidinho uma cervejola para tirar os ciscos da garganta. Olhei os dois clientes, que comiam com as mãos. Veio o entrecosto e pensei: ora, não há gajas, estou com pressa, vou comer com as mãos, também.

 

A cozinheira era, certamente, fã de óleo vegetal. O entrecosto pingava óleo, que escorria pelas minhas mãos e por pouco não chegava aos cotovelos. As batatas fritas, tinham mais óleo do que batata. E até a porcaria da alface estava encharcada em óleo, as folhas já a murcharem por afogamento. Foi a primeira refeição da minha vida em que tive que parar, a meio, para ir lavar as mãos e os antebraços!

 

Para finalizar, escolher a sobremesa. Ah e tal, temos “boca-doce”. É aquilo cor-de-rosa? É, sim. Venha ele! Aposto como já deviam ter essa sobremesa desde 1976. Porque, qualquer coisa mais elaborada, seria suficiente para a cozinheira dar o “tilt” e trepar pelas paredes.

 

Agoniado com os 900 ml de óleo que chocalhavam no estômago, fiz-me ao alcatrão, pela noite dentro. A frescura nocturna do Fundão deu lugar ao ar gélido da Serra da Estrela. Entre Alvoco da Serra e Loriga, a única coisa que não congelou (em final de Julho!) foi o diabólico par de tintins, sabiamente protegidos pelo depósito da gasolina.

 

Quanto à “mulher da minha vida”, outras oportunidades virão. Talvez. Qualquer dia. O mais próximo que encontrei, foi uma raposa, ágil e elegante, a trepar furtivamente um morro para escapar ao atropelamento. pickwick

22
Jul13

Os pernis desequilibristas

pickwick

Era uma manhã de sol e calor, típica de Julho. O plano era dar uma voltinha de bicicleta e/ou a pé pelas matas, antes de nos atirarmos – de garfo e faca em riste – aos petiscos no restaurante do Pedro.

 

Quando cheguei com o Nestor (nome de código) ao cruzamento, já depois de 45 minutos a pedalar pelos pinhais, ficámos pasmos: quatro mulheres, cada uma em cima da sua bicicleta. O maior espanto foi para duas delas, que eu nunca imaginaria que sabiam andar de bicicleta: a Dulce e a Fabiana (nomes de código muito codificados). Cada uma numa bicicleta, emprestadas pela colega-que-me-apalpou-o-braço, cada quadro mais enferrujado que o outro.

 

O sedentarismo, em particular o sedentarismo feminino português, é muito deprimente. Tal como o desempenho da Dulce e da Fabiana. Qualquer inclinação superior a 0,5% era suficiente para as bicicletas começarem a ziguezaguear perigosamente. Qualquer troço de terra batida mais parecia uma etapa do Paris-Dakar com beduínos esfaimados atrás de cada giesta. Aderiram à actividade com a falsa promessa de terreno plano e alcatroado, mas acabaram em trilhos irregulares e corta-matos inesperados. “Ai, que estou tão cansada” foi o queixume mais popular. A Fabiana caiu três vezes, em terreno plano e alcatroado. Safou-se na terra batida e escapou à fúria dos beduínos, graças àquela sábia estratégia militar de se apear e andar a pé.

 

Faziam-me lembrar a Cláudia, há uns anos atrás, quando a levei a fazer uma modesta caminhada pela Serra da Estrela, com passagem pela mítica Nave da Mestra. Os últimos quilómetros foram feitos em marcha extraordinariamente lenta, com intervalos intermináveis entre cada passada. Só lhe faltou cair para o chão e ficar a gemer.

 

Durante os momentos em que assumi o comando do carro-vassoura, deu para compreender as dificuldades. Rabos grandes e pesados, ausência de fibra, pernas em sintonia com os rabos e muito sofá. Tudo do melhor para causar sistemáticos desequilíbrios em cima de duas rodas. Ao que acresce a soberba dificuldade em vencer a roda pedaleira e fazer avançar o barco.


Mas, as moças podiam ser pouco ágeis em cima de duas rodas, mas mais destras quanto ao manejo de faca e garfo. Nem por isso. No final das “entradas” do almoço, já havia queixumes. Ah e tal, já não consigo comer mais nada. Eu, o Nestor e o Gaspar (nome de código), olhámos uns para os outros, com aqueles sorrisos alarves de quem se vê a passar o resto da tarde a esvaziar jarros de vinho verde gelado e a devorar a chicha que as mulheres – que dobravam o número de homens - não conseguiriam ingerir. Mesmo depois daquela manhã de rabos agitados em cima dos selins.

 

Depois de uma voltinha de bicicleta pelas redondezas, para fomentar a digestão, num trajecto muito mais sereno do que o matinal, atracámos junto à piscina da colega-que-me-apalpou-o-braço. Pela enésima vez, a Dulce e a Fabiana ficaram sentadinhas nas cadeirinhas, vestidas de todo, enquanto o resto do povo se banhava numa água pouco abaixo dos 30ºC. Eu compreendo que, nem uma nem outra, têm perfil fisionómico para fazer arreganhar as beiças a um homem, mas, também não havia necessidade de ficarem ali assim, tal e qual como quando estavam a almoçar. Até porque, convenhamos, os dois únicos homens presentes não estavam em condições intelectuais para conseguir notar a diferença entre um saco de batatas e um malmequer. Podiam ter aproveitado. pickwick

19
Jul13

A fuga

pickwick

Eu devia saber melhor. Um gajo deveria aprender com as experiências da vida. A vida ensina-nos, deixa-nos sinais, azeda-nos a sopa quando troveja, encharca-nos os rissóis com bolor quando os esquecemos num canto, incha-nos os pneus quando desequilibramos a ingestão de pastéis de nata e rojões à alentejana com o desgaste físico típico do sedentarismo, e por aí fora. Também nos faz voltar a usar fraldas quando chegamos àquela proximidade simpática das nove dezenas de anos, mas isso agora não interessa.

 

Bom, ainda assim, com tantos avisos, fui acossado pelo desespero e sucumbi novamente à tentação de conhecer uma moçoila. Não tanto às escuras como daquela vez em que… coiso… enfim… no desconcertante caso da “Blind date da Michelin”… mas, ainda assim, num estilo algo bisgarolho, tendo apenas, como únicas referências, um sorriso tímido e uma centelha de cintura. O que é a vida sem aventura? Isso mesmo…

 

Assim sendo, combina-se um jantar, antecedido de tempo e espaço para conversar e conhecer.

 

Em tempos que já lá vão, que foram muito bons, a Maria da Luz (nome de código) perguntou-me, de corpo nu meio enroscado na minha perna, por que raio eu teimava em dormir sempre de cuecas. Apesar de ela explicitamente denunciar o seu gosto pelo contacto continuado com a completa nudez masculina, eu fiz questão que lhe explicar, exactamente, porque insistia em dormir de cuecas: é simples, se aqui o prédio pegar fogo a meio da noite e eu tiver que sair a correr, estou imediatamente apto a correr pelo meio do gentio. Eu sou assim. Não gosto da sensação de poder ser apanhado desprevenido.

 

E foi com esse espírito que fui ao encontro da moçoila. Estacionei a mota ao lado do estádio, posicionada da forma mais adequada para poder sair dali que nem um foguete, caso as coisas corressem mal.

 

A cerca de seis metros dela, descobri que tinha feito asneira. Eram seis míseros metros contra os mais de cinquenta que me separavam da mota, esse meio de fuga estratégica, salvadora de incautos caçadores de sonhos e adoradores de rabos de saias. Lição a reter: quando a fuga é opção, o meio de transporte tem que ficar a menos de dois palmos.

 

Um gajo leva logo com um banho de água fria, mas a boa educação impera. Vai daí, sentam-se os dois no sossego da mesa de um bar, e a conversa desenrola-se naturalmente. Com bastante simpatia. E, confesso, com alguma intimidade. Ao ponto de ela reconhecer que parecia que nos conhecíamos há bastante tempo. Eu aproveitei para lhe tirar as medidas às mãos, à cintura, ao peito, à dentadura, aos cabelos, ao nariz, e a tudo o que se atravessasse à frente do meu olhar de… coiso.

 

Chegado o tempo, mudámo-nos para o restaurante. Muito simpático, bom ambiente. A conversa continuava animadíssima e a intimidade aumentava a olhos vistos, apesar de não haver nenhum dedo de pé algum a trepar – qual glorioso macacão à conquista do coqueiro – discretamente por uma perna acima.

 

Por fim, fiz-me à estrada para regressar à minha pacata terrinha, escapando a uma tremendamente subtil sugestão para só regressar mais tarde, depois de uns quantos copos de cerveja. Um gajo respira de alívio, quando consegue safar-se assim.

 

Pelo caminho, que sempre eram duas horas de viagem na frescura da noite, aproveitei para sintonizar as ideias:

 

1. Notável corpinho de 25 anos, apesar de 41.

2. Cara de 50, dentes de 60.

3. Cintura, check!

4. Divorciada e mãe de 4 filhos.

5. Aos 35, desencaminhou um garanhão de 17 anos, com quem casou logo e ao qual sacou 3 filhos.

6. Ninfomaníaca meio assumida, com “carta de condução” para aventuras sem limites, exceptuando cenas com pancada, sangue e animais domésticos.

7. Quando está com “o pito aos saltos” (a expressão é minha, homenageando a linguagem de tempos idos), telefona ao “ex” e resolvem rapidamente a necessidade (mútua).

8. O “ex” continua a viver na esperança de a ter de volta.

9. Segundo a própria, tem um número generoso de pretendentes e fãs assumidos.

10. Relação estranhíssima com um nadador-em-notas-de-duzentos-euros, que a toma por sua namorada, ainda que nunca tenha tido passaporte para viajar até ao doce paraíso das cuequinhas dela.

 

Quanto dei por terminada a lista, o meu punho instintivamente curvou-se e a mota ficou com jeitos de foguete. pickwick